sexta-feira, 27 de junho de 2025

Pedro, o Grande (20) A Rússia no Caminho do Ocidente Pedro realizava várias mudanças ao mesmo tempo Streltsi começam a ser baixados das forcas Moscou violenta Estrangeiros sofriam


A VOLTA DE PEDRA DE SUA VIAGEM À EUROPA. ANO DE 1698/99: A TROCA DO VELHO PELO NOVO:

Imediatamente após o retorno de Pedro à Rússia, muitas coisas aconteceram:

- Os Streltis foram torturados, enforcados, expropriados em seus bens e exilados.
- O casamento de Pedro foi desfeito, com sua esposa Eudóxia sendo exilada num Convento.
- Reformas foram feitas na forma das pessoas se vestirem. Barbas eram cortadas.
- Foram feitas mudanças no sistema monetário e no calendário
- Construções de navios em Voronej
- Zombarias com as tradições da Igreja Ortodoxa (ex.: Sínodo dos Bêbados): "Muitos embaixadores ocidentais ficaram chocados com essa paródia, e o próprio Korb impressionou-se ao notar que a 'cruz, o mais precioso penhor de nossa redenção, era usada em zombarias..." (página 321)

O objetivo de Pedro era levar seu país medieval e atrasado a uma nova era, para fazer frente aos países do Ocidente. Era só o começo. Ele ainda tinha um grande caminho a percorrer. Enquanto estivesse vivo (morreria em 1725), com sua autocracia absoluta, único árbitro da vida e da morte de toda uma nação, iria conseguir colocar a Rússia na direção das Grandes Nações Ocidentais.

QUARESMA DE 1699:

"Na calma da Quaresma, as autoridades finalmente começaram a soltar os corpos dos Streltsi das forcas onde haviam permanecido dependurados durante o inverno e levá-los para ser enterrados. 'Foi um espetáculo horrível', recordou Korb. 'Cadáveres empilhavam-se em carroças, muitos seminus, de forma totalmente desordenada. Como ovelhas abatidas sendo levadas a um mercado, eles seguiam para suas sepulturas."
(página 322)

"Além da vida na corte de Pedro, Korb observou muitas facetas da vida cotidiana em Moscou. O Czar decidiu fazer algo a respeito das hordas de mendigos que seguiam cidadãos pelas ruas desde o momento em que passavam pela porta de suas casas até entrarem em outra casa. Com frequência, esses pedintes conseguiam simultaneamente misturar suas súplicas com furtos de algo dos bolsos das vítimas. Por decreto, pedir esmolas era proibido, assim como encorajar tal ato. Qualquer um que fosse pego dando esmolas era multado em cinco rublos. Para lidar com os mendigos, o Czar anexou um hospital a cada igreja, arcando pessoalmente com esses custos para atender aos pobres. A possibilidade de as condições nesses hospitais serem assustadoras foi sugerida por outras testemunhas diplomática, que escreveu: 'Isso logo afastou das ruas os pobres mendigos, muitos dos quais escolheram trabalhar em vez de serem trancafiados nos hospitais.' "
(página 322)

VIOLÊNCIA URBANA EM MOSCOU:

"Korb estava impressionado, mesmo naqueles dias da ausência de leis em todos os países, pelo impressionante número e pela audácia dos ladrões de Moscou, que agiam em bandos e, ousados, pegavam o que queriam. Em geral, à noite, mas também sob a luz do dia, assaltavam e frequentemente assassinavam suas vítimas. Havia assassinatos misteriosos e não revolvidos. Um capitão marinho estrangeiro, jantando com sua esposa na casa de um Boiardo, foi convidado para sair à noite para andar de trenó na neve. Quando ele e seu anfitrião retornaram, descobriram que a cabeça da esposa havia sido cortada e não havia pistas quanto à identidade ou aos motivos do assassino. Oficiais do governo não viviam mais seguros do que os cidadãos comuns."
(página 322)

A PUNIÇÃO SEVERA NÃO AFASTAVA OS LADRÕES DE SUA ATIVIDADE:

"Não que ladrões, quando pegos, fossem julgados de forma leve. Eles seguiam aos montes para a forca e para a ruína; em um único dia, setenta eram enforcados. Ainda assim, isso não impedia seus colegas de continuarem agindo. Para eles, o crime era uma forma de vida e a desobediência à lei estava tão profundamente arraigada que tentativas de executá-las com frequência geravam uma fúria indignada naqueles acostumados a quebrá-la. Por exemplo: embora o conhaque fosse monopólio do Estado, e sua venda particular fosse estritamente proibida, ele estava sendo vendido em uma casa reservada. Cinquenta soldados foram enviados para cessar o contrabando. Uma briga ocorreu e três soldados saíram mortos. Longe de ficarem assustados ou de pensarem em fugir, os produtores de conhaque ameaçaram uma vingança ainda maior caso a tentativa de confisco de repetisse."
(página 323/324)

ESTRANGEIROS QUE VIVIAM NA RÚSSIA PRECISAVAM TER CUIDADO:

"Estrangeiros precisavam ser especialmente cuidadosos, pois eram considerados presas fáceis não apenas pelos ladrões, mas também pelos moscovitas comuns. Um dos servos de Korb que falava russo relatou ter recentemente encontrado um cidadão que pronunciou uma série de juramentos e ameaças contra todos os estrangeiros: 'Vocês, cachorros alemães, vêm roubando à vontade há muito tempo, mas está chegando o dia em que sofrerão e pagarão por tudo'. "
(página 323)


JOHANN GEORG KORB:

Era Secretário de um embaixador austríaco, lotado em Moscou. Johann escreveu muitos relatos sobre aqueles dias movimentados da Moscou sob o reinado de Pedro. Johann Georg Korb chegou a Moscou em abril de 1689, quando Pedro ainda estava em Londres. 


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "PEDRO, O GRANDE, SUA VIDA E SEU MUNDO", DE ROBERT K. MASSIE, EDITORA AMARILYS, capítulo XX, páginas 312/325)


Pedro, o Grande.




NÃO HÁ JUIZ MAIS IMPARCIAL DO QUE O CANHÃO:

Na época de Pedro, o Grande, os europeus pensavam e as suas nações resolviam seus conflitos baseados no seguinte pensamento:

"Não há juiz mais imparcial do que o canhão. Ele vai direto ao ponto e é incorruptível."
(página 357)

A mentalidade da época via como normal que as nações resolvessem seus problemas no campo de batalha.

OS EXÉRCITOS CRESCIAM:

Na época de Pedro os exércitos cresciam embalados pelo crescimento das receitas tributárias. As máquinas governamentais das grandes nações aperfeiçoavam o sistema de cobrança dos tributos, aumentando assim a entrada de dinheiro no tesouro do Estado. Na esteira desse aumento de arrecadação, os exércitos cresciam.

VAUBAN:

Numa época em que o canhão era visto como a melhor forma de resolver um conflito, pessoas como o francês Vauban ganhavam importância para os Estados. Vauban foi um construtor bem sucedido de castelos para o rei francês Luís XIV. Além de elaborar sistemas defensivos, Vauban também se destacava na parte ofensiva, elaborando cercos e tomadas de castelos.

JOHN CHURCHILL, DUQUE DE MARLBOROUGH:

O Britânico John Churchill, Duque de Marlborough, foi quem deteu Luís XIV no século XVIII. John Churchill nunca perdeu uma batalha. Comandou os exércitos da Europa contra os exércitos franceses de Luís XIV, durante a guerra da Sucessão Espanhola. Foi o guerreiro mais bem sucedido de sua época.

CARLOS XII:

Enquanto uma parte da Europa lutava na Guerra da Sucessão Espanhola (Grã-Bretanha, Áustria, França, Espanha), a parte norte da Europa começaria, no ano de 1700, a lutar na Grande Guerra do Norte (Suécia versus Rússia, Augusto II, o Forte, eleitor da Saxônia e rei da Polônia e Dinamarca).
Carlos XII, então rei da Suécia, durante a eclosão da Grande Guerra do Norte, seria um de seus grandes protagonistas.
Carlos XII, nascido em 1682, era filho de Carlos XI com Ulrica Leonor. Ele acreditava ser um agente de Deus na Terra. Desse enlace real nasceram 7 filhos, dos quais só 3 sobreviveram: o próprio Carlos e suas duas irmãs. Carlos XI morreu em 1697. Um Conselho de Regentes assume o poder, com Carlos XII, com 15 anos, ascendendo ao Trono sueco. Uma das irmãs de Carlos XII casou-se com o Duque de Holstein Gottorp.
Carlos XII era um Monarca Absoluto, o que significava que não era limitado por nada.
Em 1700, com 18 anos de idade, Carlos XII seria defrontado por três inimigos: Augusto II, Eleitor da Saxônia e Rei da Polônia, invadindo a província sueca da Livônia. Ao mesmo tempo, a Dinamarca, inimigo histórico da Suécia, invadia o território contíguo do Holstein. E ainda teria que se ver com Pedro, Czar da Rússia. Carlos XII, um jovem de 18 anos, tendo que enfrentar todos esses inimigos de uma só vez, na Grande Guerra do Norte.

INGLATERRA:

Guilherme III, monarca da Inglaterra, preocupava-se somente com a França de Luís XIV e não queria que seus planos (conter a ambição francesa) fossem atrapalhados por guerras no norte. Queria manter o status quo inalterado.

CONTRA-ATAQUE DE CARLOS XII:

Primeiramente, Carlos XII virou-se contra a Dinamarca. Contou com a ajuda das frotas marítimas da Inglaterra e da Holanda. Como já dissemos, a Inglaterra não queria problemas no norte, desejando que o status quo fosse mantido ali, com a Suécia como a Senhora do Norte.

ATAQUE RUSSO EM NARVA:

A Cidade de Narva ficava na costa sul do Golfo da Finlândia (passagem para o Báltico), numa área denominada INGRIA. Situa-se atualmente na Estônia. Na época de Pedro, Narva pertencia à Suécia. Localizava-se a 120 km da Foz do Rio Neva, na Carélia, onde no futuro seria construída a cidade de São Petersburgo.


Em 4 de outubro de 1700, russos começam a cavar trincheiras ao redor de Narva.
Depois de vencer os dinamarqueses, Carlos XII foi para a Livônia, para levantar o cerco a Narva.
Em 20 de novembro de 1700 acontece a Batalha de Narva. O Exército de Carlos XII vence com facilidade. E esse foi o problema, pois a facilidade encontrada em Narva criou na mente de Carlos XII um juízo errado em relação à Rússia de Pedro. Carlos XII ficou confiante demais e passou a menosprezar os russos. Mas de qualquer forma, a forma como os russos foram derrotados em Narva, fizeram deles motivo de desprezo aos olhos do restante da Europa.

UM EXÉRCITO EM CONSTRUÇÃO:

Pedro entrou para a Grande Guerra do Norte mas seu exército ainda estava em construção. Em seu comando estava o Boiardo Boris Sheremetev - a conferir!!!
Pedro ainda corria para fortalecer suas fortalezas em Pskov e Novgorod, que ficavam próximas à Livônia, província sueca. Para esse trabalho, foram convocados mulheres, crianças, padres e monges. O Czar russo podia agir dessa forma, porque ele, como autocrata, tinha o poder sobre os corpos de seus súditos, enquanto Deus tinha o poder sobre as almas deles.
1/4 dos sinos da Rússia foram transformados em canhão. Todo o esforço do país voltava-se para vencer a guerra contra os suecos. 

CORRIDA POR FERRO E COBRE PARA A FABRICAÇÃO DE ARMAS:

Havia uma corrida pela obtenção de ferro e cobre para a confecção de armas (1701-1705). Siderúrgicas foram criadas. Todo esse esforço era voltado para a produção de canhões para compor a artilharia russa. O cobre era buscado na Sibéria e nos Montes Urais. 

SUCESSÃO ESPANHOLA:

Enquanto no norte da Europa russos, saxões, dinamarqueses e suecos lutavam entre si, na Europa ocidental a preocupação residia na questão denominada 'Sucessão Espanhola."
Carlos II da Espanha tinha morrido, deixando o trono espanhol para Filipe de Anjou, que vinha a ser o neto de Luís XIV. Luís XIV obviamente ficou feliz com a situação e aceitou o trono espanhol em nome de seu neto. Obviamente também que Áustria e Inglaterra não iriam aceitar isso, de forma que a sucessão espanhola iria redundar em mais uma guerra europeia. 

REAFIRMAÇÃO DA ALIANÇA ENTRE PEDRO, CZAR DA RÚSSIA, E AUGUSTO II, O FORTE, ELEITOR DA SAXÔNIA E REI DA POLÔNIA:

Apesar do fracasso da Rússia em Narva, Pedro e Augusto II reafirmaram a aliança contra a Suécia. Segundo esse acordo de 1701, Livônia e Estônia ficariam com a Polônia e a Ingria iria para a Rússia. Augusto II usava a guerra contra a Suécia como uma forma de se fortalecer entre os magnatas poloneses, que o tinham eleito rei. Na Polônia, o rei então não tinha poderes absolutos, como por exemplo Luís XIV, na França. Na Polônia, o poder efetivo estava nas mãos e inúmeros senhores locais, os magnatas, que detinham poderes em suas regiões. Se saísse vencedor da guerra contra a Suécia, Augusto II esperava mudar esse cenário, centralizando o poder polonês em suas mãos. 
Mas enquanto não derrotasse os suecos, Augusto II teria a oposição do Cardeal da Polônia, que dizia que a guerra (contra a Suécia) não era problema da Polônia e que Augusto II agiu sem o consentimento polonês. 

1701: RIGA:

Em 1701, Carlos XII, depois de vencer os russos em Narva, avança com seu exército para o sul, indo a Riga (atualmente, capital da Letônia, às margens do Rio Dvina Ocidental). Carlos XII iria enfrentar 9 mil saxões e 4 mil russos comandados por Steinau. Carlos XII vence mais essa batalha, expulsando os saxões para a Polônia. Augusto II refugiou-se na Polônia. Carlos XII, por sua vez, esperou o posicionamento da Dieta polonesa (espécie de Parlamento, que reunia os magnatas/nobres poloneses) sobre a conduta de Augusto II (iriam apoiá-lo ou iriam abandoná-lo - julho de 1701). 
Os poloneses não concordavam com a guerra contra a Suécia, mas também não foram simpáticos a Carlos XII, dizendo para este que ficasse longe do território polonês. Então, na primavera de 1702, Carlos XII, fazendo-se acompanhar de seu exército, até então invicto, invade a Polônia, para ir atrás de Augusto II. Carlos XII queria pressionar os poloneses para que retirassem Augusto II do trono polonês. Em julho de 1702, suecos e saxões se bateram em Klissow, numa batalha inconclusiva. 

VITÓRIAS DO EXÉRCITO DE PEDRO NA LIVÔNIA:

Enquanto Carlos XII ficava perseguindo Augusto II pela Polônia, sem sucesso, o exército russo, sob o comando de Sheremetev, com base em Pskov, empreendia incursões pela vizinha Livônia, conseguindo pequenas vitórias nessa província sueca. Em contrapartida, navios suecos tentavam bloquear o comércio russo feito no porto de Archangel. 
No verão de 1702, os russos conseguem outra vitória na Livônia, em Hummelshof. Tropas suecas ainda mantinham cidades importantes na Livônia, como Riga, Tartu e Pernau. Os russos agiam como uma espécie de guerrilheiros, queimando vilas, cidades e fazendas na Livônia. 

CUIDADO COM AQUILO QUE VOCÊ DESEJA:

Patkul, o aristocrata livônio, cansado do absolutismo sueco, foi buscar ajuda na Saxônia contra a Suécia. Queria a independência da Livônia. No fim das contas, estava conseguindo trazer a destruição para ela, com o exército russo entrando nela, incendiando cidades, vilas e fazendas. Civis livônios eram capturados pelos russos e depois vendidos como servos na Rússia. Em 1704, Tartu e Narva são capturados pelos russos. 

RUSSOS ATACAM NA CARÉLIA:

Exércitos de Pedro avançam na Carélia, onde atacam os suecos no Lago Ladoga e Peipus. Os suecos tinham uma fortaleza (Noteborg) no Lago Ladoga, de onde o Rio Neva flui para o Golfo da Finlândia. O Lago Ladoga é o maior lago europeu. Noteborg cai nas mãos dos russos e é renomeada para Schlusselburg. A Ingria, a oeste da Carélia, também cai em poder dos Russos. 


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO PEDRO, o Grande, Robert K. Massie, Editora Amarilys,  (capítulos XXIII, XXIV, XXV e XXVI)

Um Homem só pode ser homem em condições humanas Gustaw Herling Grudzinski




POLÔNIA E PAÍSES BÁLTICOS:

Polônia: Ocupação dupla e simultânea. Em 1 de setembro de 1939, a Alemanha Nazista invadiu a parte ocidental da Polônia. Em 17 de setembro de 1939, a URSS invadiu a parte oriental da Polônia

Países Bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia): Ocupação dupla e consecutiva. Em 1940, a URSS ocupa os países bálticos. Um anos depois, em junho de 1941, com o desencadeamento da Operação Barbarossa, a Alemanha nazista invade os países bálticos. Foi uma ocupação dupla e consecutiva.

Vilnius/Vilnya/Wilno - Capital da Lituânia: Até ser ocupada pelos soviéticos em 1940, era um refúgio para os judeus, que fugiam dos nazistas e dos comunistas russos.

A URSS FACILITOU O TRABALHO PARA A ALEMANHA NAZISTA:

Em junho de 1941, o exército alemão partiu mais uma vez para o leste, conquistando a parte oriental da Polônia, a Lituânia, a Estônia e a Letônia, que já tinham sido destruídas pela URSS  nos anos de 1939/1940. Hitler, quando permitiu que a URSS se expandisse para o oeste, ocupando os países bálticos e o parte oriental da Polônia, pretendia com isso facilitar sua própria vida. A ideia era a de que ao invadir esses países por ocasião da Operação Barbarossa, em junho de 1941, já os encontraria de joelhos, destruídos, desprovidos de leis e de um poder central, de forma que a Alemanha poderia fazer o que quisesse ali (página 141)

STALIN E OS POLONESES:

Como relatado acima, os Alemães, em junho de 1941, ao invadirem os países que antes tinham sido invadidos pela URSS, os encontraria de joelhos. O domínio russo na Polônia Oriental resultou em deportações e assassinatos, como por exemplo o episódio de Katyn, no qual oficiais poloneses foram assassinados. Num primeiro momento, a ocupação soviética foi positiva para os camponeses polacos, mas as revoluções ao estilo soviético, em geral, tinham dois estágios: primeiro um aceno aos camponeses; depois, o confisco de suas terras. 
Para a URSS, a Polônia não merecia existir, pois se tratava da criação de uma classe dominante. O objetivo era a destruição da intelligentsia polonesa. Em Katyn, milhares de poloneses foram mortos. Quando a Alemanha chegou na Polônia Oriental, já encontrou o terreno aplainado pelos russos. Poderia acontecer do marido ter sido morto pelos soviéticos e sua mulher, por ser judia, ser morta pelos nazistas. 

A ALEMANHA NAZISTA INVADE A POLÔNIA ORIENTAL - OPERAÇÃO BARBAROSSA, JUNHO DE 1941:

O plano nazista para o resto da Polônia não seria diferente daquilo que já era feito na sua parte ocidental. A ordem era decapitar a intelligentsia polonesa (aquela que ainda não tinha sido decapitada quando da ocupação da URSS). Depois, os poloneses que sobrassem, seriam explorados como trabalhadores braçais. Uma raça inferior, como a polonesa, e os alemães pensavam dessa forma, não merecia uma existência política. Os judeus que viviam na Polônia do leste não eram rico e viviam como intermediários entre os camponeses polacos e os comerciantes nas cidades. 

CAÇA AOS JUDEUS:
ANTES DE EXPULSAR OS JUDEUS DO MUNDO, ERA NECESSÁRIO EXPULSÁ-LOS DO ESTADO, TIRANDO SUA CIDADANIA:

Com a invasão da Polônia e, depois de junho de 1941, da Rússia, a máquina de guerra nazista empreendeu um processo de destruição dos direitos dos judeus. Para a ideologia nazista ser consumada, seria preciso desvinculá-lo do Estado, tirando sua cidadania. Antes de serem expulsos do planeta, precisavam ser destituídos de sua cidadania, deixando de ser cidadãos. (página 140)
Havia todo um processo de privar os judeus de seus direitos. O processo de privação de direitos dos judeus começava com a expropriação de seus bens, tirando-os de suas casas, confinando-os em guetos. A personalidade jurídica do judeu era extinta, tornando-se um nada nas mãos das autoridades nazistas. Só se pode fazer o que se quer com pessoas sem Estado. A máquina nazista ia além de tirar a cidadania dos judeus: ela desumanizava os judeus, colocando-os para viver em guetos em condições degradantes e indignas. 


DEPORTAÇÕES E ASSASSINATOS EM MASSA CRIARAM OPORTUNIDADES PARA OS VIVOS:

Deportações e assassinatos em massa criaram oportunidades para aqueles que não eram os alvos dessas atrocidades. Terras agricultáveis, negócios e casas, da noite para o dia, ficavam sem donos. (página 152)

UCRANIANOS:

Com a Operação Barbarossa, ucranianos nacionalistas viram nos alemães uma oportunidade de se libertar da URSS e da Polônia, criando em seguida um Estado Ucraniano (páginas 159/162) O sonho ucraniano não iria durar muito, pois a Alemanha Nazista não tinha intenção de criar um Estado Nacional Ucraniano. 

JUDEUS QUE SONHAVAM COM A AJUDA DA ALEMANHA NAZISTA:

Os ucranianos sonharam com a ajuda alemã na criação de um estado nacional ucraniano. Não aconteceu. Um grupo de judeus também sonhou com a ajuda nazista para criar um estado nacional judeu na Palestina. O judeu Lehi (Avraham Stern) chegou à conclusão de que os britânicos não moveriam uma palha sequer para estabelecer um Estado Judeu na Palestina. E somente o terrorismo judeu na Palestina não seria suficiente para abalar o domínio britânico na região. Os judeus teriam que contar com ajuda externa. Avraham Stern pensou em pedir ajuda à Alemanha Nazista.
Havia ainda um outro grupo de judeus, sob o comando de Jabotinsky, que tinha um caminho diferente para obter um Estado Nacional Judeu na Palestina. A ideia dele era unir forças com a Grã-Bretanha na luta desta contra a Alemanha. Vencidos os alemães, o Britânicos veriam-se em dívida com os judeus e, em razão disso, ajudariam na criação de um Estado Judeu na Palestina.



FONTE: ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "TERRA NEGRA", O HOLOCAUSTO COMO HISTÓRIA E ADVERTÊNCIA, TIMOTHY SNYDER, EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS.

A Senhora do Norte Suécia Mar Báltico Livônia Grande Guerra do Norte Johannes Reinhold Von Patkul



A SENHORA DO NORTE: A SUÉCIA:

O Império Sueco, antes do início da Grande Guerra do Norte, abrangia o seu atual território (Estocolmo, Uppsala, Lund), ilha de Gotlandia (Visby)
Finlândia (Helsinque, Vasa)
Carélia (Viborg, foz do Rio Neva, Schlusselberg)
Ingria
Estônia (Narva, Talim/Reval)
Livônia (Tartu, Pernau, Riga)
Stralsund (Alemanha), Ilha de Rugen, Estetino (Stettin - Alemanha), Bremen (Alemanha).

TEATRO DE GUERRA: MAR BÁLTICO:

Vários rios desaguavam no Mar Báltico: 
Neva, onde seria construída São Petersburgo;
Duína Ocidental passando por Riga, atual Letônia; 
Vístula, com foz em Gdansk, atual Polônia; 
Oder, passando por Stettin/Estetino, atual Szczecin; 
Neiman/Neman com foz na extinta Prússia, que foi repartida entre a Polônia e a Rússia (Kaliningrado).

Esses rios fazem com que as correntes predominantes sejam para fora do Mar Báltico. E levando mais água doce, a consequência é a produção de mais gelo durante o inverno. Só o mar aberto não congelava. Kronstadt, São Petersburgo (cidade que seria construída por Pedro, na foz do Rio Neva), Estocolmo e Talim/Reval (Estônia) congelavam totalmente no inverno. O Canal entre a Suécia e a Dinamarca também eventualmente congelava. Uma vez o exército sueco se aproveitou disso e atravessou esse Canal para invadir a Dinamarca.

TALIM/REVAL/RIGA: LIVÔNIA:

Essas cidades possuíam uma arquitetura alemã, a religião era a luterana. Sofreram influência dos cavaleiros teutônicos e depois de membros da Liga Hanseática alemã. Estavam sob o domínio da Suécia.

SUÉCIA:

"É uma terra fria, severa e bela, que criou uma raça de pessoas duras e resignadas."
(página 344)

O século XVII foi o século glorioso da Suécia.

"Desde a ascensão, aos 16 anos, de Gustavo Adolfo, em 1611, até a morte de Carlos XII, em 1718, o país esteve no ápice de sua história imperial, cobrindo toda a costa norte do Mar Báltico, e o principais territórios ao longo da costa sul. Isso incluía toda a Finlândia e também a Carélia, Estônia, Ingria e Livônia, envolvendo, assim, toda a área ao redor do Golfo de Bótnia e do Golfo da Finlândia. A Suécia detinha o controle da Pomerânia Ocidental e dos portos de Estetino, Stralsund e Wismar, na costa da Alemanha do norte. Governava os bispados de Bremen e Verden, a oeste da península dinamarquesa, dando acesso ao Mar do Norte. E também controlava a maioria das ilhas do Báltico."
(página 345)

A Suécia controlava o comércio na região do Mar Báltico, por controlar as Fozes dos principais rios que desaguavam ali: Foz do Rio Oder, em Stetino. Foz do Neva, no Golfo da Finlândia; Foz do Duína Ocidental, em Riga. Só não controlava a foz do Rio Vístula, que atravessava o território polonês, em Gdansk.

"O fato de esses vastos territórios serem posse de uma coroa cuja população mal ultrapassava 1.5 milhão de habitante era uma conquista dos grandes comandantes e fortes soldados suecos. O primeiro e maior deles foi GUSTAVO ADOLFO, o Leão do Norte, salvador da causa protestante na Alemanha, cujas campanhas o levaram até o Danúbio, tendo sido assassinado aos 38 anos, enquanto guiava uma carga de cavalaria."
(página 346)

O principal produto de exportação da Suécia era o ferro (minério de ferro), que era exportado por Estocolmo, que tinha 60 mil habitantes.

A GUERRA DOS TRINTA ANOS (1618/1648). ALÉM DE SALVAR A ALEMANHA PROTESTANTE, A SUÉCIA GANHOU VÁRIOS TERRITÓRIOS:

"A Guerra dos Trinta Anos, que continuou após a sua morte (morte de Gustavo Adolfo), terminou com a Paz de Vestfália, que recompensou com abundância os esforços da Suécia. O país conquistou as províncias alemãs que lhe concederam o controle das fozes do Oder, do Weser e do Elba. Essas posses germânicas também resultaram numa anomalia: a Suécia, SENHORA PROTESTANTE DO NORTE, também era parte do Sacro Império Romano Germânico e tinha assentos na Dieta Imperial. Mais significativo do que esse poder vazio, todavia, era o acesso à Europa Central que esses territórios concederam à Suécia. Com eles servindo de ponta de lança no continente, os soldados suecos podiam marchar para qualquer ponto da Europa, e isso tornava o país uma força a ser considerada em todos os cálculos de guerra e paz do continente."
(página 346)

RAZÕES DA GRANDE GUERRA DO NORTE:

Razão História:
Em 1240, Alexander Nevski derrotou os suecos em Narva, na região do Báltico.
Razão Econômica:
Ter acesso aos portos e parar de pagar taxas aos suecos para usá-los. Os russos eram obrigados a usar os portos do Báltico controlados pelos suecos. E para usá-los tinha que pagar taxas, impostos, enriquecendo os suecos e empobrecendo os russos.
Razão Política:
O Mar Negro estava trancado para os russos pela ação dos Otomanos. A Rússia se viu abandonada pelos seus aliados austríacos (Império Habsburgo). A Áustria não tinha mais interesse em continuar sua guerra contra os Otomanos. As forças dos austríacos agora seriam direcionadas contra a França. Pedro e Rússia não podiam, sozinhos, empreender uma guerra contra o Império Otomano. A solução então foi se virar para o Norte, para o Mar Báltico. E para conseguir portos livres no Mar Báltico, era preciso passar por cima da Suécia.

JOHANNES REINHOLD VON PATKUL:

Era um militante pela independência da Livônia. Patkul era membro da aristocracia livônia, que por sua vez tinha raízes nos cavaleiros teutônicos alemães

"Era um patriota sem pátria." 
(página 348)

A política adotado pelo então rei da Suécia (final do século XVII/início do século XVIII) visava a obtenção de mais poderes para a Coroa, em detrimento dos interesses da Aristocracia, da qual Patkul fazia parte. O rei sueco queria diminuir o poder da aristocracia por meio da política da 'redução', pela qual, parte das terras pertencentes aos aristocratas seriam devolvidas ao rei, à Coroa. No absolutismo, o Rei se confundia com o Estado. Patkul, como membro da aristocracia, foi atingido por essa política, daí se tornar um militante pela independência da Livônia, que naquela época era dominada pela Suécia.
Patkul então passou a trabalhar para reunir uma aliança de países contra a Suécia. Ele conseguiu reunir a Dinamarca, a Rússia e o Eleitor da Saxônia e Rei da Polônia, Augusto II, o Forte. No acordo, a Rússia de Pedro ganharia a Carélia (onde seria construída a cidade de São Petersburgo) e a Ingria (localizada a oeste da Carélia).

PAZ COM O IMPÉRIO OTOMANO:

Para guerrear com a Suécia, a Rússia antes precisava estabelecer um tratado de paz com os Otomanos. A assinatura do tratado de armistício veio em 3 de julho de 1700. Assim, a Rússia estava livre para lutar contra a Suécia.

INÍCIO DA GRANDE GUERRA DO NORTE:

Em fevereiro de 1700, 14 mil soldados da Saxônia, então governada por Augusto II, o Forte (que também era o Rei da Polônia), invadem a província sueca da Livônia. A cidade de Riga (atual capital da Letônia) é cercada. Em março de 1700, tropas dinamarquesas atacam territórios suecos na Alemanha. Augusto II e Dinamarca já tinha feito a sua parte. Agora era a hora de Pedro, czar da Rússia, colocar seu exército em campo. A Grande Guerra do Norte iria transformar a Moscóvia numa das grandes potências da Europa. 

"Assim teve início a Grande Guerra do Norte ou, como Voltaire a chamou, 'A Famosa Guerra do Norte'. Durante 20 anos, dois soberanos jovens, Pedro e Carlos (Carlos XII rei da Suécia), brigariam pela supremacia em um conflito que decidiria o destino de ambos os impérios. Nos primeiros anos, de 1700 a 1709, o Czar ficaria na defensiva, preparando a si mesmo, seu exército e seu Estado para a hora em que aríete sueco seria apontado para seu reino. Durante esses anos, em meio às tormentas da guerra, a Rússia daria continuidade à sua transformação."
(página 356)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "PEDRO, O GRANDE, SUA VIDA  E SEU MUNDO.", ROBERT K. MASSIE, EDITORA AMARILYS, capítulo XXII, páginas 342/356

A Destruição de Frederico II




TUDO EM FAMÍLIA E DOENÇAS HEREDITÁRIAS ENTRE OS MONARCAS EUROPEUS:
 
Frederico II nasceu em janeiro de 1712. Frederico era o príncipe herdeiro do reino da Prússia. Tinha nove irmãos, 3 homens e 6 mulheres. Outros quatro irmãos tinham morrido ainda na infância. 
Frederico iria assumir o trono da Prússia no ano de 1740, com a morte de seu pai Frederico Guilherme I. Ganharia o epíteto de "Frederico II, o Grande". 
Frederico tinha parentes importantes. Sua mãe era Sofia Doroteia, filha de George I, Eleitor de Hanôver e futuro rei da Inglaterra. Sofia Doroteia era da linhagem alemã Guelph. Ela era esposa, filha, irmã e mãe de reis. Esposa do rei Frederico Guilherme I da Prússia, filha de um Rei Inglês, George I, mãe de um futuro rei prussiano, Frederico II, e irmão de outro rei inglês, George II.



Sofia Doroteia era prima em primeiro grau de Frederico Guilherme I. Era costume nas monarquias europeias que tudo ficasse em família. 

"Manter tudo em família era, claro, normal para as famílias governantes da Europa. Mas um acervo genético pequeno podia ter consequências indesejadas."
(página 24)

"A instabilidade mental presente na linhagem reapareceria mais tarde em George III da Inglaterra, Frederico Guilherme IV da Prússia e Ludwig II da Baviera..."
(página 24)

"No caso de Frederico Guilherme I - e possivelmente no de George III também - isso se devia à porfiria, uma doença hereditária transmitida à Casa de Hanôver pelos Tudors via Jaime I e sua filha Isabel do Palatinato." 
(página 24/25)

PORFIRIA, A DOENÇA HEREDITÁRIA DE FREDERICO GUILHERME I:

Frederico Guilherme I tinha surtos da Porfiria, que lhe causavam desmaios, gota, inquietação, explosões de raiva, insônia, inchaço nas pernas, inchaço nas genitálias, atrapalhando a sua micção, dor abdominal intensa, etc.
Frederico Guilherme I procurava enfrentar esses momentos com resignação, recorrendo à fé para encontrar um conforto para si. Ele via nessa doença uma expressão da vontade de Deus:

"...desejo sofrer tudo pacientemente. Meu Salvador sofreu tão mais por mim, e eu provavelmente mereço a punição divina pelos meus pecados."
(página 25)

A PERSONALIDADE DE FREDERICO GUILHERME I:

Frederico Guilherme I era autoritário, pão duro e tinha violentas oscilações de humor, provavelmente causadas pela sua doença hereditária. Era ainda apegado ao cristianismo calvinista e era militarista.
Sobre Estado, pessoas e exército Frederico Guilherme I pensava assim:

"...as pessoas existiam para servir o Estado, o Estado existia para servir o Exército e o Exército existia para servir o líder da Casa de Brandemburgo."
(página 26)

Por Casa de Brandemburgo leia-se Dinastia Reinante Hohenzollern, da qual faziam parte os Reis na Prússia, como por exemplo Frederico Guilherme I e seu filho Frederico II.

Frederico Guilherme I desprezava a cultura. Seu passatempo predileto era a caça. Amava a guerra e dizia "...nunca tinha gostado de nada tanto quanto da sangrenta batalha de Malplaquet." página 26 (Batalha realizada durante a Guerra da Sucessão Espanhola)
Frederico Guilherme I, além da caça, gostava de fumar, beber cerveja e conversar com seus oficiais do exército. Era também um cristão devoto. Não era um leitor de livros e, para ele, o entretenimento (teatro, ópera) era coisa do diabo. 

O PAI QUE QUERIA FAZER DE SEU FILHO E HERDEIRO UMA CÓPIA DE SI MESMO:

Frederico Guilherme I queria que seu herdeiro, o príncipe Frederico, fosse uma cópia de si mesmo. Esse desejo iria causar muita infelicidade tanto para o pai quanto para o filho. 
O príncipe herdeiro Frederico passou o início da sua infância num mundo feminino e francófono. Era um "mundinho aconchegante." (página 30).
Mas seu pai viria para tirá-lo desse mundinho aconchegante. Ao final de seus seis anos Frederico passou a ser cuidado por dois tutores vindos do exército. Tinha ainda outro tutor, Jacques Duhan de Jandun, que tinha impressionado Frederico Guilherme I no cerco de Stralsund. A educação ministrada a Frederico deveria transformá-lo num:

- cristão devoto
- administrador econômico, que não esbanjasse o dinheiro do reino
- soldado entusiasmado

Frederico deveria aprender que "não há nada nesse mundo que confira a um príncipe mais fama e honra do que a espada..." (página 30)

O dia começava cedo para Frederico. Acordava às 5:30 da manhã, fazia orações, se lavava, se penteava, se vestia. Na sequência, haveria mais rezas e leitura de trechos da Bíblia. Apesar de toda essa exposição à religião, Frederico, quando adulto, não seria um devoto cristão.
No início, Frederico, para não desagradar seu pai, fingia interesse pelo exército, pela religião. Era ardiloso e inteligente. Por exemplo: fingia gostar de comandar uma companhia composta por 130 cadetes, montada somente para ele quando não tinha completado nem 8 anos de idade.
Mas com o passar do tempo, Frederico Guilherme I, passou a perceber que Frederico não saíra uma cópia sua. Frederico tinha um comportamento afeminado, quando por exemplo, durante uma caça, vestiu luvas porque fazia frio. Também tinha medo do som de tiros. 
Em 1726, Frederico foi feito capitão do Regimento do Rei. Mas as coisas continuavam indo mal. Numa parada militar, Frederico caiu do cavalo, bem na frente de seu pai. 
O cristianismo tampouco atraia Frederico. Frederico considerava o religião cristã uma ficção metafísica (página 32).
Frederico tinha interesse em ler livros, escondidos de seu pai, de Voltaire, John Locke, etc.

QUASE UM FILICÍDIO:

Diante do comportamento errático de Frederico, seu pai, Frederico Guilherme I, tornou-se cada vez mais impaciente e brutal no trato dele. Frederico Guilherme lutava para enterrar os desejos e inclinações naturais de Frederico, visando transformá-lo numa cópia sua. 

"...as tensões naturais do fim da adolescência ultrapassaram muito o normal, chegando à violência e atingindo o ápice com um quase filicídio."
(página 32)

FONTE: LIVRO Frederico O Grande, O Rei da Prússia, Tim Blanning, Editora Amarilys.



TEORIA JURÍDICA DA INEXISTÊNCIA DE ESTADO - PREVALÊNCIA DA LEI DO MAIS FORTE:

A Teoria da Inexistência de Estado, de Carl Schmitt (jurista nazista), nasce do axioma segundo o qual a fonte do direito internacional é o poder e não a norma. (página 168)
Com a destruição de um Estado, o cidadão desvincula-se da velha ordem (Estado que foi destruído) e busca ser aceito pela nova ordem em vigor. E além de se desvincular da velha ordem, irá atribuí-la a um grupo racial/religioso.
Após a operação Barbarossa, em junho de 1941, nas áreas ocupadas pelas tropas nazistas, era cômodo para os habitantes locais que a responsabilidade pelo regime soviético recaísse sobre os judeus. O sujeito se desvinculava de sua responsabilidade pela existência daquele regime, repassando-a para o Judeu. (página 179/180)

Exemplo 1:
Em dezembro de 1941, os alemães, na esteira da Operação Barbarossa, chegam ao sudeste da Polônia, que tinha sido ocupada pelos soviéticos em 1939. Ali, os ucranianos que tinham colaborado com os soviéticos ou que eram comunistas (de setembro de 1939 até junho de 1941), rapidamente se desvincularam da velha ordem soviética e passaram a adotar a nova ordem nazista: dessa forma, para agradar aos nazistas, os ucranianos deram início à Pogroms (campanhas de extermínio de judeus). Era assim que funcionava: a ordem mudava, um Estado (soviético) desaparecia, um novo Estado (Alemanha Nazista) aparecia no lugar daquele que tinha desaparecido, e habitantes locais, os ucranianos, que no passado tinham colaborado com os comunistas soviéticos, com a chegada dos alemães, procuraram desvincular-se de sua responsabilidade com o regime soviético, jogando toda a culpa nos judeus. (página 180)

Exemplo 2:
No nordeste da Polônia (Bialystok), região que tinha sido ocupada pela URSS em setembro de 1939, com a chegada da Alemanha, em junho de 1941, foi vista uma nova reviravolta. Os poloneses que tinham colaborado com os soviéticos passaram a responsabilidade para os judeus, que eram obrigados, ao som de música soviética, a destruírem estátuas de Lênin e de Stalin. (página 183). Adotava-se aqui o Mito Judaico-Bolchevique, que dava suporte à teoria de que os judeus tinham colaborado com a ocupação soviética.

Exemplo 3:
Um lituano, membro do Partido Comunista Lituano,  que tinha colaborado com a ocupação soviética, tinha uma chance de ser perdoado pela nova ordem inaugurada pela invasão alemã. Bastaria que esse lituano passasse a matar judeus. Cada lituano que matava judeus estava desfazendo de seu passado como colaborador do regime soviético. Como coletividade, os lituanos, perseguindo os judeus, estavam apagando o seu passado vergonhoso, pelo fato de terem sido tão facilmente derrotados pelos soviéticos em 1940. Toda a questão da violência antissemita, da perspectiva lituana, se resumia na determinação de demonstrar lealdade antes que os alemães tivessem tempo de apurar que realmente tinha colaborado com os soviéticos. Matar um judeu apagava a mácula de colaboração com os soviéticos. E não faltava judeus na Lituânia. Em Vilnius, capital da Lituânia, havia 100.000 judeus. (páginas 188/192)

Exemplo 4:
A propaganda alemã associava a ocupação soviética nos países bálticos, em 1940, aos judeus. Os judeus tinham sido os culpados pelo fato da URSS ter invadido a Letônia: acusação baseada no Mito Judaico-Bolchevique. O Mito Judaico-Bolchevique era apenas um mito, porque havia judeus ricos que também sofriam sob a ocupação soviética. Acontecia de judeus verem seus bens expropriados pelos ocupantes soviéticos (1940/1941) e depois serem mandados para um Gulag na Sibéria ou não. Se o judeu expropriado ficasse na Letônia, obviamente que ele não iria recuperar seus bens sob a ocupação alemã (1941/1944). Seu bem iria para um alemão ocupante ou para um letão. 
Viktors Bernhard Arãjs: Letão recrutado pelos alemães (junho de 1941), um dos mais eficientes assassinos em massa da história da Europa. Recrutado para matar judeus. Usar Arãjs foi uma ideia de Stahlecker, sob a supervisão de Rudolf Lange. Num primeiro momento, o comando de Arãjs fuzilou os judeus habitantes de Riga, capital da Letônia. Numa segunda etapa, o Comando de Arãjs viajava pelo interior da Letônia, indo de cidade em cidade, reunindo os judeus locais e matando-os. O Comando de Arãjs executou 22 mil judeus e ajudou na morte de outros 28 mil. (página 194)
Pessoas torciam para que judeus expropriados pelos soviéticos (1940/junho1941) não voltassem: Não judeus habitantes da Letônia pensavam como muita gente nessas situações: a única forma de garantir a posse de bens roubados é ter a certeza de que o judeu expropriado não vai reaparecer para reivindicá-lo de maneira bem fundamentada. (página 195/196) Se você era um letão que tinha ganhado uma casa que tinha sido expropriada de um judeu, você não iria querer que esse judeu reaparecesse para reivindicá-la. O melhor para você seria que o judeu, que era o dono da casa onde você mora, tivesse morrido num campo de concentração, num Pogrom, etc.


Letão Vira-Casaca: (página 196)


O Mito Judaico-Bolchevique (judeus são comunistas e comunistas são judeus), adotado pela Alemanha Nazista, foi de grande valia para os ucranianos do sudeste polonês, que antes da invasão alemã eram comunistas ou colaboradores do regime soviético (página 190)
Esse Mito Judaico-Bolchevique, obviamente, era só um mito, pois havia judeus que sofriam com a ocupação soviética.
Para sobreviver, era preciso se adaptar, etnicizando a culpa (jogando a culpa do regime soviético nos judeus).
Para sobreviver, era preciso reorganizar o passado, adotando uma atitude que garantisse a sua sobrevivência sob a nova ordem.
Enfim, aqueles que tinham colaborado com os soviéticos (ucranianos no sudeste polonês e poloneses no nordeste polonês) agora matavam quem não tinha colaborado com os soviéticos. 
Era ruim para os judeus, mas era bom para os alemães e para os colaboradores (ucranianos e poloneses), que reorganizavam o passado a seu favor
Os judeus pagavam o pato, com a adoção do Mito Judaico-Bolchevique: Nas áreas ocupadas pelos alemães em junho de 1941, que antes tinham sido ocupadas pelos soviéticos, judeus desfilavam com bandeiras vermelhas sob canções soviéticas, eram forçados a destruir estátuas de Stálin e Lênin. Mais para a frente, eram mortos em campos de concentração.

"Segundo a lógica nazista, os subumanos (poloneses e ucranianos), se instigados, podiam matar seus exploradores judeus."
(página 185)

FONTE: ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "TERRA NEGRA", O HOLOCAUSTO COMO HISTÓRIA E ADVERTÊNCIA, TIMOTHY SNYDER, EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS.