quinta-feira, 26 de março de 2020

Questões Orientais Tsargrad Millet Fraqueza Otomana Independência Grega Imperialismo Comercial Expansão Russa para a Índia.


RUSSOS ESCOLHEM O CRISTIANISMO ORTODOXO DE CONSTANTINOPLA:

No século IX, emissários do Príncipe Vladimir da Rus foram ver qual era a verdadeira fé. Quando entraram na Igreja de Hagia Sophia, não sabiam se estavam no céu ou na terra, pois na terra não há tal esplendor; disseram ainda que a sua cerimônia era mais bela. Deus vivia ali. A religião escolhida pelo Príncipe Vladimir foi justamente aquela que era celebrada na Igreja Hagia Sophia, a cristã ortodoxa.

SONHO DOS RELIGIOSOS RUSSOS: VER CONSTANTINOPLA CAPITAL DA RÚSSIA:

Religiosos russos sonhavam com a conquista de Constantinopla, que iria se tornar a capital da Rússia - TSARGRAD. Seria a capital de um império ortodoxo que iria se estender da Sibéria à Terra Santa.

CERNE DA GUERRA DA CRIMEIA:

Proteger os cristãos ortodoxos e fazer de Constantinopla capital russa e caminho para Jerusalém.

IMPÉRIO OTOMANO:

No início do século XIX, havia 35 milhões de habitantes: 60% de muçulmanos e 10 milhões de turcos. Nos territórios europeus do Império Otomano havia uma maioria de cristãos ortodoxos.O Império Otomano era multinacional, com presença nos Balcãs (Europa), África, Aden e Golfo Pérsico. As origens do Império Otomano estão na Dinastia de Osman, no século XIV e ele extraía a sua legitimidade na expansão do islã.

TRATAMENTO DADO AOS CRISTÃOS ORTODOXOS PELO IMPÉRIO OTOMANO:

"Cobravam impostos extras dos não muçulmanos, os desprezavam como animais inferiores (rayah) e os tratavam desigualmente de muitas formas humilhantes (em Damasco, por exemplo, os cristãos eram proibidos de montar em animais de qualquer tipo). Mas permitiam que mantivessem sua religião, em geral não os perseguiam nem tentavam convertê-los, e por intermédio do sistema de segregação religiosa conhecido como MILLET, que dava poder aos líderes da Igreja em suas 'nações' ou millets distintas baseadas na fé, até mesmo permitiam aos não muçulmanos algum grau de autonomia."
(página 52)

"O sistema de millet havia sido desenvolvido como um meio de a dinastia Osman usar as elites religiosas como intermediárias nos territórios recém-conquistados. Desde que se submetessem à autoridade otomana, líderes eclesiásticos podiam exercer um controle limitado de educação, ordem pública e justiça, recolhimento de impostos, caridade e questões da Igreja, condicionados à aprovação dos funcionários muçulmanos do sultão (mesmo para questões, como, por exemplo, o conserto de um teto de igreja). Nesse sentido, o sistema de millet servia não apenas para reforçar a hierarquia étnica e religiosa de império otomano - com muçulmanos no alto e todas as outras millets (ortodoxos, gregorianos, armênios, católicos e judeus) abaixo - que estimulava o preconceito muçulmano contra cristãos e judeus; também estimulava essas minorias a expressar suas queixas e a organizar sua luta contra o governo muçulmano por intermédio de suas Igrejas nacionais, o que era uma grande fonte de instabilidade no império."
(páginas 52/53)

A maior Millet era a dos cristãos ortodoxos, com 10 milhões de membros. O Patriarca de Constantinopla era a maior autoridade desse Millet, falando pelos outros patriarcas localizados em Antioquia, Jerusalém e Alexandria.

"Em um grande leque de questões seculares ele (Patriarca de Constantinopla) era o verdadeiro governante dos 'gregos' (significando todos aqueles que seguiam o rito ortodoxo, incluindo eslavos, albaneses, moldavos e valáquios), e representava seus interesses contra muçulmanos e católicos."
(página 53)

O Patriarcado de Constantinopla era controlado por famílias de mercadores gregos. Eram os fanariotas. Os fanariotas se viam como herdeiros do Império Bizantino e sonhavam recriá-lo com ajuda russa , todavia eram hostis à influência da Igreja Russa.
Esse domínio grego nas questões ortodoxas era inaceitável para muitos eslavos que procuravam cada vez mais suas igrejas nacionais. O nacionalismo era uma força poderosa entre os cristãos dos balcãs (sérvios, montenegrinos, búlgaros, moldavos, valáquios, gregos), que se uniram com base na religião, cultura e língua comuns contra o domínio Otomano.
A primeira conquista nesse sentido surgiu com a Sérvia, que conseguiu fazer com que os Otomanos aceitaram um Principado da Sérvia, sob o comando da dinastia Obrenovic (1804-1817)

FRAQUEZA DO IMPÉRIO OTOMANO:

"A Turquia não se sustenta, está se desfazendo.", disse um príncipe Sérvio ao cônsul britânico
(página 54)

O domínio do clero muçulmano (mufti, ulema) era um obstáculo à modernização do país.

" 'Não mexa nas coisas estabelecidas, não pegue nada emprestado dos infiéis, pois a lei proíbe', era o lema da Instituição Muçulmana, que garantia que as leis do Sultão se adequassem ao Corão."
(página 54)

A tecnologia do Ocidente não entrava no Império. O comércio era feito por cristãos e judeus.

"A estagnação da economia andava de mãos juntas com a proliferação de uma burocracia corrupta."
(página 54)

O Estado Otomano vendia cargos que davam ao seu comprador o direito de cobrar impostos. Paxás e Governantes Militares governavam regiões que lhe eram atribuídas como se fossem seus feudos pessoais, arrecadando para si a maior quantidade possível de impostos.

"Desde que repassassem uma parcela do faturamento à Porta (ao Sultão) e remunerassem seus próprios financiadores, ninguém questionava ou se importava muito com a violência arbitrária que empregavam."
(página 54)

A maior parte dos impostos recaíam sobre os cristãos, que não tinham para quem recorrer.
O poder militar do Império Otomano também estava enfraquecido. Ele era tecnicamente inferior aos exércitos da Europa Ocidental.

1821, LEVANTE GREGO:

O levante grego começou de verdade na Rússia. Havia um lobby a favor da independência grega na capital russa. O levante foi liderado por Alexander Ypsilantis, oficial da cavalaria russa e era filho de um fanariota da Moldávia. Ele esperava que, conseguindo criar um levante na Moldávia e na Valáquia, iria obter o apoio automático da Rússia. Mas ele estava errado. O levante aconteceu mas não contou com o apoio russo, que estava preso pelos termos acordados na Santa Aliança, que impedia movimentos revolucionários na Europa. Ypsilantis refugia-se na Áustria. Otomanos agem com extrema severidade. Patriarca de Constantinopla é enforcado. Há represálias às populações cristãs da Moldávia e da Valáquia.
De qualquer forma, o plano de Ypsilantes funcionou, pois os gregos se levantaram no Peloponeso.
Os russos, como protetores dos cristãos ortodoxos, em razão do acordo de paz de Kuchok Kainarji, pediram moderação aos Otomanos, que não ouviram, e seguiram na repressão à rebelião. O tratado de Kuchok Kainarji estabelecia que os russos tinham o direito de intervir em assuntos relacionados aos cristãos ortodoxos que residiam no Império Otomano.

MASSACRE NA ILHA DE QUIOS - 1822. INTERVENÇÃO MILITAR RUSSA POR MOTIVO RELIGIOSO, PARA DRIBLAR AS REGRAS DA SANTA ALIANÇA:

Cristãos são massacrados pelos Otomanos. Vinte mil ilhéus enforcados e quase setenta mil deportados como escravos. O massacre vira tema até de um quadro, 'O Massacre de Quios', pintado pelo francês Eugène Delacroix. Essa sequência de violências dos Otomanos contra os cristãos ortodoxos forçava a Rússia a intervir, pois era uma questão religiosa que deveria estar acima de questões sobre a soberania otomana. 

"No Ministério de Relações Exteriores da Rússia, Kapodistrias e Sturdza defenderam a intervenção militar por justificativa religiosa. Em um ensaio dos argumentos que seriam usados em 1853 para a invasão dos principados (Moldávia e Valáquia) pela Rússia, eles justificaram que a defesa dos cristãos contra a violência muçulmana deveria superar qualquer consideração sobre a soberania do Império otomano. Apoiar revoltas, digamos, em Espanha ou Áustria, sustentaram, seria trair os princípios da Sacra Aliança, pois esses dois países eram governados por legítimos soberanos cristãos, mas nenhum poder muçulmano podia ser reconhecido como legal ou legítimo, de modo que os mesmos princípios não se aplicavam ao levante grego contra os otomanos."
(página 59)

Essa ideia, defender os cristãos contra os muçulmanos, seria também usada em 1853, véspera a Guerra da Crimeia. Mas Alexandre, o Czar da Rússia, estava vinculado demais à Santa Aliança para agir unilateralmente contra o Império Otomano. Assim, nenhuma potência apoiava os gregos. A Áustria temia que o exemplo grego se espalhasse; britânicos temiam que a Rússia, sob o pretexto de ajudar os cristãos ortodoxos, expandisse ainda mais seu poder. Os russos não queriam antagonizar os Austríacos e o czar Alexandre estava preso ao Pacto da Santa Aliança. Se essa revolução estivesse acontecendo num país cristão, com uma tentativa de derrubada de um regime monárquico, daí a intervenção seria aceitável segundo as previsões do pacto da Santa Aliança.

"Alexandre (Czar da Rússia) estava comprometido demais com o Concerto da Europa para considerar seriamente a ideia de uma intervenção russa unilateral para libertar os gregos. Ele defendia com firmeza o Sistema de Congresso criado em Viena, pelo qual as grandes potências haviam concordado em solucionar grandes crises por intermédio de negociação internacional, e tinha noção de que provavelmente haveria oposição a qualquer ação na crise grega."
(páginas 59/60)

NENHUMA POTÊNCIA SOCORRIA A GRÉCIA. MAIS DOIS ACONTECIMENTOS MUDARIAM TUDO:

Em primeiro lugar, em 1825, Sultão Otomano pede que seu vassalo no Egito, Mehmet Ali, esmagasse de vez os gregos. Mehmet Ali o fez com com atrocidade, criando ainda mais uma onda favorável aos gregos.
Em segundo lugar, Alexandre, czar da Rússia, morreu nesse mesmo ano. 

"O novo Tsar (Czar) - o homem que mais que qualquer outro foi responsável pela Guerra da Crimeia - tinha 29 anos de idade quando sucedeu seu irmão no trono russo."
(página 60)

"Nicolau I era em todos sentidos um homem militar. Desde jovem ele desenvolvera um interesse obsessivo por assuntos militares"
(página 60)

"Mais que Alexandre, Nicolau colocou a defesa da Ortodoxia no centro da política externa. Durante todo seu reinado, ele foi governado por uma convicção absoluta em sua missão divina de salvar a Europa ortodoxa das heresias ocidentais do liberalismo, do racionalismo e da revolução. Em seus últimos anos esse impulso o levou a sonhos fantásticos de uma guerra religiosa contra os turcos para libertar os cristãos balcânicos e uni-los à Rússia em um Império Ortodoxo cujos centros espirituais seriam Constantinopla e Jerusalém."
(página 61)

MEHMET ALI E O EGITO:

▶1825: Sultão Otomano convoca seu poderoso vassalo egípcio, Mehmet Ali, para esmagar de vez a revolta grega.
▶1827: Batalha de Navarino: A Força Naval conjunta de França, Grã-Bretanha e Rússia esmaga a força naval conjunta de Otomanos e Egípcios.
▶1833: Mehmet Ali volta à carga. Agora ele desafiou o poder do Sultão Otomano. Mehmet Ali queria o título hereditário no Egito e na Síria. Soldados egípcios marcham para Palestina, Sírio e Líbano. Essa expansão egípcia era resultado do renascimento religioso e da necessidade de conseguir mais terras para cultivar e exportar produtos agrícolas.
▶Otomanos pedem ajuda: Com a proximidade das forças Mehmet Ali, os Otomanos pediram ajuda aos ingleses e aos franceses. Sem sucesso. Então os Otomanos pediram ajuda aos russos, que prontamente vieram em seu socorro.
▶Franceses e Ingleses preocupados com a ajuda russa: Ao saberem da intervenção russa, ingleses e franceses mandam navios para a Turquia.
▶1833: Acordo de Paz: Egípcios abandonam a Anatólia, mas ganham a ilha de Creta  e o Hijaz. Mehmet não se torna líder hereditário do Egito, mas seu filho torna-se líder hereditário da Síria. Os russos recuaram também, mas antes conseguiram tirar outras vantagens do sultão otomano: os russos protegeriam os otomanos, e em troca os estreitos seriam fechados para os navios de guerra de outros países. Os estreitos eram a chave da Casa da Rússia.
▶1839: Franceses instigaram os egípcios a empreendem um novo ataque ao Império Otomano. Mais uma vez os egípcios estavam a caminho de Constantinopla (Istambul). O sultão otomano Abdulmecid era fraco e não resistiria a essa investida egípcia. Russos e Ingleses vieram a seu auxílio.
▶1840 - Convenção de Londres: Mehmet Ali ganha a sua dinastia hereditária no Egito.
▶França (I): Franceses instigaram Mehmet mas não o ajudaram na guerra, que teve que sair da Síria, acatando a Convenção de Londres. Mehmet teve que aceitar a soberania do Sultão no resto do Império.
▶França (II): A França tinha interesses no Egito. Tinha investido ali. O Egito era um exportador de algodão. A França tinha ajudado a treinar os exércitos de Mehmet Ali. A Grã-Bretanha não via com bons olhos essa aproximação entre o Egito e a França.


IMPÉRIO OTOMANO TERÁ QUE SER DETIDO EM SUA AÇÃO NA GRÉCIA:

Rússia, França e Grã-Bretanha criam uma mediação para resolver a guerra na Grécia. Haveria uma Grécia autônoma sob a soberania otomana. Uma solução que poderia agradar a todos. Mas os Otomanos não queriam conversa. O resultado foi o envio de uma força naval britânica, que na Batalha de Navarino, em outubro de 1827, destruiu as frotas turca e egípcia. 

"Enfurecido com esse ato, o sultão recusou qualquer mediação, declarou um jihad e rejeitou o ultimato russo de retirar suas tropas dos principados do Danúbio."
(página 62)

Com a falta de diálogo por parte dos Otomanos, Nicolau I, Tsar da Rússia, resolve agir sozinho em abril de 1828, enviando um exército composto por 65 mil homens, que cruzaram o Danúbio em direção ao coração do Império Otomano nos Balcãs. Os russos, no início, avançaram rápido, mas depois ficaram atolados em Varna, no delta do Danúbio, uma região pestilenta, causando a morte de vários soldados russos, com metade dos soldados russos morrendo entre 1828/29. 

"Essas enormes baixas não eram incomuns no exército do Tsar, onde havia pouca preocupação com o bem-estar dos soldados servos."
(página 63)

Na primavera de 1829 os russos retomaram a iniciativa, avançando na direção de Istambul (Constantinopla/Bizâncio). Capturaram pelo caminho as cidades de Edirne (Adrianópolis). O colapso do Império Otomano estava próximo. Mas Nicolau teve que parar a ofensiva. Uma Turquia doente era melhor do que uma Turquia morta. A Rússia poderia promover seus interesses ali, havendo uma Turquia doente. Seguir agora com a guerra poderia trazer contra si uma aliança europeia e o desmantelamento turco ainda poderia trazer outros países, com cada um deles querendo para si um pedaço do Império Otomano. Então era melhor manter o Império Otomano doente do que matá-lo de vez. Assim, as hostilidades foram encerradas com o Tratado de Adrianópolis.

TRATADO DE ADRIANÓPOLIS - SETEMBRO DE 1829. POSIÇÃO DE FORÇA DA RÚSSIA EM RELAÇÃO AO IMPÉRIO OTOMANO. A GRÃ-BRETANHA TERIA QUE AGIR PARA IMPEDIR QUE O IMPÉRIO OTOMANO FOSSE ENGOLIDO DE VEZ PELOS RUSSOS:

Ficou acordado que:
Os principados danubianos, Valáquia e Moldávia, teriam autonomia e ficariam sob a proteção russa. A Rússia obteve ganhos no Cáucaso, com Erivan e no resto da Geórgia. Turcos reconheciam a autonomia grega e abriam os estreitos a todos os navios mercantes. Perto do que a Rússia poderia ter ganho se levasse a guerra até o fim, aquilo que ela recebeu era pouco. Os ocidentais desconfiavam que havia uma cláusula secreta entre a Rússia e o Império Otomano, que abria para aquela a navegação de navios militares pelos estreitos. 

"Wellington (que derrotou Napoleão em Waterloo), à época primeiro-ministro, achava que o tratado transformara o Império Otomano em um protetorado russo - um resultado pior que sua divisão (que pelo menos teria sido feita pro um acordo de potências."
(página 64/65)

"Lorde Heytesbury, o embaixador britânico em São Petersburgo, declarou (sem qualquer ironia intencional) que o sultão logo se tornaria tão submisso às ordens do Tsar quanto qualquer dos príncipes da Índia à da Companhia das Índias Orientais. Os britânicos podiam ter suplantado inteiramento o império mongol na Índia, mas estavam determinados a impedir os russos de fazer o mesmo com os otomanos, se apresentando como os defensores honestos do status quo no Oriente Próximo."
(página 65)

"Temendo a percebida ameaça russa, os britânicos começaram a definir uma política para a Questão Oriental. De modo a impedir a Rússia de ter a iniciativa na Grécia, eles deram seu apoio à independência do novo Estado Grego, em oposição à mera autonomia sob soberania turca (que eles temiam a tornaria dependente da Rússia)"
(página 65)

ESTADO GREGO INDEPENDENTE - 1832:

Na Convenção de Londres de 1832 ficou acertado que a Grécia seria um Estado independente. A Grã-Bretanha ainda escolheu um rei para a Grécia: Otão da Baviera.

POLÍTICA DO VIZINHO FRACO:

O vizinho fraco era o Império Otomano. Quem guiava essa política era o vizinho forte, a Rússia. Essa política evitava um conflito com o resto da Europa. E usava a moeda da religião para ameaçar os Otomanos, aumentando assim a influência dos russos nos territórios cristãos do Sultão.

O ÔNUS DE MANTER O SEU VIZINHO FRACO:

A Rússia teria um ônus por manter o Império Otomano fraco. O desafio veio em 1833, quando Mehmet Ali, líder do Egito, desafia o Império Otomano. Todos queriam se aproveitar da fraqueza do Império Otomano, até os muçulmanos do Egito. Mehmet Ali queria os títulos hereditários do Egito e da Síria. O exército egípcio tinha sido treinado pelos franceses. Seu exército era chamado de Jihadistas. Os egípcios queriam mais terra e uma alternativa muçulmana que fizesse frente ao decadente Império Otomano. A economia egípcia passava por um bom momento, exportando algodão cru para as tecelagens da Grã-Bretanha. O exército de Mehmet ali avançou rapidamente, alcançando Palestina, Síria e Líbano. Istambul estava prestes a cair nas mãos dos Egípcios, uma nova força vinda da África que poderia reenergizar o mundo muçulmano, fortalecendo-o sob um novo comando. A Rússia, obviamente, não iria querer um vizinho reenergizado, aliado da França, na sua fronteira sul. 
A Rússia é obrigada a agir para deter o avanço dos egípcios. Ao mesmo tempo, França e Grã-Bretanha, preocupados com a Rússia, mandam uma frota naval para Dardanelos. No fim, um acorod foi assinado, colocando fim ao conflito.
Por fim, os Egípcios saem com poucos ganhos (Creta, Hijaz - oeste da península arábica, etc). Os russos ganharam algo especial: se os russos pedissem, os otomanos teriam que fechar os estreitos para os ingleses. Esse pedido fazia parte de uma cláusula secreta. 
Posteriormente, ingleses e franceses ficaram sabendo dessa cláusula. Descobertos, os russos deram a desculpa dizendo que essa cláusula era para manter a sua segurança contra um ataque inglês ou francês.
A descoberta dessa cláusula reforçou a desconfiança de França e Grã-Bretanha em relação à Rússia. Crescia um sentimento, principalmente na Grã-Bretanha, de Russofobia. 

MAR NEGRO, UM LAGO RUSSO PROTEGIDO PELA TURQUIA:

Na França, quando a cláusula secreta foi revelado, diziam que o Mar Negro tinha se transformado num lado russo protegido pelo Império Otomano.

ERA PRECISO FORTALECER OS OTOMANOS. O VIZINHO FRACO DOS RUSSOS TINHA QUE FICAR FORTE, PARA PODER CONTÊ-LOS:

Depois de 1833, os britânicos passaram a ter um interesse ativo no Império Otomano. Era preciso fortalecê-lo para contrapô-lo aos russos. 

MUDANÇA POLÍTICA NA GRÃ-BRETANHA:

Antes, a política externa da Grã-Bretanha agia para manter o status quo no Império Otomano, para evitar que, na esteira da sua desintegração/dissolução, houvesse uma guerra na Europa, rompendo o equilíbrio europeu, do qual a Grã-Bretanha era a fiadora. Depois de 1833, a Grã-Bretanha foi além, tentando ressuscitar o Império Otomano, por temer que ele caísse de vez como um protetorado russo, ou que viesse a cair nas mãos de Mehmet Ali do Egito. 

O COMÉRCIO OPUNHA GRÃ-BRETANHA E RÚSSIA. IMPERIALISMO COMERCIAL. BUSCA DA HEGEMONIA COMERCIAL:

O Império Otomano era fonte de matéria-prima para a Grã-Bretanha e era também um mercado consumidor para os produtos britânicos. A Grã-Bretanha era praticante do Imperialismo Comercial, segundo o qual era preciso abrir o comércio global, criando livres mercados, nem que fosse necessário o uso da força militar. Para a Grã-Bretanha, que tinha liderado a Revolução Industrial, o livre mercado era uma vantagem, pois seus produtos eram os mais competitivos. Na esteira dessa política de hegemonia comercial, a Grã-Bretanha conseguiu arrancar um acordo comercial aos Otomanos. Para conseguir esse acordo, a Grã-Bretanha misturava ameaças militares com promessas de ajuda. Esse acordo praticamente inviabilizada a construção de uma indústria no Império Otomano. Enquanto a Grã-Bretanha exportava produtos manufaturados para a Turquia, esta exportava milho para aquela. 
Com o passar do tempo, começaram a surgir rivalidades entre comerciantes ingleses e comerciantes russos. Comerciantes britânicos sempre traziam manufaturas e traziam cereais por meio do Rio Danúbio. Ao mesmo tempo, mercadores russos exportavam o cereal produzido na Ucrânia por portos do Mar Negro. 

"A partir desse momento, a exportação de bens manufaturados britânicos para a Turquia aumentou enormemente. Em 1850, o aumento já era de onze vezes, fazendo dela um dos mais valiosos mercados de exportação da Grã-Bretanha (superado apenas pelas cidades da Liga Hanseática e pela Holanda). Após a revogação das Leis Protecionistas do Milho, em 1848, as importações britânicas de cereais da Turquia, principalmente de Moldávia e Valáquia , também aumentaram. O advento dos vapores oceânicos, de barcos fluviais a vapor e de ferrovias pela primeira vez transformou o Danúbio, em uma movimentada via comercial. O comércio no rio era dominado por navios mercantes britânicos exportando grãos para a Europa Ocidental e importando manufaturados da Grã-Bretanha. Os britânicos concorriam diretamente com os comerciantes de Odessa, Taganrog e outros portos do Mar Negro, de onde os grãos das regiões produtoras da Rússia em Ucrânia e sul da Rússia eram exportados para o Ocidente. O mercado de exportação de cereais se tornou cada vez mais importante para a Rússia na medida que o valor do comércio de madeira diminuiu na era do vapor. No final do século XIX, os portos do Mar Negro processavam um terço de todas as exportações russas. Os russos tentaram dar a seus mercadores uma vantagem em relação aos concorrentes britânicos pelo controle do delta do Rio Danúbio após 1829, sujeitando barcos estrangeiros a demorados controles de quarentena e até mesmo permitindo o assoreamento do Danúbio para que ele deixasse de ser navegável."
(página 71)

PORTO OTOMANO DE TREBIZONDA:

"No lado leste do Mar Negro, os interesses comerciais da Grã-Bretanha eram cada vez mais ligados ao porto de Trebizonda, no nordeste da Turquia, de onde mercadores gregos e armênios importavam grandes quantidades de bens manufaturados britânicos para venda no interior da Ásia."
(página 71)

Os Russos, desde 1840, tinham uma presença forte no mercado da Ásia, com suas cordas, têxteis, etc, sendo vendidos em lojas em Bagdá, Basra, etc. E os russos poderiam ir além, para a Índia, pois com os navios a vapor e com a ferrovias, poder-se-ia chegar à Índia de várias formas:

-Pelo Mediterrâneo > Cairo > Suez > Mar Vermelho
-Pelo Mar Negro > Trebizonda > Rio Eufrates > Golfo Pérsico

Os britânicos preferiam a rota pelo Rio Eufrates, que passava pelos domínios do Império Otomano. Para os britânicos, era importante fincar a bandeira nessa região, pois eles temiam que a presença da Rússia nessa área (Iraque, depois Irã e Afeganistão) fosse uma espécie de trampolim para alcançar a Índia britânica. 

META SUBJACENTE À GUERRA DA CRIMEIA: DETER O AVANÇO RUSSO À ÍNDIA:

"O perigo que a Rússia representava para a Índia era a bête noire dos russófobos britânicos. Para alguns, isso se tornaria a meta subjacente à Guerra da Crimeia: deter uma potência que pretendia não apenas a conquista da Turquia, mas o domínio de toda Ásia Menor até Afeganistão e Índia. Em sua imaginação alarmada, não havia limites aos desígnios da Rússia, o império de maior crescimento do mundo."
(página 72) 

"Na verdade nunca houve qualquer perigo real de os russos alcançarem a Índia nos anos anteriores à Guerra da Crimeia. Ela era longe demais, e seria difícil marchar com um exército até lá - embora o Imperador Russo Paulo I tivesse certa vez acalentado um projeto impetuoso de enviar uma força combinada francesa e russa para lá. A ideia havia sido retomada por Napoleão em suas conversas com o Tsar Alexandre, em 1807. 'Quanto mais irreal é a expedição, mais ela pode ser usada para aterrorizar os ingleses', explicou Napoleão. O governo britânico sempre soube que tal expedição não era factível. (...) Mas embora poucos nos círculos oficiais britânicos pensassem que a Rússia era uma verdadeira ameaça à Índia, isso não impediu a imprensa britânica russofóbica de provocar esse medo, enfatizando o perigo potencial representado pela conquista do Cáucaso pela Rússia e suas atividades enganosas na Pérsia e no Afeganistão."
(páginas 72/73)

Os russos, de fato, tentavam ter influência em lugares como a Pérsia. Agentes russos criavam canais de comunicação com o Xá da Pérsia. 

"Em 1837, quando os persas tomaram a cidade afegã de Herat, muitos políticos britânicos não tiveram dúvida de que isso era parte da preparação da Rússia para uma invasão na Índia. Um ex-embaixador britânico em Teerã escreveu: Herat nas mãos da Pérsia nunca poderá ser considerada de outra forma que não um point d'appui (ponto de apoio) avançado para os russos rumo à Índia. A imprensa britânica russofóbica criticou a inatividade dos governos britânicos que não haviam percebido as atividades solertes e nefandas dos russos na Pérsia."
(página 73)

DIANTE DA AMEAÇA (REAL OU IMAGINÁRIA) DE UMA INVASÃO RUSSA À ÍNDIA, A GRÃ-BRETANHA COMEÇOU A AGIR:

A Grã-Bretanha tinha que agir, criando zonas de amortecimento. Em 1838, os ingleses ocuparam o Afeganistão. Criaram ali um governo marionete sob o Emir Shah Shuja. Os britânicos ficaram ali para apoiar seus marionete, mas em 1842 foram expulsos após várias rebeliões tribais. Os britânicos também exerceram pressão sobre a Pérsia, que saiu de Herat e assinou um acordo comercial com a Grã-Bretanha em 1841.
Mas foi na Turquia onde os ingleses tentaram criar seu principal amortecedor para conter o avanço russo. A ideia era curar o homem doente (Império Otomano) para acabar com os problemas no oriente. Os ingleses tentaram plantar na Turquia seus princípios liberais, tolerância religiosa e práticas administrativas britânicas.
1839-1861: Sultão Abdulmecid: novo sultão de 16 anos deu início às reformas:
Mas a oposição às reformas eram grandes
1876: Primeiro Parlamento Otomano

"O grande problema desse país é a religião dominante, fonte de injustiça e de fraqueza."
(página 83)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "CRIMEIA, A HISTÓRIA DA GUERRA QUE REDESENHOU O MAPA DA EUROPA NO SÉCULO XIX", ORLANDO FIGES, EDITORA RECORD.

Guerra da Crimeia Guerras Religiosas Católicos versus Cristãos Ortodoxos Moscou Terceira Roma Disputa pela Terra Santa


PÁSCOA DO ANO DE 1846 NA PALESTINA:

- CRISTÃOS, MAS RIVAIS:

Páscoa do ano de 1846, a Palestina pertencia ao Império Otomano. Jerusalém era governada por Mehmet Pasha.
Cristãos Ortodoxos e Cristãos Católicos disputavam para ver quem teria precedência nos rituais dentro da Igreja do Santo Sepulcro.  
O clima era tenso. Na Sexta-Feira de 1846 houve briga dentro da Igreja do Santo Sepulcro. Cristãos Ortodoxos e Cristãos Católicos não se bicavam. Houve mais de 40 mortos. Cristãos católicos (latinos) e Cristãos Ortodoxos brigavam para ver quem iria ter o controle do lugares santos localizados na Terra Santa.
Um exemplo de disputa dizia respeito ao conserto do teto da Igreja do Santo Sepulcro. Católicos e Ortodoxos disputavam entre si para ver quem iria ter a honra de consertar o teto. No Império Otomano, o dono do teto era o dono da casa. Os Otomanos contemporizavam a situação acenando para os dois lados. 

FLUXO DE PEREGRINOS AUMENTA PARA JERUSALÉM;

O fluxo de peregrinos para Jerusalém aumentou por causa das ferrovias e dos navios a vapor. A revolução industriam encurtou os caminhos. Com isso, as Igrejas (Ortodoxa e Católica) e os países de onde vinham esses peregrinos (Rússia, França, etc) passaram a olhar para Jerusalém com mais atenção. Rússia criou um complexo com albergue, hospital, capela e mercado para dar suporte aos peregrinos russos. ATÉ 15 MIL RUSSOS IAM À PALESTINA POR ANO. Era a expressão maior de sua fé. 

SANTA RÚSSIA:

Para os russos a ideia da Santa Rússia englobava o território da Palestina. Os turistas da Europa ocidental sentiam repulsa pelo comportamento dos cristãos ortodoxos (russos), rotulando-os de bárbaros, por causa de suas superstições degradantes. Os cristãos católicos e os protestantes não agiam com a mesma paixão demonstrada pelos cristãos ortodoxos (russos, gregos, búlgaros, sérvios e moldavos).
Os europeus que sentiam repulsa pelos ortodoxos sentiam-se mais próximos dos islâmicos, que eram mais contidos/comedidos na expressão de sua fé. Essa visão preconceituosa iria influenciar a postura europeia quando da disputa travada entre o Império Russo e o Império Otomano pela posse da Terra Santa.
Os russos viam-se no direito de cuidar dos interesses dos cristãos ortodoxos no interior do Império Otomano. Esse direito russo estaria escrito no Tratado de Kuchuk Kainarji, celebrado após a vitória russa sobre os Otomanos (1768-1774).

TRATADO DE KUCHUK KAINARJI:

Guerra entre o Império Russo e o Império Otomano, vencida pelo Império Russo. O Império Otomano teve que aceitar as condições impostas pelos russos: 
▶independência dos tártaros da Crimeia
▶livre passagem pelo Dardanelos
▶porto de Kherson e Kerch
▶principados da Moldávia e da Valáquia retornariam para os Otomanos, mas os Russos assumiriam o direito de proteger a população ortodoxa
▶pequeno trecho do Mar Negro, entre os rios Dnieper e Bug
▶construir uma Igreja Ortodoxa em Constantinopla

PLANO RUSSO PARA INVADIR ISTAMBUL (antiga Constantinopla):

Os generais russos, quando pensavam em invadir Istambul, imaginavam dois caminhos que correriam em paralelo, um percorrido por terra e outro pelo Mar Negro. No caminho por terra, os russos marchariam até o Delta do Danúbio. Antes de seguir para Istambul, esperariam suprimentos que viriam pelo Mar Negros, de navios saídos da Crimeia. Com a tropa alimentada e suprida, seguiria caminho até Istambul.

O Império Russo foi concebido como uma cruzada ortodoxa. Era uma missão divina da Rússia libertar os cristãos ortodoxos dos Otomanos e fazer de Constantinopla a capital da Igreja Oriental. As guerras entre russos e otomanos eram religiosas (linha de fratura entre os cristãos ortodoxos e o islã).
A religião estava no cerne do sistema russo. A ideia fundadora do Império Czarista dizia que Moscou era a capital remanescente da Ortodoxia. Era a Terceira Roma

PREOCUPAÇÃO FRANCESA: 

Católicos franceses se preocupavam com a presença russa na Terra Santa. A França tinha participado das Cruzadas e por esse motivo via-se como a primeira nação católica da Europa e protetora da fé na Terra Santa. A França, para marcar sua presença na Terra Santa, abriu um consulado em Jerusalém. A Grã-Bretanha,, por sua vez, em 1845, construiu um Igreja Anglicana em Jerusalém.
Os Católicos franceses exigiam que seu governo adotasse medidas fortes para proteger a Terra Santa da influência dos ortodoxos. Em 1851, Luís Bonaparte nomeou de Valette como embaixador em Constantinopla

CHARLES DE LA VALETTE:

Era um membro importante do disfarçado partido clerical, que secretamente puxava as cordas da política externa francesa. Luís Napoleão, o sobrinho de Napoleão Bonaparte, não ligava para religião mas via na Terra Santa uma forma de tirar a França da situação que o Congresso de Viena (1815) lhe impôs. Um novo sistema de alianças poderia emergir. A Áustria católica poderia ficar contra a Rússia ortodoxa. E a Grã-Bretanha tinha seus próprios interesses imperiais a defender no Oriente Próximo contra os Russos. 
La Valette proclamou que o direito dos católicos estava claramente estabelecido e, se preciso fosse, a França usaria de sua força naval para defendê-lo. A conduta beligerante de La Valette enfureceu o Czar da Rússia, Nico.lau I

CRIMEIA:

Crimeia = Krym - Nome tártaro. / Tauride: nome grego
A Crimeia era governada originalmente pela Dinastia Giray, que remontava a Gengis Khan, sobrevivente da Horda Dourada. Ali viviam tribos tártaras de língua turca. Acabaram virando vassalos dos Otomanos. Viviam principalmente de pilhagens na Polônia e na Rússia. 
A Crimeia era sagrada para os russos. Foi ali, em Quersoneso, que Vladimir de Kiev foi batizado em 988, levando o cristianismo ortodoxo para o Rus (Rússia). Quersoneso fica na periferia da atual Sebastopol. A Crimeia já foi o lar de genoveses, gregos, citas, godos, romanos, judeus, armênios, mongóis e tártaros. Em 1783 a Rússia anexa a Crimeia e ganha 300 mil súditos, a maioria composta por muçulmanos. A partir de 1800 esses muçulmanos começavam a sair, em direção ao Império Otomano. Em seu lugar vieram cristãos russos, gregos, búlgaros e armênios.

EXPANSÃO RUSSA PARA O SUL:

Catarina, a Grande, czarina da Rússia, queria expulsar os Otomanos da Europa. Em 1781, conversava com o Imperador Austríaco, José II, termos de como isso poderia ser feito. Com os Otomanos expulsos da Europa, o que restasse seria dividido entre a Rússia e a Áustria. Haveria ainda um Império Grego com capital em Constantinopla (Istambul), que contaria com a proteção russa. Catarina deu ao seu 2º neto o nome de Constantino, último imperador de Bizâncio. Ele ainda teve que aprender grego. A necessidade de se expandir para o sul fazia com que os russos misturassem religião com política. Num momento, a expansão para o Sul era vendida como uma espécie de Cruzada, purificando o Rio Jordão, devolvendo Constantinopla aos cristãos ortodoxos, libertando a Igreja do Santo Sepulcro. Essa expansão também abriria de vez o Mar Negro para os russos, por onde poderiam exportar seus grãos através do Mediterrâneo. Se a Rússia tivesse acesso total ao Mar Negro, não ficaria mais dependente do Mar Báltico, suscetível de ser bloqueado em caso de alguma guerra.
Uma nova Rússia foi criada no Sul (Novorossiya), sob a supervisão de Potemkin, que também era amante de Catarina. Novas cidades foram criadas, como Odessa. 

CRIMEIA DEPOIS DO TRATADO KUCHUK KAINARJI:

Era governado por um Cã (Khan)Sagin Giray, apoiado pela Rússia. Mas os cristãos que moravam na Crimeia reclamavam de perseguição (comerciantes gregos, armênios, etc). 
Em 1783 a Crimeia foi anexada pela Rússia de forma definitiva. Foi uma grande humilhação para os Otomanos.

NOVA GUERRA ENTRE A RÚSSIA E O IMPÉRIO OTOMANO:

1787: A Guerra Terminou com a Paz de Iasi. Rússia passa a controlar todo o Rio Dniester (era a nova fronteira entre a Rússia e o Império Otomano). O Império Otomano aceita a anexação da Crimeia pela Rússia. O Império Otomano ainda conseguiu manter os Principados da Valáquia e da Moldávia. 

NOVAS TERRAS RUSSAS COM SÚDITOS MUÇULMANOS:

Os russos temiam que seus súditos muçulmanos viesse no futuro a trair a Rússia, para favorecer o Império Otomano. Era preciso substituir esses muçulmanos por colonos cristãos. Não seria a primeira vez que os Russos fariam isso. No início do século XIX, houve uma cruzada no Cáucaso, com a expulsão dos muçulmanos chechenos, inguches, daguestaneses, etc

TRATADO DE BUCARESTE: 1812:

Rússia e Império Otomano concordam no exercício conjunto da soberania sobre a Moldávia e a Valáquia. 


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "CRIMEIA, A HISTÓRIA DA GUERRA QUE REDESENHOU O MAPA DA EUROPA NO SÉCULO XIX", ORLANDO FIGES, EDITORA RECORD, páginas 27/47

Introdução Revolução Francesa Fim das Guerras Valores Aristocráticos Militarismo



PARALELO CONSTRUÍDO PELO AUTOR DO LIVRO:

O autor do livre pega duas épocas da história humana, a primeira indo de 1789 a 1790 (Revolução Francesa - Liberdade/Igualdade e Fraternidade) e a segunda indo de 1989 a 1990 (Queda do Comunismo, fim da Guerra Fria). O autor traça um paralelo entre essas duas épocas, dizendo que em ambas as pessoas acreditavam que elas marcariam o "fim das guerras". A paz viria em difusão, pois os Países Democráticos que viriam a nascer com os ideias da Revolução Francesa (1789/1790) e com o Fim das Ditaduras Comunistas e da Guerra Fria não lutariam entre si, estabelecendo assim um época de paz.

"Esta será a última guerra." (Charles François Dumouriez - 1792)
(página 13)

Mas tudo não passou de um sonho. Nem o período de 1789/1790, tampouco o período de 1989/1990 inauguraram períodos de paz. Apenas em título de exemplo, após o Queda do Muro de Berlim em 1989, tivemos vários conflitos, com Guerras no Afeganistão, no Iraque, na Síria.

22 DE MAIO DE 1789: FIM DAS GUERRAS DE CONQUISTAS:

Governo Revolucionário Francês decretou o fim das guerras de conquistas. A partir daquele momento, os exércitos só serviriam para a auto-defesa de um país. 

VALORES ARISTOCRÁTICOS:

Havia dois valores aristocráticos:

HONRA
SERVIÇO

Esses dois valores eram exercido num palco. Esse palco era a GUERRA. Os Aristocratas colocavam esses valores honra e serviço basicamente durante as guerras dais quais participavam. E isso era necessário pois era na guerra que o aristocrata estabelecida a sua Reputação. 

"Tudo está perdido, menos a honra, e tudo foi salvo." (Código de Honra Aristocrático)
(página 125)

GUERRAS PRÉ-REVOLUÇÃO FRANCESA: 

Nessas guerras os aristocratas, como já dito acima, buscavam estabelecer a sua Reputação: "autocontrole aristocrático, de estabelecer uma reputação emulando um modelo impessoal de glória."
(página 20)

MUDANÇA DE INTENSIDADE DAS GUERRAS:

O ano de 1792 marca uma separação entre o grau de intensidade das guerras. Antes de 1792, as guerras tinham um caráter limitado. Após 1792, a coisa mudou de figura, havendo uma mudança na intensidade das guerras, para mais.

"Como resultado dessas mudanças, quando a França pegou em armas em 1792, não foi para combater algo como as guerras limitadas conhecidas das potências do Antigo Regime. O que se seguiu merece o adjetivo de 'apocalíptico'. Os conflitos de 1792 a 1815 não testemunharam nenhum grande avanço da tecnologia militar, mas a Europa mesmo assim experimentou uma transformação extraordinária no escopo e na intensidade da guerra. Os números falam por si próprios. Mais de 1/5 de todas as grandes batalhas travadas na Europa entre 1490 e 1815 ocorreram exatamente nos 25 anos depois de 1790. Antes de 1790, apenas um punhado de batalhas tinha envolvido mais de 100 mil combatentes. Em 1809, a batalha de Wagram, então a maior jamais vista na era da pólvora, envolveu 300 mil combatentes. Quatro anos mais tarde, a batalha de Leipzig mobilizou 500 mil, dos quais 150 mil foram mortos ou feridos. Durante o período napoleônico, a França sozinha contabilizou quase um milhão de mortos de guerra, possivelmente uma proporção mais alta de seus jovens do que aqueles mortos na Primeira Guerra Mundial. Na Europa inteira, o número total de vítimas pode ter chegado a 5 milhões. Em um processo se precedentes, as guerras trouxeram alterações significativas no território ou no sistema político de cada um dos Estados europeus. A luta de guerrilha deixou feridas abertas em regiões da Espanha, da Itália, da Áustria, da Suíça e da própria França. Essa, portanto, foi a primeira guerra total."
(páginas 20/21)

1792 - 1815: PRIMEIRA GUERRA TOTAL:

Primeira Guerra Total significa engajamento total e abandono de limites. Você tinha que submeter, com fins militares, sociedades inteiras. 
Outros fatores que levaram à intensificação das guerras:
▶radicalismo igualitário ❎conservadorismo hierárquico: 
O conservador inglês, Edmund Burke, inimigo da Revolução Francesa, defensor do conservadorismo hierárquico, dizia que "É contra uma doutrina armada que estamos em guerra"
(página 23)
▶nacionalismo com seu novo estágio de autoconsciência das pessoas como pertencentes a uma nação:
"Agora não é o rei quem trava guerra contra o rei, nem um exército contra outro exército, mas um povo contra outro povo." (Claus Von Clausewitz)
(página 24)

MUDANÇA NA CULTURA DA GUERRA - MEADOS DO SÉCULO XVIII E PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XIX. NASCIMENTO DO MILITARISMO:

Houve uma mudança na cultura da guerra. O autor olha menos para a ideologia e para o nacionalismo. Ele olha para a mudança implantada pelo Iluminismo, que transformou a guerra de um evento corriqueiro em algo que deveria ser encarado como uma exceção, algo à parte no curso natural da história.
Duas outras mudanças surgiram relacionada à mudança da cultura da guerra. 
- novas percepções sobre as Forças Armadas. Nasceu uma distinção clara e duradoura entre a ESFERA CIVIL e a ESFERA MILITAR. Essa distinção deu origem ao MILITARISMO.

MILITARISMO:

Pressupõe a existência de duas sociedades:

⁕ uma sociedade militar
⁕ uma sociedade civil

No militarismo, os valores da sociedade militar eram colocados sobre os valores da sociedade civil


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "PRIMEIRA GUERRA TOTAL, A EUROPA DE NAPOLEÃO E O NASCIMENTO DOS CONFRONTOS INTERNACIONAIS COMO OS CONHECEMOS", DAVID A. BELL, EDITORA RECORD.

domingo, 22 de março de 2020

Rus Rurikid Moscóvia Império Russo Romanov



PODERES EM EXPANSÃO:

Século XV: Moscóvia - Expansão para o Leste
Século XVII: China reunificada sob a dinastia Qing
▶Entre a Moscóvia e a China, os mongóis e outras tribos nômades em busca de pastagens e disputando com vizinhos sedentários o monopólio de comércio e em meio a tudo isso ainda havia a disputa pela liderança supra-tribal.
Simultaneamente, na ponta ocidental da Eurásia, Soberanos se expandiam às custas de outros soberanos e para fora do continente. Como exemplo, Espanha e Grã-Bretanha lançaram-se ao Oceano.

RÚSSIA:

"Comparado com a China, a Rússia era um estado embrionário e improvável"
(página 246)

A Rússia embrionária era formada por florestas entre os rios Dnieper e Volga, região formada por uma população andarilha, dispersa e clã principescos, à qual nenhuma grande potência dava importância. Era uma vantagem ser deixado em paz, não ser ambicionado por nenhum outro poder. O nome Rússia provém de príncipes guerreiros que no século IX fundaram Kiev. Os rus (escandinavos) ligaram o Mar Báltico ao Rio Volga, o Mar Cáspio ao Rio Don, chegando ao Mar Negro e retornando ao norte pelo Rio Dnieper. Os rus enriqueceram e criaram um Estado às margens do Rio Dnieper, em Kiev. Os príncipes Rus eram chamados de Rurikids, os filhos de Rurik
Criou-se um mito fundador segundo o qual foram as tribos eslávicas que convidaram Rurik (Riurik) e seus irmãos para governar suas terras, promovendo a paz. Esse era o mito do grande líder de uma terra distante que chega para criar a manter a paz. Era um elemento da imaginação imperial da região.
Principais cidades das Terras Rus: Novgorod, Pskov, Kiev, Riazan, Suzdal, Vladimir.

RELIGIÃO NA RÚSSIA EMBRIONÁRIA:

No início, os Rus, assim como os eslavos ao seu redor, eram politeístas. Vladimir, o maior líder "Rus" (980-1015), voltou-se para o monoteísmo. Vladimir rejeitou o judaísmo por essa religião ser de um povo derrotado que tinha perdido o seu Estado. Rejeitou o Islã porque esta religião proibia o uso da bebida alcoólica. Sobraram o Cristianismo de Roma e o Cristianismo de Constantinopla. Qual religião seria escolhida por Vladimir? Vladimir optou pelo Cristianismo de Constantinopla e se casou com a filha de um Imperador Bizantino. Clérigos Bizantinos batizaram o povo de Kiev no Rio Dnieper em 988.

-O islã proibia o álcool.
-O cristianismo proibia a poligamia. Mas Vladimir tinha muitas mulheres.
-Vladimir optou então cristianismo de Constantinopla

"Os motivos de estado devem ter prevalecido, (...). Ou talvez o álcool tenha prevalecido em relação ao sexo."
(página 247)

Foi adotado o alfabeto cirílico para difundir o cristianismo oriental entre os súditos eslavos de Vladimir. Bizâncio havia abandonado a posição romana (catolicismo romano) segunda a qual somente o Latim era digno de expressar as palavras de Deus. O Cristianismo multi-linguístico adotado por Bizâncio se adequou à sua estratégia imperial.

Mas a religião sozinha não seria suficiente para a construção de um Império.

KIEV:

Era a joia da coroa. A sucessão era lateral, de irmão para irmão. Um irmão ficava com Kiev e os outros ficavam com outros principados de menor importância, rodeados por um séquito armado formado por seus seguidores (dependentes).
Sucessão Lateral: De irmão para irmão. Um irmão ficava com a joia da Coroa, Kiev, e os outros dividiam entre si os principados restantes. Cada um deles tinha um séquito armado formado por seus dependentes, clientes. Esse sistema de rotação gerava conflitos, com disputas sucessórias contínuas. Essas disputas enfraqueciam a terra dos Rurikids. Para piorar, em 1204, Bizâncio (Constantinopla), que era o maior parceiro comercial de Kiev, foi arrasada por uma Cruzada. Isso causou uma decadência na terra dos Rurikids. E a pá de cal foi a invasão dos mongóis, que conquistaram os principados Rus, finalizando com a maior conquista, em 1240, o Principado de Kiev. Em 1242, Batu, o líder mongol, foi obrigado a retornar à Mongólia para a eleição de um novo Khan. Na ausência dos mongóis, os príncipes rus voltaram a brigar entre si e contra outros inimigos externos. No norte, Alexandre Nevsky, líder das cidades do norte, Novgorod e Pskov, conseguiu impedir uma invasão sueca em 1240 e dos cavaleiros teutônicos em 1242.
Resolvidas as questões sucessórias, os Mongóis retornaram às terras do Rurikids. Batu assumiu o comando do Canato Quipchaco, renomeando-o depois para Horda Dourada.

HORDA DOURADA:

Capital: Sarai, no rio Volga.
Controlava as rotas comerciais. Exercia poder sobre Kiev, Vladimir e a futura Moscou.
Os príncipes rurikids sobreviventes tornaram-se vassalos dos Mongóis. Como vassalos, os príncipes rurikids recolhiam impostos para os mongóis e competiam entre si para ver quem seria o príncipe mais poderoso. Esses príncipes viviam numa parte da Horda Dourada (ocidental) coberta por florestas, que não despertava o interesse dos mongóis, que simplesmente repassavam a sua administração aos príncipes Rurikids locais, que administravam essas áreas em nome dos mongóis.
Sem querer, os mongóis davam uma segunda chance para o nascimento de um Império Rus, que poderia brotar nas terras que compunham a parte ocidental da Horda Dourada, sob o governo de algum desses príncipes Rurikids.
Para que um Príncipe Rus pudesse exercer a sua autoridade, ele tinha que ir à cidade de Sarai, a capital da Horda Dourada. Ali, jurava lealdade ao Khan, trazia presentes (escravos, prata, peles de animais). A subserviência não era uma escolha. Quem não era subserviente ao Khan, era executado.
Membros de famílias de príncipes Rurikids se casavam com membros da Corte do Khan. Quando um príncipe Rirukid recolhia impostos par ao Khan, era autorizado a reter uma parte para si. Uma outra concessão do poder mongol foi a autorização para que a Igreja Ortodoxa continuasse a funcionar.

MOSCOU/MOSCÓVIA:

Moscou localizava-se no ponto de convergência de três trajetórias imperiais:

-Dos Bizantinos receberam a religião
-A legitimidade do Príncipe de Moscou vinha de seus ancestrais Rus (Rurikids)
-Dos mongóis aprenderam a administrar e explorar uma população dispersa

 A DOMINAÇÃO DE MOSCOU:

Os príncipes de Moscou (século XIII) eram servos leais dos mongóis. Um servo leal a um Khan Mongol devia exercer os devidos rituais, comprar sua boa vontade e fornecer soldados para as campanhas do Khan. Os príncipes de Moscou seguiram isso e por isso superaram seus concorrentes rus pelo domínio da Rússia. 
Os príncipes de Moscou também expandiram o seu território tomando para si os territórios de outros príncipes rus (rurikids). Um território maior significava uma arrecadação de tributos maior. Moscou também usava casamentos com membros da corte do Khan e de outros príncipes Rus como forma de aumentar o seu poder.
Outra vantagem de Moscou: seus príncipes viviam muito e tinham poucos filhos, de forma que puderam romper com o hábito de dividir seus territórios entre seus filhos - um processo que havia fragmentado a elite de Kiev.

DECADÊNCIA DO DOMÍNIO MONGOL:

1395: Tamerlão destrói Sarai, a capital da Horda Dourada. A Horda Dourada então foi dividida em 4 pedaços em meados do século XV:
✔Astracã
✔Crimeia
✔Kazan
✔Canatos menores remanescentes

Em 1492, os Khan deixaram de nomear o grande príncipe de Moscou.
Com esse declínio do Império Mongol, os russos, nos séculos XV, XVI e XVII, passaram a se expandir territorialmente, criando um Império Multi-Confessional e Multi-Étnico. Nessa mesma altura, Inglaterra, Holanda, França, Portugal e Espanha participavam da expansão ultramarina. 

EXPANSÃO DE MOSCOU:

Expansão de Moscou era obstruída, ao sul, pelos Otomanos, a oeste, pelos Poloneses/Lituanos. E no norte havia os livônios, os suecos e também os poloneses. Para Moscou, no início de sua expansão, o caminho mais fácil estava no leste, penetrando na Sibéria atrás do comércio de Peles. A sudeste, descendo pelo Rio Volga, em direção à Ásia Central, com o objetivo de controlar rotas comerciais lucrativas. No ano de 1552, seguindo na direção leste, Ivan, o Terrível, conquistou a cidade de Kazan, no Rio Volga. Mais terras significavam mais arrecadação de impostos e o Rio Volga era estratégico no faturamento comercial. Mas Moscou (Moscóvia) continuaria a crescer ou desmoronaria sob o peso de rixas violentas na luta pelo poder? A mesma luta pelo poder que destruiu domínios dinásticos na Eurasia. 
O desafio de quem governava era como manter as elites leais à uma soberania dinástica. Com Moscou não seria diferente. 

"Com o tempo, os russos desenvolveram formas muito eficazes para atrelar seus intermediários ao soberano."
(página 254)

MÉTODO PARA UNIR AS ELITES AO SOBERANO:

Inovação dos Príncipes Moscovitas: Estender a prática de alianças matrimoniais às elites que integravam seu regime. Um conselho de Boiardos (eram as elites russas) assessorava o governante moscovita. O grande Príncipe Moscovita se casava com mulheres de clãs subordinados, e não com mulheres estrangeiras. 

"Essa prática enxertava famílias inteiras na dinastia, garantindo um interesse vital pelo regime."
(página 255)

Os Moscovitas também imitavam os Khans, concedendo terras às elites, em troca de lealdade absoluta regime.
O Príncipe da Moscóvia tinha a posse soberana de todos os recursos. De posse desses recursos (terras), ele os repassava, concedia-os condicionalmente. 
As elites de Moscou então ficavam atreladas ao Grão-Príncipe de Moscou por meio de:
-Casamentos
-Concessões de Terras

GRÃO-PRÍNCIPE DE MOSCÓVIA E O POVO:

A ideia era que o Grão-Príncipe de Moscóvia proporcionava proteção para o povo. Ao mesmo tempo, o cristianismo oriental ligava o povo ao Grão-Príncipe ( a religião funcionava como uma ideologia do Estado). 
A Igreja Ortodoxa Russa era como um poder oculto por trás do trono de Moscóvia. E com a queda de Constantinopla em 1453, Moscou poderia se candidatar como a nova sede da Ortodoxia. O prelado metropolitano de Moscou se tornou o Patriarca da própria Igreja Ortodoxa Oriental da Rússia. 

NARRATIVA CRIADA POR MOSCOU PARA LEGITIMAR O SEU PODER. MOSCÓVIA, A TERCEIRA ROMA.

Para fortalecer ainda mais Moscou (Moscóvia), criou-se a narrativa segundo a qual os grãos-príncipes haviam recebido sua autoridade dos Imperadores Bizantinos e que eram descendentes de Augusto César. Moscou seria a terceira Roma. Em 1547, Ivan IV, o terrível, assumiu o título de Czar, ou César, vinculando-se ao passado glorioso romano. 
A Moscóvia era uma comunidade cristã unida pela ortodoxia, conduzida por um autocrata, o Czar, e guiada pela Igreja Ortodoxa. 

IMPÉRIO RUSSO:

Amalgama do Império Bizantino com o Império Mongol. 

Do Império Bizantino os russos herdaram:
-a religião ortodoxa, 
-o título de Czar (César)
-o título de Autocrata (palavra bizantina que designava um governante completo)

Do Império Mongol, os Russos herdaram:
-Em 1550, Ivan IV convoca um conselho da terra, uma espécie de KURULTAI Mongol, para estabelecer um novo código de leis.
-Como administrar um Império extenso com um povo disperso

Ivan, IV, o terrível, era Khan, César e um servo de Deus.

PILARES QUE SUSTENTAVAM O IMPÉRIO RUSSO:

▶Clãs políticos apoiadores do Czar
▶Concessão de terras
▶A Igreja Ortodoxa fornecia uma ideologia unificadora

A Nobreza russa era dependente do Czar. Na Europa Ocidental, de forma diversa, a nobreza tentava conter a fome de poder do rei. Essa dependência da nobreza russa em relação ao Czar incluía o envolvimento no projeto imperial do Estado Russo, com sua expansão territorial e com a concessão de terras obtidas por meio dessa expansão, de forma a ter a lealdade dessa Nobreza. 
Essa expansão territorial para comprar lealdades inevitavelmente iria entrar em choque com os interesses dos países que faziam fronteira com a Rússia. Haveria choques com a Suécia, com a Polônia/Lituânia, com o Império Otomano, Canatos Mongóis e China. 

FIM DA DINASTIA RURIKID:

1598: Morre Teodoro, filho de Ivan IV,  Terrível (Groznyi: o admirável). Era o fim da Dinastia Rurikid. 
A elite, formada pelos Boiardos, escolhe Boris Godunov para ser o novo Czar. Boris era cunhado do falecido Teodoro I (sua irmã tinha se casado com Teodoro I). Mas, apesar desse parentesco, Boris não tinha sangue Rurikid, faltando-lhe então legitimidade dinástica. Esse fato fez nascer uma disputa de poder dentro da elite russa. Essa divisão na Rússia despertou a cobiça da Suécia e da Polônia/Lituânia, que viram nessa divisão uma oportunidade para diminuir o poder da Rússia.

TEMPO DE DIFICULDADES: 1584-1613):

Nasceu com a discussão sobre a ideologia da Descendência Real.
Pessoas se apresentavam dizendo-se filhos legítimos de Ivan IV, com o objetivo de obterem o trono russo. Descobriu-se depois que essas pessoas eram farsantes. Todos os filhos de Ivan IV estavam mortos. 
Depois de muitos conflitos, os Boiardos escolheram Miguel Romanov, proveniente de um clã russo relativamente menor. 

DINASTIA ROMANOV:

A Dinastia Romanov duraria até 1917. De 1613 até 1917! Em 1917, a Dinastia Romanov saiu do poder em razão da Revolução

O GOVERNANTE RUSSO COMPRAVA LEALDADES COM TERRAS E COM SERVOS:

"Tanto os czares como os nobres (boiardos) sofriam com sua incapacidade de manter as pessoas trabalhando em suas terras, porque os camponeses podiam muito bem juntar suas coisas e partir para outros territórios do Império em expansão, onde outros lhe ofereceriam trabalho de bom grado."
(página 258 )

"A restrição de mobilidade dos camponeses deu aos nobres um bom motivo para apoiar o Czar. Mas e quanto aos sacerdotes de alto escalão - os outros intermediários do Império Russo? Os Czares haviam se beneficiado muito da ideologia harmonizadora da Ortodoxia, com seus rituais de acomodação e seus esforços missionários, sem precisar lidar com a autoridade institucionalizada de um Papa romano (como acontecia com os países no Ocidente). Desde a época do protetorado Mongol, contudo, a Igreja possuía suas próprias terras , seus próprios camponeses agricultores, seus próprios Tribunais e, a partir de 1589, seus patriarcas, por vezes, indivíduos de grande importância."
(página 258) 

Em 1649, para conseguir a lealdade dos nobres, a dinastia Romanov criou uma lei proibindo os camponeses de saírem das terras onde viviam. 

UMA PITADA DE EUROPA NA RECEITA RUSSA:

1696: Pedro torna-se Czar da Rússia. 
Inovações europeias de Pedro. Alguns exemplos:
-substituição da cúpula dos Boiardos por um Senado.
-foi esse Senado que proclamou Pedro Imperador, e não a Igreja, em 1721.
-criação da academia de ciência.
-publicação do primeiro jornal da Rússia.

Pedro zombava da Igreja Russa. Queria mostrar que quem mandava era ele, que não iria dividir o seu poder com a Igreja. Substituiu o Patriarca, figura de grande poder, por um Conselho, o Santo Sínodo. A Igreja teve que se resignar ao seu inédito papel de coadjuvante na história russa. 

"Os clérigos, assim como os servidores seculares, reconheceram o poder pessoal do Imperador para proteger , recompensar e punir."
(página 261)

Czar: 
▶Proteger
▶Recompensar
▶Punir

Pedro, em vida, queria nomear seu sucessor. Mas a Nobreza russa tentava sabotar esse plano de Pedro. Era a nobreza que queria decidir quem seria o Czar ou Czarina. 

1725: MORTE DE PEDRO, O GRANDE:

O patrimonialismo (da nobreza russa) triunfou:

"Os nobres recebiam terras e força de trabalho como recompensa por sua lealdade; eles não tentavam se livrar da autocracia, mas antes lutavam para continuar próximos do Imperador ou para manter conexões com os mais altos agentes do Estado."
(página 262)


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "IMPÉRIOS, UMA NOVA VISÃO DA HISTÓRIA UNIVERSAL", Jane Burbank e Frederick Cooper, Editora Crítica.

sábado, 21 de março de 2020

Conexões Eurasiáticas Império Mongol China Temujin Gengis Khan Tamerlão



IMPÉRIO MONGOL:

(Temujin) Gengis Khan torna-se líder dos Mongóis no ano de 1206. Pela primeira vez, uma família (dinastia inaugurada por Gengis Khan) unira toda a Eurasia, da China até o Mar Negro.

RELEVÂNCIA DO IMPÉRIO MONGOL:

-criaram conexões seguras ao longo da Eurasia, das quais se aproveitaram caravanas de comerciantes, missionários, etc. O ir e vir pela Eurasia tinha se tornado seguro.
-transmitiram, adaptaram e transformaram tecnologias.

AS ROTAS NA EURASIA:

Roma criou seu império mediterrâneo em quatro séculos. Gengis Khan e aqueles que lhe sucederam criaram um império muito maior na Eurasia num período de sete décadas.

CHOQUE ENTRE POVOS NÔMADES E SEDENTÁRIOS:

Povos nômades costumavam invadir e saquear comunidades sedentárias.
Os romanos também tinham problemas com os bárbaros, como exemplo Átila, o líder dos nômades Hunos, em meados do século V d.C..
Nômades não tinham cidades. Armavam e desarmavam acampamentos em busca das melhores pastagens para seus rebanhos. E de vez em quanto saqueavam, pilhavam uma tribo rival ou alguma comunidade sedentária. A tribo nômade Xiongnu davam muita dor de cabeça a China (civilização sedentária) da dinastia HAN.
Os povos nômades levavam vantagem quando se batiam contra civilizações sedentárias. Esses povos nômades (turcos, mongóis, etc) surgiram numa vasta área formada por tundra, estepes e florestas, englobando, ao norte, da Finlândia à Sibéria, descendo para o sul, onde hoje é a China.

VIDA NAS ESTEPES. MOBILIDADE ORGANIZADA:

Havia um deslocamento de forma organizada, de uma área para outra, em busca de pastagens para os rebanhos. Levantar acampamentos, montar acampamentos. Áreas eram exploradas em busca de pastagens de boa qualidade, que podiam alimentar seus animais, dos quais os Mongóis tiravam praticamente tudo do que precisavam: alimento, roupas, abrigo, transporte e bens comercializáveis. Vários animais eram explorados: cavalos, ovelhas, vacas, cabras e até camelos. Se houvesse uma emergência, um mongol poderia até beber o sangue de seus animais.O pastoreio fornecia os itens básicos para a sobrevivência desses grupos nômades. Produtos como grãos, metais, chá, tecidos finos eram encontrados nas zonas fronteiriças da Eurasia. E algumas tecnologias nascidas entre os povos sedentários foram adquiridas pelos povos nômades, como a fundição de metal.

INTERAÇÃO PACÍFICA/COMERCIAL ENTRE OS POVOS NÔMADES E OS POVOS SEDENTÁRIOS:

Na Eurásia, os povos nômades e sedentários interagiam entre si por meio de comércio, casamentos, diplomacia, além das já citadas guerras e pilhagens. Não havia novidade nisso.

UNIDADE BÁSICA DE SOBREVIVÊNCIA NO INÓSPITO MUNDO DAS ESTEPES:

Era a família.
Para sobreviver necessitavam de seus animais e da ligação com outras pessoas que pudessem subsistir num determinado espaço. Com o passar do tempo, famílias com boas conexões podiam formar uma Tribo. Em teoria, os componentes de uma Tribo tinham origem num único ancestral, mas na prática havia ali agregados de todos os tipos. Juramentos de lealdade/amizade (irmandade jurada) eram comuns nas estepes. E por meio deles alguém poderia ser aceito numa tribo. Esses juramentos permitiram a construção de alianças que foram além do parentesco sanguíneo. Havia juramentos de lealdade/amizade entre duas pessoas somente, que se tornavam irmãos sem serem parentes. Mas esses juramentos podiam abranger algo maior, como no caso de Tribos inteiras que aceitassem se sujeitar a uma outra Tribo, por acharem conveniente, ou por terem sido derrotados numa batalha. Essa união entre tribos poderia redundar na criação de Confederações Multitribais de grande alcance e poder.

EM BUSCA DE UM LÍDER, DE UM KHAN:

O Termo Khan significa Governante Supremo. Povos turcos no interior da Eurásia usavam Khagan.
Quem seria aceito para comandar uma poderosa Confederação Multi-Tribal, capaz de empreender campanhas contra poderes estrangeiros, obtendo assim pilhagens para satisfazer todos os seus componentes? O líder era escolhido sendo analisados os seguintes critérios:
-linhagem
-habilidades de guerra
Quando o líder morria, o círculo de contendores incluía seus filhos e irmãos que precisavam lutar e negociar (tanistry). O sistema dava azo ao fraticidio mas também poderia dar espaço para que o membro da família mais apto (melhor guerreiro, melhor negociador) assumisse o poder. Alguém para se tornar líder então precisava:
-pertencer à família do grande chefe falecido
-vencer a disputa dentro da família
-ser confirmado como líder numa assembleia tribal (Kurultai), na qual votariam líderes de outras tribos.

RELIGIÃO. SEM RELIGIÃO INSTITUCIONALIZADA. MONGÓIS NÃO TINHAM PAPAS, PATRIARCAS.

O reinado do Khan era um mandato de Tengri, o Deus chefe dos céus e dos nômades que viviam sob ele. Tengri era a divindade superior. Os pontos mais elevados eram sagrados por estarem perto do paraíso. O mundo estava repleto de espíritos humanos e os xamãs tinham poderes para contactá-los.
Os líderes das estepes não estavam manietados pela existência de uma Igreja institucionalizada, como acontecia na zona do Mediterrâneo.

CHINA;

A China sempre foi alvo de invasões de tribos nômades da estepes. Os canatos Turcomanos controlavam a rota da seda (séculos VI a VIII). Com a sua desintegração no século VIII, grupos turcos migraram para o oeste em direção à Constantinopla.No lugar dos Turcomanos entraram os Uigures para ajudar os chineses em troca de seda. Durante a dinastia Song (século X), a China se expandiu. Diversificou suas rotas comerciais, usando seus portos para exportar para o sudeste asiático. Mas o comércio transcontinental continuou sendo usado, agora sob a proteção de um povo oriundo da Manchúria, os Kitanos. Os Kitanos protegiam a rota da seda, daí o porquê dos ocidentais os confundirem com os chineses, chamando estes de Cathay.
Outro poder localizado no norte da China era representado pelos Jurched (jurchens), que viviam na Manchúria. Da Manchúria também vieram os mongóis, que depois marcharam para o Oeste, para a atual Mongólia.

ORDOS:

Os Kitanos adicionaram ao dicionário eurasiático a palavra Ordos, que era uma espécie de acampamento móvel do Soberano.

MODO DE GUERREAR DOS MONGÓIS:

Os mongóis copiaram o modo de guerrear dos Kitanos e dos Jurchens. A unidade mínima de combate era composta por 10 homens. As maiores respeitavam a ordem decimal: 100, 1000, etc. Membros de tribos diferentes compunham as unidades e cada soldado era responsável por todos os soldados de seu grupo.

"A vida nômade permitia que toda a sociedade fosse mobilizada para a guerra. As mulheres seguiam as campanhas carregando suprimentos, e às vezes lutando ao lado dos homens. Voltar para a casa não era um objetivo - a motivação para a guerra eram os saques, as pilhagens e as partilhas, para então seguir em frente e conseguir mais"
(página 138)

Quando Gengis Khan morreu, seu exército contava com 130 mil homens, entre 1/3 e 1/4 do exército romano em seu auge. Mas Gengis Khan controlava a metade dos cavalos que existiam na época.

CONSTRUÇÃO IMPERIAL AO ESTILO MONGOL:

1167: Nasce Temujin, que viria se tornar Gengis Khan. Seu pai era um "anda", isto é, um irmão jurado de Togrul, líder da poderosa Confederação Tribal Keirat. Após a morte de seu pai, Temujin se viu abandonado pelo clã de seu pai, tendo ao seu lado sua mãe e seus irmãos.
1️⃣Temujin, com a ajuda de seu irmão mais novo, assassinou o irmão de ambos.
2️⃣Temujin foi capturado e feito escravo por um clã rival
3️⃣Temujin conseguiu fugir do cativeiro, casou-se com Borte e buscou ajuda com o "anda" de seu pai, o poderoso Togrul

Togrul era líder dos Keirat, que falavam turco e que tinham budistas e cristãos entre seus seguidores. Prestando serviço a Togrul, Temujin reuniu em torno de si seguidores fiéis. Temujin também era acompanhado por Jamuka, que era seu irmão jurado (anda) e que também tinha o seu séquito.

TEMUJIN VERSUS JAMUKA:

Jamuka (Jamuqa) e Temujin acabaram se tornando chefes rivais na estepe. Os antigos irmãos jurados agora eram inimigos. Nessa disputa quem levou a melhor foi Temujin. 

TEMUJIN TORNA-SE GENGIS KHAN:

Em 1206, num Kurultai, Temujin torna-se Gengis Khan. Gengis (Genghis) eram os espíritos que mandavam na terra. Gengis Khan era o Senhor do Mundo.
Gengis Khan cultivava o poder em torno de si por meio de irmandade por juramento (anda), casamento exógamo, serviço e recompensa, obrigação de vingança. 

OBRIGAÇÃO DE VINGANÇA:

Era um dos tipos da Política das Estepes usada por Gengis Khan na condução de seu Império. Para explicar, daremos um caso concreto: a mãe de Temujin foi sequestrada pelo seu próprio pai. ela estava prometida para um membro da tribo Merkid. Mas aquele que viria ser o pai de Temujin sequestrou a noiva, que por sua vez viria se tornar a mãe de Temujin. Anos depois, a tribo Merkid se vingou de Temujin, sequestrando a sua noiva, Borte. Não importava quanto tempo passasse, não importava que Temujin pagava pelos pecados de seu pai, o que importava era se vingar.

LEALDADE PESSOAL EM DETRIMENTO DOS LAÇOS DE SANGUE:

Gengis Khan nunca esqueceu quando foi abandonado pelo seu Clã, quando da morte de seu pai. Por esse motivo, ele não acreditava em laços de sangue, de forma que revolveu se deixar cercar por pessoas que comprovassem sua lealdade a ele. Quem era leal e fazia o serviço para o qual fora designado recebia a sua recompensa. Gengis gostava de dizer que comia a mesma comida, vestia as mesmas roupas que os criadores de cavalos. Gengis tratava seus guerreiros como se fossem seus irmãos.

AS CONQUISTAS, AS PILHAGENS NÃO PODIAM PARAR:

A lealdade pessoal não vinha de graça. O que mantinha o séquito de um líder reunido em torno dele era a distribuição de pilhagens obtidas por meio de guerras. Se um líder não obtivesse essas pilhagens/recompensas, ele seria abandonado. 

MAIOR TROFÉU PARA SER PILHADO: A CHINA:

A China, com as suas riquezas, era um objetivo óbvio para Gengis Khan. Havia muita coisa a ser pilhada na China: seda, grãos, ouro, algodão, cetim, etc. A China daquela época era governada por duas dinastias: uma no norte, os Jin. Outra no sul, os Song (século XIII). Mas antes de ir saquear a China, Gengis Khan olhou para as regiões pelas quais passava a Rota da Seda. Havia áreas problemáticas no entorno de Gengis Khan (tribos na Sibéria, turcos, império tangut). 
Com os problemas resolvidos, Gengis Khan partiu para a o norte da China, onde governava a Dinastia Jin. A capital Zhongdu foi conquistada em 1215. Os saques foram valiosos e Gengis Khan ainda casou-se com uma esposa da dinastia Jin.

PRÓXIMO ALVO: REGIÃO DA CORÁSMIA:

Região que abrange a margem oriental do Mar Cáspio, atual Usbequistão, Bukhara, Mar de Aral, margem do rio Volga (cidade de Sarai) até o Indo. Gengis Khan,  inicialmente, queria cooperar com o Xá da Corásmia na defesa da Rota da Seda. pois para ele da defesa da prosperidade dos comerciantes dependia o futuro do mundo. Mas o Xá fez pouco caso e não deu importância à Gengis Khan. 
Gengis Khan reagiu a essa afronta atacando a Corásmia, até chegar ao Indo (Paquistão) - 1221.

MORTE DE GENGIS KHAN:

Gengis Khan morre em 1227.

PAX MONGÓLICA:

A Pax Mongólica pode ser vista no final do século XIII, época de florescimento comercial na Eurasia.
Gengis Khan escolheu seu filho Ogodei para sucedê-lo, e assim foi feito, com a confirmação de Ogodei como Khan em 1229. 
O resto da família de Gengis Khan recebeu territórios (ulus) para governar.
Pela tradição eurasiática, o filho primogênito herdava pastagens mais afastadas daquelas pertencentes a seu pai. Na época de Gengis, pastagens mais distantes era aquelas localizadas a oeste por onde cavalgaram os cavalos mongóis. Essas terras ficariam para o seu filho primogênito Jochi. Jochi morreu e em seu lugar assumiu seu filho, Batu. A Ulus de Batu ficava a oeste do Rio Volga.

MAIS CONQUISTAS MONGÓIS:

1️⃣1234: Conquista definitiva do norte da China
2️⃣1250: Parte do Tibete anexada
3️⃣1279: Kublai Khan, neto de Gengis Khan, conquista a parte sul da China (dinastia Song), fundando a Dinastia Yuan
4️⃣1236: Batu, neto de Gengis Khan, conduz seu exército para além dos Urais. Batu foi além, alcançando Polônia, Ucrânia e Hungria, Dalmácia (Mar Adriático). Deteve-se às portas da Áustria, quando foi obrigado a voltar à Mongólia após receber a notícia da morte do Khan Ogodei.
5️⃣Por fim, Batu se estabelece e cria a Horda Dourada (Quipchaco) nas estepes que englobavam o Rio  Volga, a sua capital em Sarai, Moscou, Kiev, etc.
6️⃣Hulegu, irmão de Mongke, o novo Khan, avança para o Sudoeste e conquista Bagdá. Hulegu estabeleceu a dinastia Il-Khans (atuais Irã e Iraque).

A MANEIRA MONGOL DE CONQUISTAR E GOVERNAR:

1º Fase: Conquista/Saque
2º Fase: Reconstrução/Administrar o que foi conquistado, fazendo uso de intermediários locais

"O Império Mongol foi criado no lombo de um cavalo, mas não pode ser governado do lombo de um cavalo" (Frase atribuída ao Khan Ogodei)
(páginas 147/148)

Os mongóis se adaptavam às circunstâncias e podiam até aderir ao repertório de poder eurasiático. Na China mesmo Kublai Khan tornou-se Imperador da Dinastia Yuan (origem do cosmos), para desviar a atenção do fato dos mongóis não serem originários de nenhuma região chinesa.
No que dizia respeito à Religião, os Mongóis eram tolerantes. Essa tolerância vinha das condições encontradas pelos Mongóis durante a sua expansão pela Eurásia. 
-era necessário fazer alianças por meio de casamentos. exemplo: Tolui, o filho mais jovem de Gengis, casou-se com uma mulher cristã
-grande variedade de religiões encontradas
-a existência de conselheiros espirituais - xamãs
Com o tempo, chefes mongóis se converteram para diferentes religiões. O Il-Khan do Ilkhanato (Iraque/Irã) teve várias religiões: budista,, islã, cristianismo). Kublai Khan se tornou budista. 

ROTA DA SEDA:

1️⃣Comércio
2️⃣Envio de Mensagens
3️⃣Passagem de Diplomatas
4️⃣Estações construídas a cada 50, 40km. Serviam para a troca de cavalos de mensageiros, taxação de mercadorias. Para frequentar essa rota, era necessário usar uma espécie de passaporte, o paizi.

O sistema mongol ligava o Oceano Pacífico ao Mar Báltico e ao Mar Mediterrâneo, possibilitando o tráfego de ideias, técnicas e pestes (peste bubônica).

CIDADES ITALIANAS SE BENEFICIARAM DA PAX MONGÓLICA:

Veneza e Gênova se beneficiaram da rede comercial e da pax mongólica criadas pelos mongóis. A partir de portos no Mar Negro, o comércio chegava ao Mar Mediterrâneo (séculos XIII e XIV).

COLAPSO E RECUPERAÇÃO:

O Império Mongol sob uma dinastia teve vida curta (a vida de Gengis Khan), mas ajudou no intercâmbio de tecnologias que deram novas formas às estruturas política, cultural e econômica em vários lugares. A sua decadência se deu pela mesma razão que, lá atrás, a fez expandir por quase toda a Eurásia. A necessidade de expansão, de conquista para obter pilhagens para distribuí-las entre seus súditos, levou ao fim do poder mongol. A sua divisão em Canatos (Il-Khan), terras de Chagatai, Horda Dourada e o Ilkhanato, ou ainda a Dinastia Yuan na China,  acelerou a queda. Os Canatos brigavam entre si. Os mongóis agora eram desunidos. 

PRIMEIRO CANATO A MORRER: IL-KHAN:

Durou de 1256 a 1335. Seu último líder morreu sem descendentes e na luta pelo poder que se seguiu à sua morte, nenhum contendor conseguiu se impor de forma a trazer para si todo o poder do Canato, que acabou se esfarelando, se desmantelando em vários fragmentos de poder.
Os Yuan duraram até 1365. Eles tinham unificado o sul, o centro e o norte da China. No fim, porém, um chinês da Corte traiu a dinastia e estabeleceu a sua própria dinastia, a Ming, expulsando os mongóis de Pequim.
A Horda Dourada passou a se fragmentar a partir de 1438. Os fragmentos de poder eram Canatos menores ao longo do Rio Volga e ao norte do Mar Negro. Esses pequenos Canatos acabariam por ser engolidos por impérios emergentes, como por exemplo, a Rússia.
As terras de Chagatai na Ásia Central (Usbequistão, etc) foram divididas em 2 partes:
-Transoxiniana
-Mogulistão
Na sequência desses acontecimentos, o poder se fragmentou mais ainda. 

A IMPORTÂNCIA DOS MONGÓIS:

▶fizeram da Eurásia um local seguro para o comércio de ideias, mercadorias, tecnologias. forneceram estabilidade à região
▶herdeiros das práticas mongóis criaram os impérios Russo, Chinês e Otomano
▶respeito à religião local. tolerância religiosa
▶uso de administradores locais para os governos


TAMERLÃO:

O enfraquecimento do Império Mongol deu ensejo ao aparecimento de outro conquistador, que se dizia de linhagem mongol. Estamos falando de Tamerlão - Final do Século XIV. Tamerlão era muçulmano de berço e mongol de origem. Falante de turco, conquistou boa parte da Eurásia, ainda que por um curto período de tempo. A capital de Tamerlão ficava em Samarcanda, atual Usbequistão.
Tamerlão ainda conquistaria territórios nos atuais Irã e Afeganistão; conquistaria ainda territórios no Cáucaso, na Horda Dourada e no norte da Índia. Em 1380, Tamerlão já tinha conquistado a Ulus de Chagatai. Tamerlão ainda capturaria Bagdá em 1393. Tamerlão ainda derrotaria os otomanos na Anatólia. Deli, na Índia, cairia em 1398. Sarai, na Horda Dourada, foi saqueada em 1396.

1405: MORRE TAMERLÃO:

Um dos descendentes de Tamerlão fundaria um Império com práticas mongóis na Índia, em 1525 - sob Babur, que duraria 250 anos.
Após a morte de Tamerlão, seu império desmoronou. Seu estilo pessoal de governar consistia em misturar integrantes de tribos diversas. Dividir para governar. Um líder tribal era transferido para longe de seu território para comandar uma tropa integradas por membros de tribos diversas. A ideia era padronizar, desenraizar esses elementos, separando-os de seu passado, de forma que eles, agora, fossem fiéis apenas a Tamerlão.
Sem Tamerlão para manter isso, o sistema desmoronou. O que prevaleceu foram as políticas locais de alianças instáveis. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "IMPÉRIOS, UMA NOVA VISÃO DA HISTÓRIA UNIVERSAL", DE JANE BURBANK E FREDERICK COOPER, EDITORA CRÍTICA, PÁGINAS 131/158