KALININEGRADO. ATUAL CIDADE RUSSA, ANTIGA CIDADE ALEMÃ DE KONIGSBERG:
Cidade batizada em homenagem a Mikhail Kalinine, um acólito do ditador Stálin (Staline). Localiza-se no Rio Pregolya, a 45 km da costa sul do Mar Báltico.
Kalininegrado, a cidade russa mais ocidental da Federação Russa, foi edificada sobre uma antiga cidade alemã, Konigsberg, que se localizava na Prússia. Konigsberg e Prússia não existem mais. Konigsberg foi a cidade natal de Immanuel Kant (1727/1804) e significa "Montanha do Rei". A Prússia foi extinta em 1947, por decisão dos países aliados que derrotaram a Alemanha nazista na 2º Guerra Mundial. Uma parte daquilo que foi a Prússia alemã é hoje um território russo, um Oblast (distrito administrativo), também denominado de Kalininegrado, situado na costa sul do Mar Báltico, fazendo fronteira com a Lituânia e com a Polônia.
A Rússia ainda tem duas bases navais no Mar Báltico, uma em Kronstadt, perto de São Petersburgo, e Baltiysk, no istmo da Curlândia, a oeste da cidade de Kalininegrado (antiga Konigsberg).
TERRA DOS PRUSAI:
A área que nos interessa localiza-se no litoral sul do Mar Báltico, que era conhecida como a costa do âmbar. Essa região era habitada por povos bálticos, dos quais os prusai faziam parte, ao lado de lituanos e letões. Os prusai formavam o grupo mais ocidental. Esses povos eram subdivididos em tribos, cujos nomes foram coletados por missionários.
"No século IX, o afamano geógrafo 'Bávaro' registrou o nome latino de BORÚSSIA - ou seja, a terra dos Prusai -, do qual derivam todas as variantes modernas do nome da região: Prussia (latim e inglês); Preussen (alemão); Prusse (francês); Prusy (polonês).
(página 397)
"Tribos que ali habitavam viviam da caça, da pesca e das incursões contra os seus vizinhos."
(página 395)
Por incursões contra seus vizinhos, leia-se roubar gado, roubar grãos de celeiros.
"Chamavam-se a si mesmos de prusai ou pruzzi - um nome que deriva de uma raiz indo-europeia relacionada com a água. Dado que tenham se identificado sobretudo com o seu meio ambiente, é plausível chamar-lhes <> ou <> ou ainda, tendo em conta a notável configuração do litora, <>."
(página 396)
Os Prusai viveram intocados até ao século XIII. Escavações arqueológicas descobriram moedas romanas onde os Prusai viviam, fruto do comércio do âmbar, sinal de que eles sabiam da existência do Império Romano. Mas a ascensão e a queda o Império Romano em nada influenciou a vida deles.
Os Prusai eram analfabetos, pagãos e predadores. Não conheciam a agricultura.
GEOGRAFIA DA BORÚSSIA:
O isolamento dos povos bálticos (prusai, letões, lituanos) foi facilitado pela constituição da sua geografia. Istmos de areia estendiam-se pelo litoral, dificultando a penetração em seus rios. Entre esses istmos e o litoral, eram formados lagoas, como exemplo, a lagoa da Curlândia. No interior havia muitos lagos.
TENTATIVA FRUSTRADA DE CONVERSÃO DOS PRUSAI PARA O CRISTIANISMO:
Um Príncipe da Boêmia, em 997, Vojtech, tentou converter os Prusai. Acabou morto por eles. Seu corpo foi resgatado e levado como relíquia para a Catedral de Gniezno. Tornou-se Santo Adalberto da Prússia.
FIM DO ISOLAMENTO DOS PRUSAI:
A oeste, para além do Rio Vístula, havia eslavos ocidentais (cassubianos) reunidos no ducado da Pomerânia. A sul havia o ducado polaco da Mazóvia, com capital em Varsóvia. A leste havia outros povo bálticos, que acabariam por formar o Grão-Ducado da Lituânia e Estados da Livônia.
SURGIMENTO DAS HORDAS MONGÓIS NO SÉCULO XIII:
No século XIII, hordas mongóis devastaram o leste e o centro da Europa. Moscóvia (atual Rússia), Kiev (atual Ucrânia), Polônia, Hungria e Dalmácia, no litoral do Adriático (atual Croácia), foram devastados pelos mongóis. Pilhagens e assassinatos ficaram pelo caminho dos mongóis. Ao mesmo tempo que as hordas mongóis criaram devastação, elas criaram oportunidades:
- colonos alemães dirigiram-se para o leste, para colonizar as áreas devastadas e despovoadas.
- oportunidade para ordens militares religiosas no patrulhamento das fronteiras orientais da cristandade.
MIGRAÇÃO DE COLONOS ALEMÃES PARA O LESTE:
Antes das hordas mongóis oportunizarem áreas para a colonização alemã no leste, o ducado da Pomerânia, governada então por Boguslau, em 1180, jurou fidelidade ao Imperador do Sacro Império Romano Germânico. O resultado é que a Pomerânia foi aberta para a colonização alemã. Essa Pomerânia Ocidental, antes um reino eslavo, tornou-se um feudo do Sacro Império Romano Germânico a partir de 1181. Essa mesma Pomerânia voltaria para a Polônia, ao final da Segunda Guerra Mundial.
Simultaneamente à migração alemã para o leste, Cruzados do norte, tendo à frente os Cavaleiros da Espada e Dinamarqueses, estabeleciam-se na Livônia, onde foram construídas as cidades de Riga (atual capital da Letônia) e Reval (Tallinn - atual Estônia).
UM DUQUE POLONÊS PEDE AJUDA AOS ALEMÃES - 1220:
Em 1220, um duque polonês, Conrado, Duque da Mazóvia, não conseguindo lidar com as depredações dos prusai, pediu ajuda aos Cavaleiros Teutônicos. Ele queria que os Cavaleiros Teutônicos acabassem de vez com os prusai, que agiam na fronteira polonesa, saqueando vilarejos locais. Conrado então ofereceu aos Cavaleiros Teutônicos "um feudo na região de Chelmno (Kulm), na Kulmerlândia, para usarem como base de contenção dos prusai. Segundo se disse depois, parece que Conrado teve apenas em mente uma iniciativa local e limitada. De certeza que não previu que os seus convidados se tornariam rapidamente mais poderosos do que ele."
(página 398/399)
CAVALEIROS TEUTÔNICOS:
"Ordem dos Irmãos da Casa Teutônica da Virgem Maria de Jerusalém (Cavaleiros Teutônicos) fora fundada no século anterior como uma das várias organizações militares criadas pelos Estados Cruzados do Outremer, na Terra Santa, dedicadas à conversão dos infiéis."
(página 399)
HERMANN VON SALZA:
Foi um grã-mestre dos Cavaleiros Teutônicos (1179-1239). O Grã-Meste era escolhido numa eleição pelos irmãos cavaleiros e depois tinha que ser confirmado pelo Papa. Era o comandante em chefe e executivo principal, nomeando os governadores provinciais e os comandantes distritais. Hermann Von Salza participou das negociações que resultaram na presença dos Cavaleiros Teutônicos na Polônia. Era um sujeito que contava com a simpatia do Papado e do Império (Sacro Império Romano Germânico - Frederico II Hohenstaufen). Ele tinha interlocução tanto com o Papa quanto com o Imperador. Isso abriu portas para os Cavaleiros Teutônicos. Essa influência de Hermann Von Salva seria usada nas disputas da Ordem Teutônica com os governantes seculares em cujos territórios a Ordem atuava.
"Essa estratégia fracassou na Hungria, de onde a Ordem Teutônica foi expulsa, em 1225. Na Mazóvia, funcionou na perfeição."
(página 399)
BULA DOURADA DE RIMINI:
"Em 1226, o Imperador do Sacro Império Romano Germânico determinou que o Duque da Mazóvia deveria equipar a Ordem para o combate contra os pagãos e que os territórios conquistados seriam REICHSFREI, isto é, ficariam fora da Jurisdição Imperial. Em 1230, o Tratado de Kruszwica, supostamente assinado pela Ordem e pelo duque, mas do qual não existem vestígios documentais, declarou que a Kulmerlândia ficaria na posse da Ordem como feuda da Mazóvia. Em 1234, a Bula Dourada de Rieti, um documento contraditório emanado do Papa Gregório IX, confirmou as disposições anteriores e sujeitou exclusivamente a Ordem à autoridade papal."
(página 399/400)
Protegidos pelo Papa e pelo Imperador, agora os Cavaleiros Teutônicos não seriam expulsos da Polônia como foram na Hungria. Seguros de sua posição, os Cavaleiros Teutônicos agora iriam se voltar contra os Prusai. A Ordem da Espada foi absorvida pelos Cavaleiros Teutônicos. As campanhas começaram, e na esteira delas vinham os colonos alemães. Era preciso cultivar a terra conquistada. Cidades foram construídas. Pântanos foram drenados e os prusai foram exterminados. A Ordem Teutônica começou a explorar o comércio do âmbar, passou a cobrar impostos, a recrutar soldados. A Ordem acabou se organizando numa espécie de Estado, a ORDENSTAAT.
CONQUISTA DA BORÚSSIA:
A Conquista da Borússia demandou 6 décadas de lutas. Terminou em 1283.
"Não restam dúvidas de que as Cruzadas do Norte foram empreendidas com grande ferocidade de ambos os lados. Diz-se que os cavaleiros teutônicos capturados eram assados vivos com a armadura envergada. Os prusai, quando resistiam à conversão, não tinham melhor destino."
(página 401)
À medida que avançavam, os Cavaleiros Teutônicos iam construindo áreas fortificadas: Elbing, Thorn, Allenstein, Marienwerder, Konigsberg - Montanha do Rei (atual Kalininegrado, fundada em 1255), Marienburg, a Fortaleza da Virgem, no Rio Nogat, em 1274.
PREUSSEN - ORDENSTAAT:
O Ordenstaat defendia o valor supremo do Estado e a subordinação cívica aos fins desse mesmo Estado.
Regiões do Ordenstaat:
Kulmerlândia: Kulm (Chelmno), Thor (Torun), Plock
Região de lagos a norte: povoada por colonos polacos da Mazóvia, os mazúrios (Mazúria/Masurem)
Pomesânia: zona marítima a leste do Vístula - Elbing (Elblag)
Vármia ou Emelândia: Frauenburgo (Frombork) - cidade natal de Nicolau Copérnico.
Samlândia: conquistada pela Ordem em 1250. Península que separa as duas lagoas costeiras: Frisches Haff e Kurisches Haff
RIVALIDADE ENTRE POLÔNIA E ORDEM TEUTÔNICA:
Os poloneses nunca perdoaram os alemães da Ordem Teutônica por eles terem abusado da hospitalidade polonesa. Os alemães foram além do combinado. O combinado era impedir que os Prusai depredassem as vilas polonesas. No fim, os Cavaleiros Teutônicos criaram um Estado. E para enfurecer ainda mais os poloneses, a Ordem Teutônica agora ameaçava tomar a área do baixo Vístula, que cortaria o acesso da Polônia ao mar.
"Desde que os godos tinham partido do Baixo Vístula, no início do milênio, a área fora sistematicamente povoada por tribos eslavas. Juntamente com o porto de Gdansk, tinha pertencido ao Reino da Polônia durante séculos e era o funil pelo qual os contatos da Polônia com o mar tinham de passar. Agora, estava sob uma dupla pressão provocada pelo crescimento constante do Brandemburgo, ao longo da costa para o oeste, e do Estado da Ordem Teutônica, a leste."
(página 404/405)
BRANDEMBURGO:
"Baseado num território estéril e pouco prometedor para além do rio Oder, na Nordmark (Marca do Norte) do Sacro Império Romano Germânico, era originalmente habitado por eslavos, que lhe chamavam Brennidor. Ainda não era um eleitorado do Império nem tinha caído na posse da família Hohenzollern. Era governado pela Casa de Ascania, os herdeiros de Alberto, o Urso (1100 - 1170), primeiro Margrave do Brandemburgo e fundador de Berlim. Um século depois da morte de Alberto, os brandemburgueses atravessaram o Oder e entrincheiraram-se na margem oriental, na Neumark (nova marca). Estavam separados dos domínios mais próximos da Ordem Teutônica por mais de 300 km de territórios da Polônia e da Pomerânia, que era controlada pela Polônia."
(página 405)
"Os poloneses estavam demasiado divididos ou foram demasiado lentos para evitarem o perigo."
(página 405)
"A sua capital localizava-se bastante longe, em Cracóvia, e os seus governantes tinham negligenciado os seus interesses no norte."
(página 405)
"Na década iniciada em 1300, o trono polaco foi temporariamente ocupado pela dinastia boêmia dos Premislidas, que também governava a Hungria e que estava nas tintas para o Báltico."
(página 405)
"O momento crucial foi em 1308/1309, quando um grupo de magnatas da Pomerânia Oriental, ciente das distrações dos seus suseranos nominais polacos, transferiu a sua fidelidade para os brandemburgueses. Depois, numa repetição do erro fatal cometido pelo Duque Conrado da Mazóvia oitenta anos antes, uma facção pró-polaca da Pomerânia pediu ajuda aos cavaleiros teutônicos na defesa da cidade de Gdansk (Danzig). Os teutônicos deitaram mão à cidade, onde, segundo relatos, para facilitar a introdução de colonos alemães submissos, massacraram toda a população. Passado pouco tempo, tinham anexado a totalidade do Baixo Vístula, e a corte polaca apelou em vão a um tribunal papal. Os cavaleiros teutônicos tinham passado do combate aos pagãos para o combate aos seus irmãos católicos."
(página 405)
"No século XIV, as possessões territoriais do Ordenstaat atingiram a sua máxima extensão. A curlândia e a livônia foram fundidas. As últimas rebeliões indígenas foram sufocadas, a economia rural prosperou e várias cidades - Danzig (Gdansk), Marienburgo, Elbing e Konigsberg - aderiram à rede comercial internacional da Liga Hanseática. Construíram-se belas igrejas, como a Marienkirche, em Danzig, ou a Catedral de Frauenburgo...A cruzada prosseguiu fora da Prússia, convertendo-se numa rotina de campanhas sazonais na Lituânia...Os cavaleiros teutônicos tinham criado um Estado disciplinado, determinado e próspero."
(páginas 405/406)
Localidades abrangida pelo Estado da Ordem Teutônica (Ordenstaat):
-CURLÂNDIA: Cidade de Riga, atual capital da Letônia, localizada no Golfo da Curlândia, que se abre para o Mar Báltico.
-MEMEL: Cidade localizada na atual Lituânia, no litoral do Mar Báltico. O território do Ordenstaat ainda abrangia a cidade de Kaunas.
-LIVÔNIA: Cidades de Dorpat e Reval (Tallinn), na atual Estônia.
-PRÚSSIA: Cidades de Konigsberg, Thorn (Torun), Danzig (atual Gdansk, na Polônia), Marienburgo.
REAÇÃO POLONESA AO AVANÇO DOS CAVALEIROS TEUTÔNICOS:
Os polacos iriam começar a agir contra o avanço dos alemães do Ordenstaat. Mas antes de enfrentá-los, era preciso primeiramente unir a Polônia. Em 1320, o Reino da Polônia foi reunificado. Em 1333-1370, a Polônia incorporou a Rutênia Vermelha e cedeu a Silésia ao Sacro Império Romano Germânico. Em 1385, a Polônia se une ao Grão-Ducado da Lituânia, criando o maior Estado europeu daquela época. Era uma união pessoal. Poloneses e Lituanos então iriam preparar um ataque aos Cavaleiros Teutônicos.
BATALHA DE GRUNWALD - 1404:
A batalha aconteceu em território prussiano, em Allenstein (Olsztyn). Poloneses e Lituanos derrotaram os Cavaleiros Teutônicos. Essa batalha marca o início do declínio militar da Ordem Teutônica.
CATÓLICOS BRIGANDO ENTRE SI:
Poloneses e Cavaleiros Teutônicos eram católicos. Mas eram diferentes. Tinha visões diferentes sobre a religião. O Reino Polonês era tolerante, aceitando religiões diversas (cristãos ortodoxos, muçulmanos, judeus, católicos). O Reino Polonês via a religiosidade dos Cavaleiros Teutônicos como uma fachada apenas, atrás da qual escondiam seus verdadeiros objetivos: a expansão territorial.
"Os cavaleiros teutônicos pertenciam à tradição brutal e supremacista das cruzadas da Europa Ocidental, assente no pressuposto de que os infiéis e outros crentes eram para extirpar."
(página 408)
INÍCIO DO DECLÍNIO DO ORDENSTAAT:
A derrota em Grunwald, em 1410, foi apenas o início da derrocada dos Cavaleiros Teutônicos. Outras derrotas viriam. Com a necessidade de reformar o seu exército, os Cavaleiros Teutônicos começaram a aumentar a cobrança de impostos, o que acabou gerando a revolta em algumas cidades mercantis, como por exemplo Danzig. Essas cidades buscaram auxílio no Reino Polonês, o que obviamente desagradou ao Ordenstaat.
TERCEIRA GUERRA POLACO-LITUANO-TEUTÔNICO:
Meados do século XV. Essa guerra durou 13 anos. A Polônia saiu vencedora.
TRATADO DE THORN - 1466:
Com a vitória polonesa na terceira guerra Polaco-Lituano-Teutônico, os Cavaleiros Teutônicos tiveram que aceitar os termos do Tratado de Thorn, que dividiu o Ordenstaat em duas partes:
"A parte ocidental, doravante conhecida por Prússia Real, e que incluía Danzig (Gdansk), foi devolvida ao Reino da Polônia depois de um hiato de 157 anos. A parte oriental, centrada em Konigsberg, permaneceu na posse dos Cavaleiros Teutônicos como feudo polaco. A Ordem perdeu mais de metade dos seus recursos humanos e econômicos."
(página 409)
"A divisão do Ordenstaat em 1466 deu origem a distinções que duraram até à Segunda Guerra Mundial. Apesar de sua história política complicada e de várias mudanças de nomenclatura, a parte ocidental (Prússia Real, Prússia Polaca, Prússia Ocidental e, na terminologia nazista, Corredor Polonês), nunca se voltou a fundir plenamente com a Oriental (Prússia Ducal, Prússia Prussiana, Prússia Oriental). Na perspectiva dos admiradores do Ordenstaat que lamentam as suas desgraças, o Tratado de Thorn foi o princípio da partilha da Prússia."
(página 409)
PRÚSSIA REAL (OCIDENTAL, POLACA OU CORREDOR POLONÊS PARA OS NAZISTAS):
A Prússia Real (Ocidental ou Polaca) tinha uma população etnicamente mista (polaca e alemã). A população alemã predominava nas cidades.
O território da Prússia Real (Ocidental ou Polaca) abrangia o vale do Rio Vístula (baixo Vístula), desde o cotovelo do rio, perto de Thorn (Torun), até ao litoral báltico, "e ainda a província protuberante da Vármia. Os três centros principais eram Gdansk (Danzig), Elbing (Elblag), e Thorn (Torun).
A Prússia Real via na Polônia uma aliada e no vizinho Estado Hohenzollern, um inimigo.
PRÚSSIA ORIENTAL (PRÚSSIA DUCAL/PRÚSSIA PRUSSIANA):
Na Prússia Oriental, os Cavaleiros Teutônicos já não tinham pagãos para converter.
"Os Cavaleiros Teutônicos tinham um problema adicional. O Tratado de Thorn (1466) exigia que os grãos-mestres prestassem vassalagem ao rei polaco. O juramento da vassalagem era uma prática feudal normal e, dado que as terras da Ordem se localizavam fora do Império, não era uma questão na qual o Sacro Império Romano Germânico pudesse interferir. Porém, mesmo assim, era ofensivo."
(página 411/412)
No Século XVI os Cavaleiros Teutônicos fazem uma mudança radical. Abandonam o catolicismo e passam a adotar a religião protestante. Assim, o Grão-Mestre Alberto Hohenzollert, excomungado pelo Papa, demitiu-se.
"A Ordem, juntamente com os cavaleiros que o desejavam, retirou-se para a sua província no norte, a Curlândia-Livônia e os restantes juraram fidelidade à nova fé luterana. De seguida, conforme previamente acordado, Alberto de Hohenzollern (o grão-mestre que tinha se demitido) deslocou-se a Cracóvia para proclamar a sua fidelidade ao rei da Polônia e receber a Prússia como feudo. Segundo o Tratado de Cracóvia, o antigo grão-mestre foi elevado a duque, e as suas possessões tornaram-se um ducado."
(página 412)
O juramento de vassalagem de Alberto de Hohenzollern para o Rei da Polônia (Rei Sigismundo I) foi realizado em abril de 1525. Esse juramento era refeito sempre que havia uma mudança de rei na Polônia ou de Duque na Prússia.
"A Europa esquecer-se-ia, mas houve uma altura em que o rei da Polônia era o chefe, e o Hohenzollern o subordinado."
(página 413)
Houve um tempo em que membros da Dinastia Hohenzollern, que iria governar o Império Alemão nos séculos XIX e início do século XX, iriam prestar vassalagem a reis poloneses. Esse era o tipo de informação que não constaria nos livros de História durante a Alemanha Nazista.
A partir de 1525, como já registrado, o Ducado da Prússia, sucessor do Ordenstaat, foi um feudo do Reino polonês. Manteve esse estatuto em 1569, quando, através da União de Lublin, o Reino da Polônia e o Grão-Ducado da Lituânia formaram a RZECZPOSPOLITA ou Comunidade da Polônia-Lituânia.
A Prússia Ducal era protestante. A sua suserana, a Polônia, era católica. Mas a Polônia era um reino tolerante, de forma que não foi uma entusiasta da Contrarreforma.
A capital da Prússia Ducal era Konigsberg, que os poloneses chamavam de Królewiec. Tinha uma Universidade Protestante independente, a Albertina (a partir de 1544). Tinha uma Casa da Moeda ducal que cunhou moedas de qualidade com a inscrição em latim << Justus Ex Fide Vivit >> (O Justo vive pela fé).
ALBERTO HOHENZOLLERN:
Em 1525, torna-se Duque da Prússia. Sua mãe era polonesa. Reis poloneses eram seus parentes (um primo e um tio). O seu governo na Prússia durou mais de 40 anos, durante o qual enfrentou revoltas de camponeses, que queriam acabar com a miséria e a servidão. Alberto as sufocou com ferocidade. Em 1530, Alberto aliou-se a outros pequenos Estados alemães numa luta contra o Sacro Império Romano Germânico (Guerra da Liga de Schmalkalden). A luta era para conquistar para os Estados protestantes o direito de autodeterminação, terminando com a aceitação do Príncípio
"cuius regio, eius religio." (a religião do rei é a religião do povo).
FAMÍLIA HOHENZOLLERN:
Alberto Hohenzollern, duque da Prússia, era católico. Mas seus primos em Brandemburgo eram católicos. Joaquim I Nestor (1491/1535), primo de Alberto e Margrave-eleitor de Brandemburgo, abrigou os filhos, sob pena de deserção, jurar fidelidade eterna à fé católica.
Margrave eleitor ou Príncipe Eleitor do Sacro Império Romano Germânico (Kurfurst): Secular como o de Brandemburgo, havia mais 4, como o Rei da Boêmia e o Duque da Saxônia. Havia a palavra 'eleitor' porque eles elegiam o Imperador do Sacro Império Romano Germânico.
Em 1555, Joaquim II Heitor (1535/1571), sucessor de Nestor , mudou a religião de Brandemburgo, e "proclamou formalmente o luteranismo como a religião do Brandemburgo." (página 416)
APROXIMAÇÃO DOS HOHENZOLLERNS DA PRÚSSIA COM OS HOHENZOLLERNS DE BRANDEMBURGO:
Tudo começou com a morte de Alberto Hohenzollerns. Seu filho, Alberto Frederico, era doente, mas mesmo assim teve um longo reinado.
"Segundo o costume, um feudo podia ser revogado em casos de inexistência de herdeiros ou de incapacidade de herdeiro, e a família viu-se obrigada a tomar precauções. Primeiro, os Hohenzollerns de Berlim (Brandemburgo) persuadiram o monarca polonês a vender-lhes os direitos à reversão do ducado. Isto significaria que caso Alberto Frederico ficasse incapacitado de forma permanente, os Brandemburgueses tinham o direito de agir como seus herdeiros legais. Segundo, os Hohenzollerns de Berlim nomearam um berlinense como regente da Prússia. Terceiro, em 1594, casaram a filha do duque doente Alberto Frederico com o filho do Margrave-Eleitor, João Sigismundo.
(página 417)
E os poloneses? Viam toda essa movimentação e não faziam nada? Na realidade, nesse momento, o Reino Polonês era governado por um sueco da Dinastia Vasa, que estava mais interessado na guerra civil que se desenrolava em seu país do que com o destino da Prússia.
1618: MORRE ALBERTO FREDERICO.
Com a morte de Alberto Frederico, acontece uma União Pessoal entre Brandemburgo e a Prússia Ducal, sob o governo de João Sigismundo. Mas João Sigismundo, inesperadamente, morreu um ano depois. Seu filho, Jorge Guilherme, teve dificuldades em manter essa União Pessoal entre a Prússia Ducal e Brandemburgo. Mas no fim, após negociações com os poloneses, ele conseguiu manter a união entre Brandemburgo e a Prússia Ducal.
ESTADO DUAL: BRANDEMBURGO E PRÚSSIA DUCAL:
Criado em 1621, com o jovem Jorge Guilherme jurando fidelidade ao seu suserano, o rei Polonês, pois a Prússia Ducal continuava sendo um feudo polonês. Jorge Guilherme agora era Margrave-Duque-Eleitor.
A Dinastia Hohenzollern pode ser entendida como uma espécie de empresa familiar. E ela não estava sozinha na sua época e o modo de agir era igual para todas as dinastias. No caso particular da família Hohenzollern, ela possuía o eleitorado de Brandemburgo. Mas como toda empresa, ela queria expandir seus negócios, adquirindo mais. E essa aquisição veio na forma da Prússia Ducal. A oportunidade surgiu e o negócio foi feito. A Prússia Ducal foi uma ativo a mais adquirido pela Dinastia Hohenzollern, acrescentando poder a ela.
"Entre 1621 e 1657, o Ducado da Prússia foi governado a partir de Berlim, mas como elemento separado e distinto do Estado Dual independente do Brandemburgo-Prússia. A sua ligação feudal à Polônia impunha algumas obrigações residuais, mas na prática resumia-se a não fazer oposição aos interesses de política externa do suserano."
(página 420)
O Ducado da Prússia, portanto, apesar de ser parte do Estado Dual Brandemburgo-Prússia, continuava sendo um feudo polonês e, como tal, tinha ainda obrigações residuais com esta.
FREDERICO GUILHERME - O GRANDE ELEITOR - DER GROSSEN KURFURST:
Com a morte de Jorge Guilherme, Frederico Guilherme, seu único filho, torna-se duque da Prússia e eleitor de Brandemburgo. Frederico Guilherme, o Grande Eleitor, governou de 1640 a 1688. Ele tentava se equilibrar entre duas lealdades: lealdade à Polônia, por ser o Duque da Prússia, que era um feudo polonês; e lealdade ao Sacro Império Romano Germânico, governado por um Habsburgo, por ser um eleitor de um Estado alemão.
A administração de Frederico Guilherme, o Grande Eleitor, tornou notável o Estado Hohenzollern, por adotar uma política mercantilista, militarista e de tolerância religiosa. Era tolerante porque via que a Tolerância religiosa, adotada na vizinha Polônia, era algo positivo. Tornou-se militarista por constatar que, a Polônia, um dos maiores países da Europa, tinha deficiências, por não possuir um exército profissional e permanente. Ele, Frederico Guilherme, iria criar um exército permanente e profissional para o seu pequeno Estado, pois era a única forma de sobreviver. E para manter esse exército profissional e permanente, era necessário ter dinheiro, que viria com uma administração eficiente da economia (mercantilismo).
ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "REINOS DESAPARECIDOS, HISTÓRIA DE UMA EUROPA QUASE ESQUECIDA", NORMAN DAVIES, EDITORA EDIÇÕES 70, páginas 385/423