sexta-feira, 24 de abril de 2020

Egito A África e o Mundo Antigo



A ÁFRICA E O MUNDO ANTIGO
Terra dos Faraós:

Rei Narmer: União do Baixo e do Alto Egito

1º Dinastia Narmer
Eixo Norte Sul. Partindo-se da costa sul do Mar Mediterrâneo, no Delta do Rio Nilo. Na sequência, há o Baixo Egito (local de origem de cidades como Cairo, Mênfis, Saqqara, Gizé, Heliópolis, Heracleópolis, etc). Seguindo a sul, temos o Alto Egito (Tebas). Na sequência, descendo mais para o sul, a 1º Catarata do Rio Nilo (Elefantina/Assuã). Nessa área, havia uma fortaleza para proteger a fronteira sul dessa Primeira Dinastia Narmer, que uniu o Baixo e o Alto Egito.
Fronteira sul do Reino da Dinastia Narmer: 
Seguindo para o sul, temos a Baixa Núbia. Mais para o sul, temos a Alta Núbia, onde se localiza a 3º Catarata do Rio Nilo. Seguindo para o sul, encontramos a 5º catarata do Nilo, onde este recebe as águas do Rio Atbara, vindo de leste. Na sequência, o Rio Nilo continua se caminho  dito indo a oeste, em direção a Cartum, passando antes por Menroe e pela 6º Catarata. Finalmente, o Rio Nilo encontra seus dois rios formadores, o Nilo Azul e o Nilo Branco. 

ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO:

Havia toda uma burocracia direcionada para a governação. Governadores provinciais, funcionários para coletar impostos. Camponeses davam uma parte de sua produção para o Faraó ou tinham que trabalhar em projetos reais. Havia oficinas reais cujas vendas geravam receitas para o Estado.

FARAÓ:

O Faraó era o Deus vivo, visto como a manifestação do divino, encarnação terrena de Hórus, a divindade suprema. Era o símbolo de estabilidade e prosperidade. A soberania divina estava arraigada na mente dos egípcios. Grande parte da riqueza dos Faraós foi direcionada para a construção de túmulos grandiosos para garantir uma boa vida após a morte.

TERCEIRA DINASTIA:

A terceira dinastia deu origem à era das Pirâmides. A busca pela vida eterna era uma preocupação constante.

QUARTA DINASTIA:

Rei Queóps queria uma Pirâmide que superasse a de seus antecessores. Seria o local de seu sepultamento. Estamos falando de 4.500 a.C. .
Quéfren, filho de Queóps, construiu para si uma pirâmide e uma enorme estátua que hoje é conhecida como a Esfinge. A construção desses monumentos acarretava uma sangria nos recursos do Estado.

DEUSES EGÍPCIOS:

Hórus, Rá, o Deus Sol. Com o passar do tempo, o culto a Rá tornous-e o mais importante. Outro Deus importante para os egípcios era Osíris, o rei da Terra dos Mortos - o submundo.

SEXTA DINASTIA:

Após a sexta dinastia, o Egito enfraqueceu. O poder central cedeu terreno para os poderes locais, que se engalfinhavam numa guerra civil (Antigo Império).

MÉDIO IMPÉRIO:

Século XXI: O Poder Egípcio volta a ser centralizado. A situação econômica melhora. Uso da irrigação permitiu o uso de mais terras para a produção. Expedições comerciais para o Levante e ao Punt (terra africana no extremo sul do Mar Vermelho. O Médio Império duraria 400 anos. O fundador do Médio Império era o vencedor da Guerra Civil. Era proveniente de Tebas, no Alto Egito. Seu nome era Mentuhotep II. Tebas tornou-se a nova capital.

A ALMA PARA OS EGÍPCIOS:

A ideia de alma para os egípcios, antes atribuída apenas ao rei (apenas o rei tinha alma), passou a ser entendida como extensiva às pessoas comuns - Ba - força espiritual que trazia as características únicas de um indivíduo e que sobrevivia à morte.

CULTO AOS DEUSES:

Antes restrito aos faraós, o culto aos deuses passou a ser realizado pelas pessoas comuns. Osíris tornou-se o Deus Universal que representava a luta do bem contra o mal e que prometia vida após a morte.

EXPANSÃO DO EGITO:

No Século XX a.C,. na Décima Segunda Dinastia, o Egito expandiu-se para o sul, para a Baixa Núbia.

HICSOS - SECULO XVII a.C.:

Povo originário do Levante. Invade o Baixo Egito e captura Mênfis. Um Egito residual sobrevive em Tebas. Os Hicsos tinham pontas de lança, flechas e machados forjados a Bronze.

NOVO IMPÉRIO:

Guerra de Libertação contra o domínio estrangeiro (hicsos). Décima oitava dinastia, sob Amósis I, expulsa os Hicsos e reconquista a Baixa Núbia. O Egito tornou-se um Império, abrangendo terras no Eufrates, na Síria, e o Alto Nilo, na Núbia.
O Egito agora contava com um exército profissional, com tecnologia copiada dos Hicsos.

EGITO AVANÇA PARA A ALTA NÚBIA:

1492 a.C. : Egito avança para a Alta Núbia, para o Reino de Kush, que torna-se uma colônia egípcia. Essa colônia enviava escravos, ouro, marfim e gado para o Egito.
1458 a.C. : Egípcios dominam Canaã e Síria. Havia ainda empreitadas comerciais com os africanos no Punt. Egípcios ainda frequentavam o Mar Vermelho, de onde rotas comercias eram exploradas, em busca de peles, marfim, incenso, etc.

UNIÃO DE DOIS DEUSES:

Em Tebas, dois deuses se fundem: Amon + Rá = Amon-Rá.

SOCIEDADE EGÍPCIA:

A Elite era formada pelos oficiais do exército, funcionários do Estado, sacerdotes e prefeitos. Não importava a posição ou status: TODOS OS EGÍPCIOS SE PREOCUPAVAM COM A VIDA APÓS A MORTE. Havia no Egito um Livro dos Mortos ou Livro para Sair à Luz do Dia. Era um Manual que explicava ao recém-falecido o caminho para se atravessar o DUAT (submundo), entrando na vida após a morte.
Acreditava-se que ao morrer o espírito da pessoa abandonava o corpo do defunto e começava uma jornada em busca da vida após a morte. Essa jornada incluía vários obstáculos que o Livro dos Mortos buscava ensinar a maneira correta de transpô-los. Ao final dessa jornada, havia um julgamento para ver se aquela alma seria aceita na vida após a morte ou não.

FARAÓ AKHENATON:

Esse Faraó, em busca do poder total, tentou emplacar o monoteísmo no Egito. O único Deus seria Aton (divindade solar) e Akhenaton seria seu filho. Depois de sua morte, seus sucessores buscaram desfazer o seu trabalho, retornando ao politeísmo.

INÍCIO DO SÉCULO XIII a.C.:

O Egito era um Império; os Faraós eram vistos como reis divinos de quem o bem estar da população dependia.

RAMSÉS II:

Governou por 67 anos - 1279-1213 a.C. Construiu uma nova capital dinástica. Depois de Ramsés II, a economia começou a vacilar, sob o peso das grandes obras (palácios, santuários, templos, etc) e do custo da manutenção do exército. Um período de baixas cheias do Nilo piorou a situação. No Levante, o Império Egípcio começou a colapsar.

"O reinado de Ramsés II marcou um pico na história do Egito. Nunca mais os faraós alcançaram tal prestígio e autoridade. Seus sucessores foram assolados por conspirações palacianas e rivalidades destrutivas. A economia, sobrecarregada por despesas militares e pelo custo dos grandes projetos, começou a vacilar. Um período de baixas cheias do Nilo piorou a situação. As fronteiras do Egito eram ameaçadas por incursões vindas da Líbia e por ataques de exércitos saqueadores dos Povos do Mar chegando pelo Mediterrâneo oriental."
(página 36)

O império egípcio no Levante entrou em colapso.

"Tebas foi atingida por um surto de greves, distúrbios civis e roubos de tumbas."
(página 36)

GUERRA CIVIL - 1069 a.C.:

Egito dividido novamente por uma guerra civil. O Novo Império chegou ao fim.

"Quando Ramsés XI morreu, em 1069 a.C., o Novo Império chegou ao fim em meio ao caos e à desordem, com o Egito dividido em dois e vulnerável à invasão de predadores estrangeiros."
(página 37)

DECADÊNCIA DOS TIRANOS E DE SEUS IMPÉRIOS:

Toda glória é passageira. Os Faraós experimentaram o apogeu do poder. No fim, tudo caiu por terra. O que sobrou disso tudo foram estátuas desses Faraós imersas na areia:

Encontrei um viajante de uma terra antiga
Que disse:
'Duas pernas de pedra imensas e sem corpo
Jazem no deserto. Perto delas, na areia
Reside, metade afundado, um rosto partido, cujo cenho
lábio enrugado e sorriso de frio comando
Dizem que seu escultor compreendeu bem aquelas paixões
Que ainda sobrevivem, estampadas nessas coisas inertes
A mão que delas zombou e o coração que as alimentava
E no pedestal aparecem estas palavras':
'Meu nome é Ozimândias, rei dos reis
Olhem minhas obras, ó poderosos e desesperem-se!'
Nada mais resta
Em torno da decadência
Da ruína colossal, nuas e sem limite
As areias solitárias e planas se estendem ao infinito.
(Poeta inglês Percy Bysshe Shelley, 1817)
(página 37)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O DESTINO DA ÁFRICA, CINCO MIL ANOS DE RIQUEZAS, GANÂNCIA E DESAFIOS", MARTIN MEREDITH, EDITORA ZAHAR, páginas 23/37

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Rota para o Céu Cruzadas Cidades Estados italianas Comércio e Religião Saladino Chifres de Hattin 1187



ROTA PARA O CÉU:
↪ Conquista de Jerusalém:

Como resultado da Primeira Cruzada, Jerusalém caiu nas mãos dos cruzados cristãos, em 15 de julho de 1099. Essa conquista foi feita com grande derramamento de sangue. Os cristãos não foram misericordiosos.

"Nem as mulheres ou as crianças foram poupadas"
(página 161)

A conquista de Jerusalém inundou a Europa ocidental de otimismo e autoconfiança. Poderia a Europa ocidental vir a dominar o mundo? O Oriente próximo, agora com cidades governadas pelos cristãos, como Antioquia, Jerusalém, Tiro, Trípoli, seria o trampolim de uma expansão europeia ainda maior? Mas os sonhos europeus de dominar o mundo não se concretizaram. O que houve foi um esforço apenas para manter o que foi conquistado. O trabalho dos cruzados foi facilitado pelo fato do mundo muçulmano estar dividido entre Fatímidas (Cairo) e Abássidas (Bagdá). Ambos, Fatímidas e Abássidas, ficaram inertes. Naquele momento, era menos ruim ver cristãos dominando Jerusalém do que ver muçulmanos rivais mandando ali.

CONSTANTINOPLA TRAÍDA PELOS CRUZADOS CRISTÃOS:

Ao passarem por Constantinopla, a caminho da Terra Santa, os Cruzados prometeram que as cidades reconquistadas aos muçulmanos seriam entregues ao Império Bizantino. Mas no decorrer da expedição, os cruzados mudaram de ideia. Boemundo, um normando e um dos heróis da primeira cruzada, não queria devolver a cidade de Antioquia (atual Turquia) para o Imperador Bizantino Aleixo I. Antioquia, originalmente, pertencia à Constantinopla, tendo sido conquistada pelos islâmicos. Mas ninguém convenceria Boemundo do contrário. Boemundo ficou com Antioquia.

"Juramos sobre a cruz do Senhor, sobre a coroa de espinhos e muitas outras relíquias sagradas de que não ficaríamos sem o consentimento do Imperador com nenhuma cidade ou castelo de seus domínios." - Juramento de Raimundo de Toulouse, um dos nobres líderes da Primeira Cruzada.
(página 164)

Boemundo ficou com os domínios do Imperador bizantino pois via neles uma plataforma, a partir da qual poderia alçar voos mais altos, conquistando mais riquezas no leste asiático. O comportamento de Boemundo mostra que as Cruzadas eram um caldeirão no qual eram colocados sentimentos religiosos, desejos por riqueza e poder político.

"A Cruzada talvez seja mais lembrada como uma guerra de religião, mas foi também um trampolim para a aquisição de grande riqueza e poder."
(página 164)

NOBRES EUROPEUS QUE NÃO SE ENTUSIASMAVAM COM AS CRUZADAS:

Havia nobres europeus que não se entusiasmavam com as cruzadas. Um deles era Rogério da Sicília que, ao ouvir sobre as cruzadas, levantou sua perna e soltou um peido, demonstrando seu desprezo pela empreitada. Rogério temia que as Cruzadas causassem um declínio do comércio.

DOMÍNIO DO MEDITERRÂNEO - MUÇULMANOS E CIDADES-ESTADOS ITALIANAS:

Nos séculos X e XI, o Mar Mediterrâneo era dominado pelos muçulmanos. Com as Cruzadas, os muçulmanos ganharam rivais cristãos vindos das Cidades-Estados italianas de Veneza, Gênova, Pisa e Amalfi. Veneza já se aventurava pelo comércio antes de 1090, com pontos de apoio na Dalmácia (atual Croácia), fazendo seu comércio de escravos e outras commodities. Ao contrário do nobre Rogério da Sicília, as Cidades-Estados da Itália viam nas Cruzadas uma oportunidade para ganhar dinheiro. Essas Cidades-Estados italianas eram motivadas por religião e cobiça. Em troca de ajudar os Cruzados, ganhavam vantagens materiais. Venezianos ajudaram na conquista da cidade de Acre (1100), enquanto Gênova ajudou os Cruzados no cerco a Cesareia (1101). Em 1104, Balduíno, Rei de Jerusalém, premiou Gênova com isenções de impostos, receitas, etc. Em troca disso, os genoveses tinham que dar suporte militar nas campanhas realizadas pelos cruzados.
As Cidades-Estados italianas disputavam entre si a posição de maior poder. Em 1099, frotas venezianas afundaram vinte e oito navios de Pisa.


FUSÃO DO ESPIRITUAL COM O MATERIAL:

Os séculos das cruzadas (séculos XI-XII-XIII) foram marcados por uma profunda religiosidade.

"Mas a religião tinha que abrir caminho pela real politik e pelas preocupações financeiras."
(página 169)

Exemplo de união entre o Material e o Espiritual: Quando Edessa (atual Turquia) foi tomada pelos muçulmanos em 1144, a Europa buscou recrutar cristãos para retomar a cidade. Além da promessa do perdão dos pecados e da salvação eterna, foi oferecida a oportunidade de negócios comerciais.

"Para aqueles entre vocês que são mercadores, homens rápidos para achar uma barganha, permitam´me enfatizar as vantagens dessa grande oportunidade. Não deixem de aproveitá-la." (Bernardo de Clairvaux - Carta aberta para recrutar Cruzados)
(página 169)

Apesar do discurso religioso, as Cruzadas tinham um objetivo comercial bem acentuado. Subjacente ao apelo religioso, havia interesses materiais, no sentido de conectar a Europa Ocidental ao mercado asiático. Na Quarta Cruzada, aquela que redundaria na conquista de Constantinopla, o primeiro alvo a ser atingido era o Egito, que era famoso por sua riqueza. Jerusalém só viria depois. E não foi a primeira vez que tentaram deixar Jerusalém em segundo plano. Nas Cruzadas de 1189/1192, que foi um fiasco, um de seus líderes, Ricardo I da Inglaterra (Coração de Leão), em dado momento da campanha, quis desviá-la de seu destino original, Jerusalém, para o rico e milionário Egito. E nessa mesma Cruzada, a atenção dos cavaleiros voltou-se para a cidade de Saint Jean d' Acre (Acre), "principal empório do Levante, sem qualquer valor do ponto de vista bíblico ou religioso." (página 179)

SÉCULO XII NA ITÁLIA:

A Itália experimentava um período de prosperidade, tudo causado pelo comércio desempenhado pelas Cidades-Estados de Gênova, Pisa e Veneza. Mercados se expandiam, classes médias se formavam. Valiam-se das posições privilegiadas conquistadas nos Estados Cruzados (na Terra Santa) e em Constantinopla.
O comércio com o leste fez a Europa prosperar no século XII. Havia comércio com os muçulmanos, no interior mesmo dos Estados Cruzados, na Terra Santa. 

"A demanda por seda, algodão, linho e tecidos produzidos no Mediterrâneo oriental, no meio da Ásia ou na China, era enorme..."
(página 172)

"As especiárias também começaram a fluir do Oriente para a Europa em volumes cada vez maiores."
(página 173)

CERTO GRAU DE ESTABILIDADE ENTRE CRISTÃOS E MUÇULMANOS:

A prosperidade comercial era possível graças à existência de um certo grau de estabilidade que existiam entre muçulmanos e cristãos, apesar das Cruzadas. O que política e religião desuniam, o comércio unia.

"É impressionante ver, escreveu Ibn J., que o fogo da discórdia arde entre cristãos e muçulmanos quando se trata de política e luta, mas, quando se trata de comércio, os viajantes podem ir e vir sem interferências." (Ibn J., visitante muçulmano da Espanha)
(página 176)

"Mercadores podiam contar com segurança onde quer que fossem, não importava sua fé ou se eram tempos de guerra ou de paz."
(página 176)

Mas essa prosperidade acabou causando uma disputa ainda mais acirrada entre as Cidades-Estado italianas pelo controle do comércio no Mediterrâneo, no final do século XII. Essas cidades brigavam entre si e contra Constantinopla. Era a cobiça pela riqueza que falava mais alto, causando uma divisão entre os cristãos, que seria utilizada por Saladino, em sua campanha para a reconquista da Terra Santa para os muçulmanos.

SALADINO E A DIVISÃO ENTRE OS CRISTÃOS:

Saladino, líder dos muçulmanos, se aproveitou da disputa dos cristãos pelo comércio. Ele soube explorar essa divisão entre os cristãos. Ele ainda procurou criar mais animosidade entre Constantinopla e o ocidente. Era dividir para conquistar. Ao final da década de 1180, o Imperador Bizantino Isaac II trocou cartas com Saladino, então Sultão no Egito. O sentimento antiocidental crescia em Constantinopla, em meados do século XII. Bizantino viam nos cristãos ocidentais apenas cobiça. A análise negativa dos habitantes de Constantinopla sobre os cristãos ocidentais estava correta. Em 1204, quando uma cruzada devastou e saqueou Constantinopla, os piores pesadelos dos bizantinos se materializaram. Os venezianos, que participaram da Cruzada de 1204, viam na conquista de Constantinopla uma oportunidade de ouro, uma porta escancarada para o comércio com o oriente. Escadas, aríetes e catapultas foram usadas pelos cristãos do ocidente para transporem os muros que guarneciam a cidade de Constantinopla. Dentro de Constantinopla, os cristãos saquearam, mataram, pilharam e profanaram as igrejas. Os clérigos cristãos colocavam mais lenha na fogueira, de forma a colocarem os cruzados contra os bizantinos, dizendo que estes faziam pouco caso das leis emanadas de Roma. "Os bizantinos, segundo os cruzados haviam sido informados, eram piores que os judeus; eles são os inimigos de Deus." (página 180)

"Para uma testemunha ocular bizantina, os cruzados nada mais eram do que os precursores do anticristo."
(página 180)

"Era uma visão que encontrava eco na própria Terra Santa, onde os cavaleiros agiam com tamanha violência e irresponsabilidade que era quase como se tivessem um desejo de morte."
(página 175)

Aos poucos Saladino ia cercando os cristãos na Terra Santa. Reinaldo de Châtillon tentou reverter esse cerco com um ataque a Aqaba, no Mar Vermelho. Esse ataque de Reinaldo acirrou ainda mais os muçulmanos, pois eles começaram a temer um ataque cristão a Meca e a Medina, o que os mobilizou ainda mais em torno de Saladino, que naquele momento incorporava a figura principal dos muçulmanos na luta contra os cristãos.

CHIFRES DE HATTIN - JULHO DE 1187:

Cristãos e Muçulmanos entram em combate. Os muçulmanos, tendo Saladino no comando, vencem os cristãos. Reinaldo de Châtillon foi decapitado. Dois meses depois, Jerusalém rendeu-se pacificamente. O Papa da época, Urbano II, caiu morto ao saber da queda de Jerusalém nas mãos dos infiéis. Na sequências, esforços (1189/1192) foram despendidos para recuperar Jerusalém. Todos eles sem sucesso.


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "O CORAÇÃO DO MUNDO, UMA NOVA HISTÓRIA UNIVERSAL A PARTIR DA ROTA DA SEDA: O ENCONTRO DO ORIENTE COM O OCIDENTE, PETER FRANKOPAN, EDITORA CRÍTICA, capítulo 8, A Rota para o Céu, páginas 161/183.


sábado, 18 de abril de 2020

Parte 2 Prússia Grande Eleitor Frederico Guilherme Junkers Potop Tratado de Wehlau Fehrbellin Guerra do Norte Reino na Prússia Frederico I Ascensão da Prússia Império Alemão Derrotas alemãs em Duas Guerras Extinção da Prússia em 1947



POSIÇÃO CONSTITUCIONAL DO GRANDE ELEITOR:

"Vale a pena elucidar a posição constitucional do Grande Eleitor. A história alemã posterior apresentou-o sempre como um Príncipe do Império Alemão com interesses subsidiários no distante baluarte da Prússia. No entanto, a chave das suas políticas residiu no fato de ele estar sujeito a duas lealdades e não a uma. Enquanto Eleitor de Brandemburgo, dependia do Império Habsburgo, mas, como Duque da Prússia, era dependente e vassalo formal do Reino da Polônia. Nos primeiros anos de seu reinado, em especial, não era de todo claro qual das duas fidelidades seria a mais importante. Mais tarde, tornou-se claro qual das duas fidelidades seria a mais importante. Mais tarde, tornou-se mestre em por um suserano contra outro, mas antes do Tratado de Vestfália (Vestefália), em 1648, quando a Guerra dos Trinta Anos finalmente terminou, pendeu para a Polônia. A Corte de Ladislau IV Vasa, sediada em Varsóvia, onde prevalecia a tolerância religiosa, estava apenas a um dia de viagem de Konigsberg, pelo menos viajando de trenó no inverno, e o jovem Hohenzollern adorava visitar a cidade. Era fluente em mau polaco e, enquanto <>, gostava de participar em todos os encontros e cerimônias. Fez o seu juramento de vassalagem, em 6 de outubro de 1641, no pátio do Castelo de Varsóvia. A sua postura só se alterou nas décadas seguintes, quando a Polônia foi atingida por calamidades tão horríveis como as sofridas antes pela Alemanha."
(página 421)

JUNKERS;

Jung Herr: Jovem Amo (Senhor). Era uma classe social. Classe Social que cresceu junto com o Estado de Brandemburgo-Prússia. A maioria dos Junkers tinha origem na Aristocracia medieval alemã. Estavam concentrados em Brandemburgo-Prússia. 

"Os seus apelidos eram geralmente antecedidos de 'Von' ou 'Zu'."
(página 422)


Posse de terras e serviço militar sempre andaram de mãos dadas na Europa. Mas a situação no leste da Rio Elba, no século XVII, onde havia grandes áreas de terra incultas, foi diferente. A agricultura era capitalista, sendo explorada em grandes áreas. Os Junkers comandavam esse tipo de atividade econômica. Quando não estavam numa guerra ou prestando algum serviço civil para o Estado do Brandemburgo-Prússia, estava em suas grandes propriedades rurais. 

"Por conseguinte, adquiriram praticamente o monopólio dos cargos no exército e na burocracia dos Hohenzollerns, e cultivavam uma ideologia e um etos corporativos que foram definidos como o 'oposto de tudo o que é burguês'."
(página 422)


POTOP (DILÚVIO) NA COMUNIDADE FORMADA PELO REINO DA POLÔNIA E PELO GRÃO-DUCADO DA LITUÂNIA:

A Comunidade Polônia-Lituânia passou por uma grave crise em meados do século XVII. Rebeliões dos Cossacos ucranianos; invasões russas e suecas. Na esteira desses eventos, houve fome, epidemias, pilhagens, etc. 

"Um quarto da população morreu. O governo real entrou em colapso. O Monarca João Casimiro Vasa fugiu do reino no meio da anarquia. O duque da Prússia tentou permanecer neutral. Porém, em 1656, perante o desembarque de um exército sueco em Gdansk (Danzig), o Brandemburgo-Prússia viu-se confrontado com duas opções: juntar forças com os invasores suecos ou arriscar-se a ser invadido. Além do mais, a campanha dos suecos foi apresentada como uma cruzada protestante à qual os protestantes prussianos deviam aderir, e, como Carlos X Vasa se afirmou rei de direito da Polônia, poderia recompensar o duque de Hohenzollern, libertando-o de suas obrigações feudais. Frederico Guilherme Hohenzollern fez a sua opção e, em finais de julho, os prussianos entraram em triunfo em Varsóvia ao lado dos Suecos. Carlos X, monarca sueco, declarou que o Ducado da Prússia era soberano e independente."
(página 423)

TRATADO DE WEHLAU - 1657)

Depois de uma recuperação polonesa, esta e o Brandemburgo-Prússia entram num acordo. Brandemburgo-Prússia abandonava a Suécia e, em troca, veria a Polônia reconhecendo a soberania e a independência do Ducado da Prússia. Finalmente, pelo Tratado de Oliwa, em 1660, os poloneses chancelaram a independência do Ducado da Prússia.
O Tratado de Wehlau foi na verdade o resultado final da quebra do contrato feudal por parte dos Hohenzollern. Quando da invasão sueca, os Hohenzollern abandonara seu juramento de fidelidade aos poloneses e ajudaram a Suécia na invasão à Polônia. No fim, a Polônia teve que engolir essa traição e aceitar um acordo com Brandemburgo-Prússia, com esta se comprometendo a abandonar a Suécia para receber em troca o reconhecimento da independência da Prússia Ducal. A partir de agora, Frederico Guilherme, margrave-duque-eleitor, não teria mais que prestar vassalagem ao monarca polonês.

"Por conseguinte, entre 1657 e 1701, o ducado da Prússia foi um estado independente associado, através de uma união pessoal, ao Estado imperial dependente do Brandemburgo."
(página 424)

Apesar dessa conquista, Frederico Guilherme ainda não era um Monarca. Continuava sendo Margrave-Duque-Eleitor do Brandemburgo-Prússia.

"Não sendo uma monarquia no nome, era-o na substância..."
(página 424)

PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO DE PODER:

Frederico Guilherme não era rei mas tinha em Luís XIV um exemplo a ser seguido. Na terra de Frederico Guilherme, os nobres que cumprissem serviço militar ficavam isentos de tributação, desde que cedessem seus direitos a reunirem-se nos Estados (assembleias de nobres que eventualmente poderiam deliberar no sentido de restringir os poderes de Frederico Guilherme). 

"Em 1678, Frederico Guilherme conseguiu criar e financiar um exército permanente considerável."
(página 424)

O DESCONTENTAMENTO DA PRÚSSIA DUCAL COM O AUTORITARISMO DE FREDERICO GUILHERME:

Na época de Frederico Guilherme havia informações sobre o descontentamento dos habitantes da Prússia Ducal com a política do Brandemburgo. Habitantes da Prússia Ducal planejavam uma rebelião contra Frederico Guilherme. 

"Os dois Estados (Prússia Ducal e Brandemburgo) assentavam-se em tradições diferentes no tocante à relação entre governante e os governados."
(página 425)

"Enquanto os teóricos Pró-Hohenzollerns proclamavam que os governados tinham o dever de acreditar e confiar nas boas intenções de um governante  legibus solutus (acima da lei), alguns membros dos estados ducais prussianos, incluindo os burgueses de konigsberg, defendiam o princípio de leis fundamentais que restringissem o poder do governo central. Quem cerceava as suas liberdades era o estranho de Berlim, ao passo que a Coroa Polaca, com a qual tinham formado um corpo, era o seu lar natural. Convictos de que estavam a lidar com um governante estrangeiro, negaram-se a financiar os outros domínios e províncias do eleitor Frederico Guilherme no Império, cuja única ligação que tinham à Prússia era de natureza dinástica. Quererão sugar a última gota de sangue da nobreza prussiana, que não tem nada a ver com o Sacro Império Romano Germânico."
(página 425)

INVASÃO SUECA EM 1675. BATALHA DE FEHRBELLIN:

Em 1675, partindo da cidade de Stettin (Estetino), Suécia invade o Brandemburgo. As defesas de Berlim são rompidas, mas Frederico Guilherme resiste. Em 28 de junho de 1675, os prussianos derrotam os suecos na Batalha de Fehrbellin. Surgia uma nova potência na Europa.
Mas a Suécia não era a única ameaça ao Brandemburgo-Prússia. Na Polônia havia um novo rei, João Sobieski, que deseja o retorno da Prússia Ducal à Polônia. Mas Frederico Guilherme teve sorte, pois no exato momento que João Sobieski planejava retomar a Prússia Ducal, a Polônia se vê ameaça pelo Império Otomano, que avançavam pela Hungria e cercavam Viena. Em 1683, João Sobieski ajudou a romper o cerco otomano a Viena, mas na sequência ficou atolado numa guerra contra os Otomanos, na área do Danúbio. Assim, João Sobieski, ao contrário do que desejava, "nunca subjugou a Prússia." (página 426)

MORTE DE FREDERICO GUILHERME, O GRANDE ELEITOR - 1688:

Com a morte de Frederico Guilherme, Frederico III torna-se o novo Margrave-Duque-Eleitor do Brandemburgo-Prússia. Em 1697, Augusto II, Eleitor da Saxônia, é eleito Rei da Polônia, sucedendo a João Sobieski. 

GRANDE GUERRA DO NORTE E GUERRA DA SUCESSÃO ESPANHOLA. REINO NA PRÚSSIA EM 1701 - FREDERICO I.

A Grande Guerra do Norte durou 21 anos (1700-1721). A Guerra da Sucessão Espanhola durou 13 anos. O Século XVIII iniciou-se com duas guerras. A Grande Guerra do Norte envolveu a Suécia, a Rússia, a Dinamarca e a Saxônia. Enquanto essas guerras aconteciam, Frederico III buscava tirar proveito delas. Ele queria um título real e iria consegui-lo.

"Um título real era mais importante do que à primeira vista parecia. Era um símbolo de legitimidade e era ciosamente defendido. As negociações entre os Hohenzollerns e o Sacro Imperador Romano, o idoso Leopoldo I, foram conduzidas por Charles Ancillon, filho do líder da comunidade huguenote em Berlim. O Imperador era obcecado por protocolo. Era ou tinha sido detentor dos únicos títulos régios autorizados no Império: <>, <> e <>. No entanto, Ancillon reparou que a formação de uma nova grande aliança contra Luís XIV era um objetivo importante para os conselheiros do Imperador, que estavam inclinados a fazer cedências....Em troca de uma aliança contra a França e de um contingente de 8000 granadeiros, o Margrave-Duque-Eleitor teria a sua coroação."
(página 427/428)

Resumindo: Frederico III, então Margrave-Duque-Eleitor do Brandemburgo-Prússia, ajudaria Leopoldo I, Imperador do Sacro Império Romano Germânico, em sua guerra contra a França. Em troca, Frederico III receberia a autorização para se tornar Rei na Prússia, virando Frederico I, Rei na Prússia (janeiro de 1701). 
Frederico I era Rei na Prússia. Não poderia ter sido Rei de Brandemburgo, pois este Estado fazia parte do Sacro Império Romano Germânico. Rei Da Prússia também não poderia, pois havia uma Prússia, a Real, que pertencia ao Reino da Polônia. Daí a denominação Rei Na Prússia (Das Konigreich In Preussen). Quando de sua coroação, Frederico I foi abençoado por Bispos, para que seu reinado fosse visto como algo concedido por Deus. A Coroação de Frederico I foi em Konigsberg, hoje uma cidade russa, Kalininegrado. 

"Tinham quebrado a barreira invisível que, numa época religiosa, dividia os ungidos pelo Senhor  (os reis) dos simples executivos principais (margrave-duque-eleitor."
(página 429)

A partir, portanto, de 1701, o vocábulo <> deixava de ser um termo geográfico para se tornar uma Dinastia, uma marca. A partir de agora, todos os domínios dos Hohenzollerns receberiam o selo, a marca com os dizeres "Prússia". Berlim, que ficava em Brandemburgo, tornou-se Prussiana, e assim seria com qualquer território pertencente aos Hohenzollerns, por mais distante que ficasse de Konigsberg. 

ASCENSÃO DA PRÚSSIA:

Nos anos que se seguiram à coroação de Frederico I como Rei Na Prússia, esta, com a ajuda involuntária de seus vizinhos, foi ganhando força: a derrota da Suécia na Grande Guerra do Norte a tirou da disputa pelo domínio do norte da Europa, abrindo espaço para a expansão da Prússia nessa área; o enfraquecimento da Comunidade Polônia/Lituânia e da Saxônia também beneficiaram a Prússia. Em mais na frente, com o desaparecimento do Sacro Império Romano Germânico, em 1806, por obra de Napoleão Bonaparte, a Prússia passou a competir com a Áustria (Império Habsburgo) pelo controle da Alemanha. E no leste, a competição era com a Rússia.
No reinado de Frederico II, o Grande, no ano de 1772, o Reino na Prússia transformou-se em Reino da Prússia, após a anexação da Prússia Real/Polaca/Ocidental, cuja cidade principal era Danzig (Gdansk).

A PRÚSSIA DO SÉCULO XIX:

A Prússia do século XIX,  ia de Aachen no oeste, a antiga capital de Carlos Magno, a Tilsit (atual Sovetsk, no Oblast de Kalininegrado, pertencente à Federação Russa), a leste, às margens do Rio Niemen. No norte, ia da fronteira dinamarquesa à fronteira suíça, no sul. A Prússia do século XIX tinha centros relevantes:
(a) centros industriais no Vale do Ruhr e na Silésia
(b) centro estatal em Berlim, Brandemburgo
(c) centro histórico em Konigsberg, na Prússia Oriental, onde os Hohenzollerns eram coroados

"Era a maior potência industrial da Europa, e o seu gigantesco complexo militar industrial explica o seu papel de liderança no seio do Império Alemão."
(página 438)

GUERRA FRANCO-PRUSSIANA DE 1871 - CRIAÇÃO DO IMPÉRIO ALEMÃO SOB A DINASTIA HOHENZOLLERN:

"O zênite do sucesso da Prússia decorreu da sua vitória na Guerra Franco-Prussiana de 1871, quando o monarca prussiano foi declarado Imperador da Alemanha na Galeria dos Espelhos de Versalhes."
(página 433)

Com o surgimento do Império Alemão em 1871, Berlim superou Konigsberg em importância.
A Leste, surgia um novo adversário, o Império Russo. O Império Russo era então o maior estado do mundo, com população e recursos naturais enormes. A política inicial da Prússia era a de não "provocar os bárbaros russos." (página 439)
A Prússia procurava, em relação ao Império Russo, adotar "uma política calculada de não confrontação." (página 439)

PRONTIDÃO MILITAR COMO CHAVE PARA O ÊXITO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS:

A vitória alemã na guerra franco-prussiana de 1871 criou a convicção segundo a qual "a prontidão militar era a chave para o êxito nas relações internacionais. Ninguém estava mais convencido disto do que o Kaiser Guilherme II, último Imperador alemão e último Rei da Prússia (1888/1918)"
(página 442)

KAISER (CÉSAR) GUILHERME II HOHENZOLLERN:

No Império Russo, havia o Czar. No Império Alemão, havia o Kaiser. Os dois termos dizem receito ao título de César, usado no Império Romano.


A Prússia mexia com os sentimentos europeus. Sua ascensão, seu poder industrial, causavam medo em seus vizinhos. A França buscava se unir ao Império Russo para criar um contrapeso ao poderio alemão. A Grã-Bretanha, por sua vez, temia perder a sua hegemonia naval para o Império Alemão.

PLANO SCHLIEFFEN:

O Império Alemão, sob a liderança da Prússia, deveria atacar primeiro antes, tomar a iniciativa, para evitar sofrer um duplo ataque, que lhe deixaria cercada. O Império Alemão temia sofrer um cerco, feito pela França, no oeste, e pelo Império Russo, no leste. Daí a necessidade de agir antes, derrotar rapidamente um desses inimigos (a França, que era vista como a mais frágil), e depois partir para o segundo inimigo, o Império Russo, visto como o mais forte.

ALEMANHA E RÚSSIA QUERIAM A GUERRA:

O autor do livro defende que a Rússia também queria a guerra. Do mesmo modo que a Alemanha tinha dado um cheque em branco para o Império Austríaco, o Império Russo também tinha dado um cheque em branco para a Sérvia.

"A rapidez do ataque em tenaz do exército russo na Frente Oriental demonstrou que o comando militar czarista, tal como o seu homólogo alemão, tinha planejado uma ofensiva preventiva."
(página 443)

"...mas os objetivos de guerra publicados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo em setembro de 1914 revelam as suas intenções. Os russos projetaram: (a) a liquidação total da Prússia Oriental; (b) a recriação do Reino da Polônia, que seria administrado pela Rússia; (c) o estabelecimento de uma nova fronteira russo-alemã nos rios Oder e Neisse Ocidental (exatamente como aconteceu em 1945). Na perspectiva da Alemanha, estes objetivos eram profundamente ameaçadores. Não absolvem a liderança alemã, mas mostram de forma inequívoca que o militarismo não era exclusivo da Prússia."
(página 443)

DERROTA ALEMÃ NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL:

A derrota alemã derrubou o Império Alemão, que seria substituído pela República de Weimar. Guilherme II abdicou. Hohenzollerns depostos. Uma paz severa foi imposta à Alemanha.
O fim da Primeira Guerra Mundial tinha pacificado a Frente Ocidental, mas a Frente Oriental continuou instável. A tomada da Russa pelos Bolcheviques deixou a Europa Oriental ainda em pé de guerra. Os revolucionários russos queriam exportar a sua revolução. Foram detidos pela Polônia, em meados de 1920.

ABOLIÇÃO DO REINO DA PRÚSSIA EM 1918:

"A abolição do Reino da Prússia em novembro de 1918, é frequentemente confundida com o fim da história da Prússia. Na realidade, marcou o fim do domínio Hohenzollern, mas não do Estado prussiano. Outra variante do Estado prussiano perdurou, o Freistaat Preussen (Estado Livre da Prússia), primeiro como componente autônomo da República de Weimar do pós-guerra e depois, a partir de 1933, do Terceiro Reich, embora nessa altura a sua autonomia fosse apenas nominal."
(página 445)

FREISTAAT PREUSSEN (ESTADO LIVRE DA PRÚSSIA):

De 1920 a 1932, foi governado pelo Primeiro Ministro Social Democrata Otto Braun. Em 1933, com Hitler assumindo a Chancelaria, Hermann Goring assume o cargo de Primeiro Ministro do Estado Livre da Prússia.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL:

O autor do presente livro defende que a Segunda Guerra Mundial deve ser vista sobretudo como uma luta entre dois monstros totalitários, a Alemanha Nazista e a Rússia Comunista. Ambas lutavam para recuperarem os territórios que tinham perdido ao final da Primeira Guerra Mundial. A Alemanha, por exemplo, tinha perdido a Prússia Real/Polaca. A Rússia, por sua vez, perdeu os países bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia), parte da Ucrânia, etc. No meio desse conflito titânico, encontrava-se a Prússia Oriental. Se a Alemanha Nazista tivesse vencido a guerra, a Prússia Oriental seria um portal para o Lebensraum, o espaço vital no leste. Se a Alemanha Nazista perdesse a guerra, a Prússia Oriental seria riscada do mapa.

AGONIA DA PRÚSSIA. FINAIS DO VERÃO DE 1944:

Com a derrotada da Alemanha Nazista, em maio de 1945, a Prússia Oriental caiu nas mãos dos russos. Em finais do verão de 1944, tropas soviéticas já estavam na fronteira oriental da Prússia. Os russos empreenderam uma rápida incursão pelo interior da Prússia, na "aldeia de Nemmersdorf, deixando para trás um rastro de atrocidades. Mas Stálin (Estaline) tinha, naquele momento, tinha dado prioridade à conquista dos Balcãs, e os seus exércitos ficaram postados mais a norte, no Rio Niemen e no médio Vístula."
(página 448)

Os russos, portanto, concederam um tempo a mais para a Prússia. Hitler mesmo só saiu da Wolfsschanze (Toca do Lobo), perto de Rastenburg, na Prússia Oriental, em novembro de 1944. Além dos russos, os britânicos também atacaram, pelo ar, a Prússia Oriental. Aviões da RAF bombardearam a cidade de Konigsberg, em finais de agosto de 1944.
Em janeiro de 1945, a URSS finalmente resolveu invadir a Prússia Oriental. O avanço foi rápido, com exceção da cidade de Konigsberg. Civis alemães tentaram fugir do avanço russo, por terra e pelo mar. Essa fuga foi denominada de Fluchtaus dem Osten - Fuga do Leste.
Os residentes de Konigsberg (atual Kalininegrado) tentaram fugir primeiramente por terra, até Danzig (Gdansk) e Elbing, ou por trem até Allenstein. Quando os russos trancaram as rotas de fuga terrestres, sobrou a fuga pelo mar. Foi preciso atravessar o gelo da Frisches Haff (Lagoa de Água Doce) até Pillau, onde a marinha nazista (Kriegsmarine) estava. Os alemães prepararam a Operação Hannibal, que tinha por objetivo pegar os alemães em Pillau e leva-los para Stettin (Estetino), no rio Oder (21 de janeiro de 1945).

"Mil cargueiros e navios de guerra realizaram travessias ininterruptas entre Pillau, Danzig (Gdansk) e Stettin (Estetino), sob os ataques dos bombardeios e submarinos soviéticos. Sofreram perdas horríveis, incluindo o Wilhelm Gustloff, cujo afundamento foi o maior desastre da história mundial, com a morte de cerca de 10.000 pessoas." 
(página 450)

Obs.: Stettin ou Estetino, atual Szczecin na Polônia, no Rio Oder.
Em 4 de abril, o que sobrou da cidade de Konigsberg se rendeu aos russos. 80% da cidade estava em ruínas.

"Os defensores sobreviventes foram levados para o cativeiro, e os civis sujeitos a um reinado de assassinatos, violações e pilhagens."
(página 452)

Stálin obliterou Konigsberg e a Prússia. Mulheres foram estupradas pelos soldados soviéticos. Os soviéticos queriam destruir a história de Konigsberg. (página 452)

"Exterminou os prussianos orientais de forma tão completa como os Cavaleiros Teutônicos exterminaram os Prusai, mas em vez de um século, levou poucos anos."
(página 453)

Com a passagem do Exército russo pela Prússia Oriental, esta deixou de existir na prática. Mas ainda era necessário exterminá-la juridicamente, formalmente.

"Neste aspecto, os historiadores devem distinguir entre a Província da Prússia oriental e o Estado da Prússia. A Província da Prússia oriental foi eliminada pela Conferência de Postdam, o Estado não. Apesar das afirmações em contrário dos Aliados, a Conferência de Potsdam, realizada em julho e agosto de 1945, não teve qualquer sustentação legal. Foi um esquema improvisado entre os líderes vitoriosos que se reuniram para debater a gestão da Alemanha derrotada e, enquanto não se realizasse a Conferência de Paz projetada, para tomar decisões provisórias sobre questões urgentes. A agenda foi preparada por um Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros, mas, como a conferência (de Paz) nunca se realizou, as decisões tomadas em Potsdam, ao contrário das corporizadas no Tratado de Versalhes, não foram sancionadas por um tratado internacional. Em relação à Konigsberg e à Prússia Oriental, as decisões foram extremamente vagas e provisórias: A conferência examinou uma proposta do Governo Soviético no sentido de, enquanto não for definido...o acordo de paz, a secção da fronteira ocidental da URSS adjacente ao Mar Báltico transite de um ponto da margem oriental da Baía de Danzig, a leste, a norte de Braunsberg-Goldap, para o ponto de encontro das fronteiras da Lituânia, da República Polaca e da Prússia Oriental. A conferência aceitou em princípio...a transferência definitiva da cidade de Konigsberg e da zona adjacente para a URSS tal como é supra-referido, sujeito à avaliação de especialistas..."
(página 454)

No fim, o mapa que vemos hoje foi acertado entre a URSS e seus clientes comunistas poloneses. no Tratado Polaco-Soviético de agosto de 1945. Esse tratado dividiu a Prússia Oriental entre a Polônia e a URSS. Isso não tinha sido discutido em Potsdam.

EXTINÇÃO FORMAL/JURÍDICA DO ESTADO DA PRÚSSIA - UBI SOLITUDINEM FACIUNT, PACEM APPELANT (CRIAM UM DESERTO E CHAMAM-LHE PAZ)

De acordo com a Lei número 46, de 25 de fevereiro de 1947, emanada pela Comissão de Controle Aliada (EUA, Grã-Bretanha, França e URSS), o Estado da Prússia (Freistaat Preussen) foi abolido, riscado do mapa.

"A Lei nº 46 limitou-se a pregar o último prego no caixão vazio da Prússia. O corpo da Prússia, a substância viva, a comunidade de seres humanos que tinha permanecido intacta até janeiro de 1945, já tinha sido dispersada. Em 1947, não restava praticamente nada. A Prússia teve o destino de Cartago: <> Criam um deserto e chamam-lhe paz."
(página 455)

"TODAS AS NAÇÕES QUE VIVERAM DEIXARAM PEGADAS NA AREIA." (PÁGINA 460)

No caso da Prússia, pegadas foram deixadas pelas Tribos Prusai, pelos eslavos, pelos alemães da Ordem dos Cavaleiros Teutônicos, pelos poloneses, pelos alemães novamente (hohenzollerns, weimar e terceiro reich) e, por fim, pelos russos de Kalininegrado.
A antiga Tvangste das Tribo Prusai virou Konigsberg (Montanha do Rei) em 1255, sob a administração dos Cavaleiros Teutônicos. Em 1701, Frederico I foi coroado Rei na Prússia, nessa mesma localidade. Hoje, Konigsberg não existe mais. Em seu lugar, existe uma cidade russa, Kalininegrado.

MILITARISMO PRUSSIANO VERSUS MILITARISMO RUSSO:

O autor Norman Davies fala que os critérios usados para julgar a Prússia e o seu militarismo não são adotados quando do julgamento do militarismo russo (Império Russo dos Romanov e sua sucessora, a URSS).

"Fala-se do militarismo prussiano, mas não do militarismo russo...O Imperialismo e o expansionismo russos, apesar de muito mais extensivos do que tudo o que consta no cadastro da Alemanha, são de alguma forma considerados normais. A ideia alemã do Lebensraum (espaço vital), muito anterior à Hitler, é singularmente agressiva e obnóxia. O desenvolvimento da Rússia, em especial na sua forma soviética, que com Lênin e Stálin seguiu uma via que abundou em desgraças humanas e chacinas em massa, é por vezes descrito como uma experiência nobre que se perdeu pelo caminho."
(página 434/437)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DO LIVRO "REINOS DESAPARECIDOS, HISTÓRIA DE UMA EUROPA QUASE ESQUECIDA, NORMAN DAVIES, EDITORA EDIÇÕES 70: Capítulo 7, Borússia, A Terra das águas dos prusai, 1230-1945, páginas 383/461

quarta-feira, 15 de abril de 2020

PARTE 1 Prússia Kalininegrado Terra dos Prusai Borússia Cavaleiros Teutônicos Ordenstaat Brandemburgo Batalha de Grunwald Tratado de Thorn Prússia Real Prússia Ducal



KALININEGRADO. ATUAL CIDADE RUSSA, ANTIGA CIDADE ALEMÃ DE KONIGSBERG:

Cidade batizada em homenagem a Mikhail Kalinine, um acólito do ditador Stálin (Staline). Localiza-se no Rio Pregolya, a 45 km da costa sul do Mar Báltico. 
Kalininegrado, a cidade russa mais ocidental da Federação Russa, foi edificada sobre uma antiga cidade alemã, Konigsberg, que se localizava na Prússia. Konigsberg e Prússia não existem mais. Konigsberg foi a cidade natal de Immanuel Kant (1727/1804) e significa "Montanha do Rei". A Prússia foi extinta em 1947, por decisão dos países aliados que derrotaram a Alemanha nazista na 2º Guerra Mundial. Uma parte daquilo que foi a Prússia alemã é hoje um território russo, um Oblast (distrito administrativo), também denominado de Kalininegrado, situado na costa sul do Mar Báltico, fazendo fronteira com a Lituânia e com a Polônia.
A Rússia ainda tem duas bases navais no Mar Báltico, uma em Kronstadt, perto de São Petersburgo, e Baltiysk, no istmo da Curlândia, a oeste da cidade de Kalininegrado (antiga Konigsberg). 

TERRA DOS PRUSAI:

A área que nos interessa localiza-se no litoral sul do Mar Báltico, que era conhecida como a costa do âmbar. Essa região era habitada por povos bálticos, dos quais os prusai faziam parte, ao lado de lituanos e letões. Os prusai formavam o grupo mais ocidental. Esses povos eram subdivididos em tribos, cujos nomes foram coletados por missionários.

"No século IX, o afamano geógrafo 'Bávaro' registrou o nome latino de BORÚSSIA - ou seja, a terra dos Prusai -, do qual derivam todas as variantes modernas do nome da região: Prussia (latim e inglês); Preussen (alemão); Prusse (francês); Prusy (polonês). 
(página 397)

"Tribos que ali habitavam viviam da caça, da pesca e das incursões contra os seus vizinhos."
(página 395)

Por incursões contra seus vizinhos, leia-se roubar gado, roubar grãos de celeiros.

"Chamavam-se a si mesmos de prusai ou pruzzi - um nome que deriva de uma raiz indo-europeia relacionada com a água. Dado que tenham se identificado sobretudo com o seu meio ambiente, é plausível chamar-lhes <> ou <> ou ainda, tendo em conta a notável configuração do litora, <>."
(página 396)

Os Prusai viveram intocados até ao século XIII. Escavações arqueológicas descobriram moedas romanas onde os Prusai viviam, fruto do comércio do âmbar, sinal de que eles sabiam da existência do Império Romano. Mas a ascensão e a queda o Império Romano em nada influenciou a vida deles. 
Os Prusai eram analfabetos, pagãos e predadores. Não conheciam a agricultura.

GEOGRAFIA DA BORÚSSIA:

O isolamento dos povos bálticos (prusai, letões, lituanos) foi facilitado pela constituição da sua geografia. Istmos de areia estendiam-se pelo litoral, dificultando a penetração em seus rios. Entre esses istmos e o litoral, eram formados lagoas, como exemplo, a lagoa da Curlândia. No interior havia muitos lagos. 

TENTATIVA FRUSTRADA DE CONVERSÃO DOS PRUSAI PARA O CRISTIANISMO:

Um Príncipe da Boêmia, em 997, Vojtech, tentou converter os Prusai. Acabou morto por eles. Seu corpo foi resgatado e levado como relíquia para a Catedral de Gniezno. Tornou-se Santo Adalberto da Prússia.

FIM DO ISOLAMENTO DOS PRUSAI:

A oeste, para além do Rio Vístula,  havia eslavos ocidentais (cassubianos) reunidos no ducado da Pomerânia. A sul havia o ducado polaco da Mazóvia, com capital em Varsóvia. A leste havia outros povo bálticos, que acabariam por formar o Grão-Ducado da Lituânia e Estados da Livônia. 

SURGIMENTO DAS HORDAS MONGÓIS NO SÉCULO XIII:

No século XIII, hordas mongóis devastaram o leste e o centro da Europa. Moscóvia (atual Rússia), Kiev (atual Ucrânia), Polônia, Hungria e Dalmácia, no litoral do Adriático (atual Croácia), foram devastados pelos mongóis. Pilhagens e assassinatos ficaram pelo caminho dos mongóis. Ao mesmo tempo que as hordas mongóis criaram devastação, elas criaram oportunidades:
- colonos alemães dirigiram-se para o leste, para colonizar as áreas devastadas e despovoadas.
- oportunidade para ordens militares religiosas no patrulhamento das fronteiras orientais da cristandade.

MIGRAÇÃO DE COLONOS ALEMÃES PARA O LESTE:

Antes das hordas mongóis oportunizarem áreas para a colonização alemã no leste, o ducado da Pomerânia, governada então por Boguslau, em 1180, jurou fidelidade ao Imperador do Sacro Império Romano Germânico. O resultado é que a Pomerânia foi aberta para a colonização alemã. Essa Pomerânia Ocidental, antes um reino eslavo, tornou-se um feudo do Sacro Império Romano Germânico a partir de 1181. Essa mesma Pomerânia voltaria para a Polônia, ao final da Segunda Guerra Mundial. 
Simultaneamente à migração alemã para o leste, Cruzados do norte, tendo à frente os Cavaleiros da Espada e Dinamarqueses, estabeleciam-se na Livônia, onde foram construídas as cidades de Riga (atual capital da Letônia) e Reval (Tallinn - atual Estônia). 

UM DUQUE POLONÊS PEDE AJUDA AOS ALEMÃES - 1220: 

Em 1220, um duque polonês, Conrado, Duque da Mazóvia, não conseguindo lidar com as depredações dos prusai, pediu ajuda aos Cavaleiros Teutônicos. Ele queria que os Cavaleiros Teutônicos acabassem de vez com os prusai, que agiam na fronteira polonesa, saqueando vilarejos locais. Conrado então ofereceu aos Cavaleiros Teutônicos "um feudo na região de Chelmno (Kulm), na Kulmerlândia, para usarem como base de contenção dos prusai. Segundo se disse depois, parece que Conrado teve apenas em mente uma iniciativa local e limitada. De certeza que não previu que os seus convidados se tornariam rapidamente mais poderosos do que ele."
(página 398/399)

CAVALEIROS TEUTÔNICOS:

"Ordem dos Irmãos da Casa Teutônica da Virgem Maria de Jerusalém (Cavaleiros Teutônicos) fora fundada no século anterior como uma das várias organizações militares criadas pelos Estados Cruzados do Outremer, na Terra Santa, dedicadas à conversão dos infiéis."
(página 399)

HERMANN VON SALZA:

Foi um grã-mestre dos Cavaleiros Teutônicos (1179-1239). O Grã-Meste era escolhido numa eleição pelos irmãos cavaleiros e depois tinha que ser confirmado pelo Papa. Era o comandante em chefe e executivo principal, nomeando os governadores provinciais e os comandantes distritais. Hermann Von Salza participou das negociações que resultaram na presença dos Cavaleiros Teutônicos na Polônia. Era um sujeito que contava com a simpatia do Papado e do Império (Sacro Império Romano Germânico - Frederico II Hohenstaufen). Ele tinha interlocução tanto com o Papa quanto com o Imperador. Isso abriu portas para os Cavaleiros Teutônicos. Essa influência de Hermann Von Salva seria usada nas disputas da Ordem Teutônica com os governantes seculares em cujos territórios a Ordem atuava. 

"Essa estratégia fracassou na Hungria, de onde a Ordem Teutônica foi expulsa, em 1225. Na Mazóvia, funcionou na perfeição."
(página 399)

BULA DOURADA DE RIMINI:

"Em 1226, o Imperador do Sacro Império Romano Germânico determinou que o Duque da Mazóvia deveria equipar a Ordem para o combate contra os pagãos e que os territórios conquistados seriam REICHSFREI, isto é, ficariam fora da Jurisdição Imperial. Em 1230, o Tratado de Kruszwica, supostamente assinado pela Ordem e pelo duque, mas do qual não existem vestígios documentais, declarou que a Kulmerlândia ficaria na posse da Ordem como feuda da Mazóvia. Em 1234, a Bula Dourada de Rieti, um documento contraditório emanado do Papa Gregório IX, confirmou as disposições anteriores e sujeitou exclusivamente a Ordem à autoridade papal."
(página 399/400)

Protegidos pelo Papa e pelo Imperador, agora os Cavaleiros Teutônicos não seriam expulsos da Polônia como foram na Hungria. Seguros de sua posição, os Cavaleiros Teutônicos agora iriam se voltar contra os Prusai. A Ordem da Espada foi absorvida pelos Cavaleiros Teutônicos. As campanhas começaram, e na esteira delas vinham os colonos alemães. Era preciso cultivar a terra conquistada. Cidades foram construídas. Pântanos foram drenados e os prusai foram exterminados. A Ordem Teutônica começou a explorar o comércio do âmbar, passou a cobrar impostos, a recrutar soldados. A Ordem acabou se organizando numa espécie de Estado, a ORDENSTAAT. 

CONQUISTA DA BORÚSSIA:

A Conquista da Borússia demandou 6 décadas de lutas. Terminou em 1283. 

"Não restam dúvidas de que as Cruzadas do Norte foram empreendidas com grande ferocidade de ambos os lados. Diz-se que os cavaleiros teutônicos capturados eram assados vivos com a armadura envergada. Os prusai, quando resistiam à conversão, não tinham melhor destino."
(página 401)

À medida que avançavam, os Cavaleiros Teutônicos iam construindo áreas fortificadas: Elbing, Thorn, Allenstein, Marienwerder, Konigsberg - Montanha do Rei (atual Kalininegrado, fundada em 1255), Marienburg, a Fortaleza da Virgem, no Rio Nogat, em 1274.

PREUSSEN - ORDENSTAAT:

O Ordenstaat defendia o valor supremo do Estado e a subordinação cívica aos fins desse mesmo Estado.

Regiões do Ordenstaat:

Kulmerlândia: Kulm (Chelmno), Thor (Torun), Plock
Região de lagos a norte: povoada por colonos polacos da Mazóvia, os mazúrios (Mazúria/Masurem)
Pomesânia: zona marítima a leste do Vístula - Elbing (Elblag)
Vármia ou Emelândia: Frauenburgo (Frombork) - cidade natal de Nicolau Copérnico.
Samlândia: conquistada pela Ordem em 1250. Península que separa as duas lagoas costeiras: Frisches Haff e Kurisches Haff

RIVALIDADE ENTRE POLÔNIA E ORDEM TEUTÔNICA:

Os poloneses nunca perdoaram os alemães da Ordem Teutônica por eles terem abusado da hospitalidade polonesa. Os alemães foram além do combinado. O combinado era impedir que os Prusai depredassem as vilas polonesas. No fim, os Cavaleiros Teutônicos criaram um Estado. E para enfurecer ainda mais os poloneses, a Ordem Teutônica agora ameaçava tomar a área do baixo Vístula, que cortaria o acesso da Polônia ao mar. 

"Desde que os godos tinham partido do Baixo Vístula, no início do milênio, a área fora sistematicamente povoada por tribos eslavas. Juntamente com o porto de Gdansk, tinha pertencido ao Reino da Polônia durante séculos e era o funil pelo qual os contatos da Polônia com o mar tinham de passar. Agora, estava sob uma dupla pressão provocada pelo crescimento constante do Brandemburgo, ao longo da costa para o oeste, e do Estado da Ordem Teutônica, a leste."
(página 404/405)

BRANDEMBURGO:

"Baseado num território estéril e pouco prometedor para além do rio Oder, na Nordmark (Marca do Norte) do Sacro Império Romano Germânico, era originalmente habitado por eslavos, que lhe chamavam Brennidor. Ainda não era um eleitorado do Império nem tinha caído na posse da família Hohenzollern. Era governado pela Casa de Ascania, os herdeiros de Alberto, o Urso (1100 - 1170), primeiro Margrave do Brandemburgo e fundador de Berlim. Um século depois da morte de Alberto, os brandemburgueses atravessaram o Oder e entrincheiraram-se na margem oriental, na Neumark (nova marca). Estavam separados dos domínios mais próximos da Ordem Teutônica por mais de 300 km de territórios da Polônia e da Pomerânia, que era controlada pela Polônia."
(página 405)

"Os poloneses estavam demasiado divididos ou foram demasiado lentos para evitarem o perigo."
(página 405)

"A sua capital localizava-se bastante longe, em Cracóvia, e os seus governantes tinham negligenciado os seus interesses no norte."
(página 405)

"Na década iniciada em 1300, o trono polaco foi temporariamente ocupado pela dinastia boêmia  dos Premislidas, que também governava a Hungria e que estava nas tintas para o Báltico."
(página 405)

"O momento crucial foi em 1308/1309, quando um grupo de magnatas da Pomerânia Oriental, ciente das distrações dos seus suseranos nominais polacos, transferiu a sua fidelidade para os brandemburgueses. Depois, numa repetição do erro fatal cometido pelo Duque Conrado da Mazóvia oitenta anos antes, uma facção pró-polaca da Pomerânia pediu ajuda aos cavaleiros teutônicos na defesa da cidade de Gdansk (Danzig). Os teutônicos deitaram mão à cidade, onde, segundo relatos, para facilitar a introdução de colonos alemães submissos, massacraram toda a população. Passado pouco tempo, tinham anexado a totalidade do Baixo Vístula, e a corte polaca apelou em vão a um tribunal papal. Os cavaleiros teutônicos tinham passado do combate aos pagãos para o combate aos seus irmãos católicos."
(página 405)

"No século XIV, as possessões territoriais do Ordenstaat atingiram a sua máxima extensão. A curlândia e a livônia foram fundidas. As últimas rebeliões indígenas foram sufocadas, a economia rural prosperou e várias cidades - Danzig (Gdansk), Marienburgo, Elbing e Konigsberg - aderiram à rede comercial internacional da Liga Hanseática. Construíram-se belas igrejas, como a Marienkirche, em Danzig, ou a Catedral de Frauenburgo...A cruzada prosseguiu fora da Prússia, convertendo-se numa rotina de campanhas sazonais na Lituânia...Os cavaleiros teutônicos tinham criado um Estado disciplinado, determinado e próspero."
(páginas 405/406)

Localidades abrangida pelo Estado da Ordem Teutônica (Ordenstaat):

-CURLÂNDIA: Cidade de Riga, atual capital da Letônia, localizada no Golfo da Curlândia, que se abre para o Mar Báltico.
-MEMEL: Cidade localizada na atual Lituânia, no litoral do Mar Báltico. O território do Ordenstaat ainda abrangia a cidade de Kaunas.
-LIVÔNIA: Cidades de Dorpat e Reval (Tallinn), na atual Estônia.
-PRÚSSIA: Cidades de Konigsberg, Thorn (Torun), Danzig (atual Gdansk, na Polônia), Marienburgo.

REAÇÃO POLONESA AO AVANÇO DOS CAVALEIROS TEUTÔNICOS:

Os polacos iriam começar a agir contra o avanço dos alemães do Ordenstaat. Mas antes de enfrentá-los, era preciso primeiramente unir a Polônia. Em 1320, o Reino da Polônia foi reunificado. Em 1333-1370, a Polônia incorporou a Rutênia Vermelha e cedeu a Silésia ao Sacro Império Romano Germânico. Em 1385, a Polônia se une ao Grão-Ducado da Lituânia, criando o maior Estado europeu daquela época. Era uma união pessoal. Poloneses e Lituanos então iriam preparar um ataque aos Cavaleiros Teutônicos.

BATALHA DE GRUNWALD - 1404:

A batalha aconteceu em território prussiano, em Allenstein (Olsztyn). Poloneses e Lituanos derrotaram os Cavaleiros Teutônicos. Essa batalha marca o início do declínio militar da Ordem Teutônica.

CATÓLICOS BRIGANDO ENTRE SI:

Poloneses e Cavaleiros Teutônicos eram católicos. Mas eram diferentes. Tinha visões diferentes sobre a religião. O Reino Polonês era tolerante, aceitando religiões diversas (cristãos ortodoxos, muçulmanos, judeus, católicos). O Reino Polonês via a religiosidade dos Cavaleiros Teutônicos como uma fachada apenas, atrás da qual escondiam seus verdadeiros objetivos: a expansão territorial.

"Os cavaleiros teutônicos pertenciam à tradição brutal e supremacista das cruzadas da Europa Ocidental, assente no pressuposto de que os infiéis e outros crentes eram para extirpar."
(página 408)

INÍCIO DO DECLÍNIO DO ORDENSTAAT:

A derrota em Grunwald, em 1410, foi apenas o início da derrocada dos Cavaleiros Teutônicos. Outras derrotas viriam. Com a necessidade de reformar o seu exército, os Cavaleiros Teutônicos começaram a aumentar a cobrança de impostos, o que acabou gerando a revolta em algumas cidades mercantis, como por exemplo Danzig. Essas cidades buscaram auxílio no Reino Polonês, o que obviamente desagradou ao Ordenstaat.

TERCEIRA GUERRA POLACO-LITUANO-TEUTÔNICO:

Meados do século XV. Essa guerra durou 13 anos. A Polônia saiu vencedora.

TRATADO DE THORN - 1466:

Com a vitória polonesa na terceira guerra Polaco-Lituano-Teutônico, os Cavaleiros Teutônicos tiveram que aceitar os termos do Tratado de Thorn, que dividiu o Ordenstaat em duas partes:

"A parte ocidental, doravante conhecida por Prússia Real, e que incluía Danzig (Gdansk), foi devolvida ao Reino da Polônia depois de um hiato de 157 anos. A parte oriental, centrada em Konigsberg, permaneceu na posse dos Cavaleiros Teutônicos como feudo polaco. A Ordem perdeu mais de metade dos seus recursos humanos e econômicos."
(página 409)

"A divisão do Ordenstaat em 1466 deu origem a distinções que duraram até à Segunda Guerra Mundial. Apesar de sua história política complicada e de várias mudanças de nomenclatura, a parte ocidental (Prússia Real, Prússia Polaca, Prússia Ocidental e, na terminologia nazista, Corredor Polonês), nunca se voltou a fundir plenamente com a Oriental (Prússia Ducal, Prússia Prussiana, Prússia Oriental). Na perspectiva dos admiradores  do Ordenstaat que lamentam as suas desgraças, o Tratado de Thorn foi o princípio da partilha da Prússia."
(página 409)





PRÚSSIA REAL (OCIDENTAL, POLACA OU CORREDOR POLONÊS PARA OS NAZISTAS):

A Prússia Real (Ocidental ou Polaca) tinha uma população etnicamente mista (polaca e alemã). A população alemã predominava nas cidades.
O território da Prússia Real (Ocidental ou Polaca) abrangia o vale do Rio Vístula (baixo Vístula), desde o cotovelo do rio, perto de Thorn (Torun), até ao litoral báltico, "e ainda a província protuberante da Vármia. Os três centros principais  eram Gdansk (Danzig), Elbing (Elblag), e Thorn (Torun).
A Prússia Real via na Polônia uma aliada e no vizinho Estado Hohenzollern, um inimigo.

PRÚSSIA ORIENTAL (PRÚSSIA DUCAL/PRÚSSIA PRUSSIANA):

Na Prússia Oriental, os Cavaleiros Teutônicos já não tinham pagãos para converter.

"Os Cavaleiros Teutônicos tinham um problema adicional. O Tratado de Thorn (1466) exigia que os grãos-mestres prestassem vassalagem ao rei polaco. O juramento da vassalagem era uma prática feudal normal e, dado que as terras da Ordem se localizavam fora do Império, não era uma questão na qual o Sacro Império Romano Germânico pudesse interferir. Porém, mesmo assim, era ofensivo."
(página 411/412)

No Século XVI os Cavaleiros Teutônicos fazem uma mudança radical. Abandonam o catolicismo e passam a adotar a religião protestante. Assim, o Grão-Mestre Alberto Hohenzollert, excomungado pelo Papa, demitiu-se.

"A Ordem, juntamente com os cavaleiros que o desejavam, retirou-se para a sua província no norte, a Curlândia-Livônia e os restantes juraram fidelidade à nova fé luterana. De seguida, conforme previamente acordado, Alberto de Hohenzollern (o grão-mestre que tinha se demitido) deslocou-se a Cracóvia para proclamar a sua fidelidade ao rei da Polônia e receber a Prússia como feudo. Segundo o Tratado de Cracóvia, o antigo grão-mestre foi elevado a duque, e as suas possessões tornaram-se um ducado."
(página 412)

O juramento de vassalagem de Alberto de Hohenzollern para o Rei da Polônia (Rei Sigismundo I) foi realizado em abril de 1525. Esse juramento era refeito sempre que havia uma mudança de rei na Polônia ou de Duque na Prússia.

"A Europa esquecer-se-ia, mas houve uma altura em que o rei da Polônia era o chefe, e o Hohenzollern o subordinado."
(página 413)

Houve um tempo em que membros da Dinastia Hohenzollern, que iria governar o Império Alemão nos séculos XIX e início do século XX, iriam prestar vassalagem a reis poloneses. Esse era o tipo de informação que não constaria nos livros de História durante a Alemanha Nazista.
A partir de 1525, como já registrado, o Ducado da Prússia, sucessor do Ordenstaat, foi um feudo do Reino polonês. Manteve esse estatuto em 1569, quando, através da União de Lublin, o Reino da Polônia e o Grão-Ducado da Lituânia formaram a RZECZPOSPOLITA ou Comunidade da Polônia-Lituânia.
A Prússia Ducal era protestante. A sua suserana, a Polônia, era católica. Mas a Polônia era um reino tolerante, de forma que não foi uma entusiasta da Contrarreforma.
A capital da Prússia Ducal era Konigsberg, que os poloneses chamavam de Królewiec. Tinha uma Universidade Protestante independente, a Albertina (a partir de 1544). Tinha uma Casa da Moeda ducal que cunhou moedas de qualidade com a inscrição em latim << Justus Ex Fide Vivit >> (O Justo vive pela fé).

ALBERTO HOHENZOLLERN:

Em 1525, torna-se Duque da Prússia. Sua mãe era polonesa. Reis poloneses eram seus parentes (um primo e um tio). O seu governo na Prússia durou mais de 40 anos, durante o qual enfrentou revoltas de camponeses, que queriam acabar com a miséria e a servidão. Alberto as sufocou com ferocidade. Em 1530, Alberto aliou-se a outros pequenos Estados alemães numa luta contra o Sacro Império Romano Germânico (Guerra da Liga de Schmalkalden). A luta era para conquistar para os Estados protestantes o direito de autodeterminação, terminando com a aceitação do Príncípio "cuius regio, eius religio." (a religião do rei é a religião do povo).

FAMÍLIA HOHENZOLLERN:

Alberto Hohenzollern, duque da Prússia, era católico. Mas seus primos em Brandemburgo eram católicos. Joaquim I Nestor (1491/1535), primo de Alberto e Margrave-eleitor de Brandemburgo, abrigou os filhos, sob pena de deserção, jurar fidelidade eterna à fé católica. 

Margrave eleitor ou Príncipe Eleitor do Sacro Império Romano Germânico (Kurfurst): Secular como o de Brandemburgo, havia mais 4, como o Rei da Boêmia e o Duque da Saxônia. Havia a palavra 'eleitor' porque eles elegiam o Imperador do Sacro Império Romano Germânico.
Em 1555, Joaquim II Heitor (1535/1571), sucessor de Nestor , mudou a religião de Brandemburgo, e "proclamou formalmente o luteranismo como a religião do Brandemburgo." (página 416)

APROXIMAÇÃO DOS HOHENZOLLERNS DA PRÚSSIA COM OS HOHENZOLLERNS DE BRANDEMBURGO:


Tudo começou com a morte de Alberto Hohenzollerns. Seu filho, Alberto Frederico, era doente, mas mesmo assim teve um longo reinado. 


"Segundo o costume, um feudo podia ser revogado em casos de inexistência de herdeiros ou de incapacidade de herdeiro, e a família viu-se obrigada a tomar precauções. Primeiro, os Hohenzollerns de Berlim (Brandemburgo) persuadiram o monarca polonês a vender-lhes os direitos à reversão do ducado. Isto significaria que caso Alberto Frederico ficasse incapacitado de forma permanente, os Brandemburgueses tinham o direito de agir como seus herdeiros legais. Segundo, os Hohenzollerns de Berlim nomearam um berlinense como regente da Prússia. Terceiro, em 1594, casaram a filha do duque doente Alberto Frederico  com o filho do Margrave-Eleitor, João Sigismundo. 

(página 417)

E os poloneses? Viam toda essa movimentação e não faziam nada? Na realidade, nesse momento, o Reino Polonês era governado por um sueco da Dinastia Vasa, que estava mais interessado na guerra civil que se desenrolava em seu país do que com o destino da Prússia.


1618: MORRE ALBERTO FREDERICO.

Com a morte de Alberto Frederico, acontece uma União Pessoal entre Brandemburgo e a Prússia Ducal, sob o governo de João Sigismundo. Mas João Sigismundo, inesperadamente, morreu um ano depois. Seu filho, Jorge Guilherme, teve dificuldades em manter essa União Pessoal entre a Prússia Ducal e Brandemburgo. Mas no fim, após negociações com os poloneses, ele conseguiu manter a união entre Brandemburgo e a Prússia Ducal.

ESTADO DUAL: BRANDEMBURGO E PRÚSSIA DUCAL:

Criado em 1621, com o jovem Jorge Guilherme jurando fidelidade ao seu suserano, o rei Polonês, pois a Prússia Ducal continuava sendo um feudo polonês. Jorge Guilherme agora era Margrave-Duque-Eleitor.
A Dinastia Hohenzollern pode ser entendida como uma espécie de empresa familiar. E ela não estava sozinha na sua época e o modo de agir era igual para todas as dinastias. No caso particular da família Hohenzollern, ela possuía o eleitorado de Brandemburgo. Mas como toda empresa, ela queria expandir seus negócios, adquirindo mais. E essa aquisição veio na forma da Prússia Ducal. A oportunidade surgiu e o negócio foi feito. A Prússia Ducal foi uma ativo a mais adquirido pela Dinastia Hohenzollern, acrescentando poder a ela.

"Entre 1621 e 1657, o Ducado da Prússia foi governado a partir de Berlim, mas como elemento separado e distinto do Estado Dual independente do Brandemburgo-Prússia. A sua ligação feudal à Polônia impunha algumas obrigações residuais, mas na prática resumia-se a não fazer oposição aos interesses de política externa do suserano."
(página 420)

O Ducado da Prússia, portanto, apesar de ser parte do Estado Dual Brandemburgo-Prússia, continuava sendo um feudo polonês e, como tal, tinha ainda obrigações residuais com esta.

FREDERICO GUILHERME - O GRANDE ELEITOR - DER GROSSEN KURFURST:

Com a morte de Jorge Guilherme, Frederico Guilherme, seu único filho, torna-se duque da Prússia e eleitor de Brandemburgo. Frederico Guilherme, o Grande Eleitor, governou de 1640 a 1688. Ele tentava se equilibrar entre duas lealdades: lealdade à Polônia, por ser o Duque da Prússia, que era um feudo polonês; e lealdade ao Sacro Império Romano Germânico, governado por um Habsburgo, por ser um eleitor de um Estado alemão.
A administração de Frederico Guilherme, o Grande Eleitor, tornou notável o Estado Hohenzollern, por adotar uma política mercantilista, militarista e de tolerância religiosa. Era tolerante porque via que a Tolerância religiosa, adotada na vizinha Polônia, era algo positivo. Tornou-se militarista por constatar que, a Polônia, um dos maiores países da Europa, tinha deficiências, por não possuir um exército profissional e permanente. Ele, Frederico Guilherme, iria criar um exército permanente e profissional para o seu pequeno Estado, pois era a única forma de sobreviver. E para manter esse exército profissional e permanente, era necessário ter dinheiro, que viria com uma administração eficiente da economia (mercantilismo).


ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "REINOS DESAPARECIDOS, HISTÓRIA DE UMA EUROPA QUASE ESQUECIDA", NORMAN DAVIES, EDITORA EDIÇÕES 70, páginas 385/423