segunda-feira, 19 de julho de 2021

Papas Perversos Doação de Constantino Synod Horrenda



PARTE 1

ROMA:

A tradição conta que a cidade de Roma foi fundada por Rômulo, no ano de 443 após a queda de Tróia. 

No século III d.C., o Imperador Aurélio construiu grandes muralhas para cercá-la, protegendo-a de seus inimigos. 

Fora dessas muralhas e do outro lado do Rio Tibre, nas encostas da colina do Vaticano, uma nova era começava. Era o cristianismo que ganhava força e seguidores e que viria a dominar "Roma nos seus anos vindouros." (página 13)

Na área que compreendia a Colina do Vaticano uma nova cidade viria a ser construída, na qual Nero iria construir uma área de lazer, "...onde no seu famoso Circo, e segundo a tradição cristã, o Apóstolo Pedro foi crucificado durante aquela noite de insana crueldade de 64 d.C..."(página 14).

Então, na mesma área em que Pedro foi sepultado, por volta do ano 160 d.C., "...um santuário humilde mas identificável marcava a sepultura, sobre a qual foi construída a primeira Basílica de São Pedro no começo do século IV." (página 14)

No início do século IX, a Basílica de São Pedro já contava com uma riqueza formidável. Mas mesmo com toda essa riqueza, ela permanecia desprotegida, fora das muralhas que protegiam a cidade de Roma. Aproveitando-se disso, os Sarracenos, no ano de 846, lançaram um ataque a Roma. A cidade de Roma, graças às suas muralhas, passou ilesa, mas a contígua região do Vaticano, que não era protegida, foi saqueada. As riquezas da Basílica de São Pedro foram saqueadas pelos muçulmanos. 

Apesar da Basílica de São Pedro situar-se no subúrbio de Roma, nas Colinas do Vaticano, por um bom tempo a sede da Igreja Católica, isto é, a residência do Bispo de Roma, o Papa, ficava em Roma, no Palácio de Latrão (do século IV até o século XIV). O Palácio de Latrão, originalmente, pertencia a uma rica família romana, os Laterani, daí o nome Latrão. Depois, o Palácio passou para as mãos do Imperador Constantino, que, por sua vez, depois de sua conversão ao Cristianismo, o repassou/doou para os Bispos de Roma.

"O Palácio de Latrão desempenhou seu papel honroso, embora limitado, como residência do Bispo de Roma durante uns 400 anos. Depois, em finais do século VIII, o elo tênue que ligava o Imperador à sua cidade titular foi quebrado, começando o Papado o longo caminho do domínio temporal e fazendo de Latrão o centro do domínio romano." (página 17)

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O Imperador citado acima é o do Oriente. Trata-se do Império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla, que deu origem ao Império Bizantino. A partir do Século VIII, portanto, os romanos do ocidente, com sede em Roma, começaram a se desvincular dos romanos do oriente, com sede em Constantinopla, antiga Bizâncio. 

PARTE 2

SEPARAÇÃO DOS ROMANOS DO OCIDENTE DOS ROMANOS DO ORIENTE:

"Em 328 d.C., Constantino transferiu a capital do Império Romano para a nova cidade de Constantinopla, alterando assim, inevitavelmente, o centro de gravidade do mundo romano. Gradualmente, o trono imperial foi ocupado exclusivamente por gregos, o latim cedeu lugar ao grego como língua oficial,..." (página 18)

Com a queda do Império Romano do Ocidente, a península itálica se viu repartida entre os novos reinos bárbaros e algumas áreas nas quais reinava o Império Romano do Oriente, com sede na cidade de Constantinopla, atual Istambul, na Turquia. Um desses locais que ainda eram dominados pelo Império Romano do Oriente era a cidade de Roma e seu entorno. O Bispo de Roma e os nobres locais, como resultado disso, eram súditos do Império Romano do Oriente, buscando nele a sua legitimidade. 

"Os grandes se irritavam sob o jugo. Era humilhante para o Bispo de Roma poder ser convocado a Constantinopla como qualquer funcionário." (página 19)

O Império Romano do Oriente, por meio de seu Imperador, exercia conjuntamente o poder secular e o poder espiritual. O Imperador então podia se meter em assuntos de Estado e em assuntos da Igreja. Por esse motivo, o Bispo de Roma se encontrava subordinado às ordens dadas pelo Imperador em Constantinopla, fossem elas sobre assuntos de Estado, fossem elas sobre assuntos religiosos. 

A relação entre Constantinopla e Roma ia bem até que, no ano de 726 d.C. (século VIII), um Édito iconoclasta, da lavra do Imperador Leão III, resultou numa oposição ferrenha por parte do Bispo de Roma. E os cristãos da Península Itálica se uniram ao Bispo de Roma nessa oposição ao Édito iconoclasta de Leão III.

Esse Édito de Leão III, que causou tanto descontentamento no Ocidente romano, dizia respeito à necessidade de se acabar com a adoração de imagens. A devoção às imagens deveria acabar em toda a cristandade. O Édito então ordenava que as imagens fossem destruídas em todo o Império, tanto no Oriente como no Ocidente. 

O Bispo de Roma, naquela altura, era Gregório II. Como já dito acima, ele protestou veementemente contra a destruição das imagens, dizendo que os cristãos não tinham trazido de volta a idolatria da Antiguidade, asseverando que os cristãos, ao contrário do que dizia Leão III, não adoravam as imagens, mas apenas "honravam-nas como memórias..." (página 20)

Por fim, o conflito em torno do Édito mencionado acima acabou descambando para uma guerra. Em 731, deu-se então uma cisão, com o Império Romano do Oriente perdendo influência e poder sobre a Itália.

"O Imperador (Romano do Oriente) e os seus teólogos eram rejeitados pela Itália e era inevitável que o Bispo de Roma preenchesse o vácuo de poder criado." (página 21)

PARTE 3

A DOAÇÃO DE CONSTANTINO

Aquilo que ficou conhecido como a "Doação de Constantino", foi na verdade uma falsificação feita por um funcionário papal, que atendia pelo nome de Cristóforo. 

Cristóforo pretendia criar uma narrativa por meio da qual a coroa do Império Romano iria para o Papa. Para tanto, Cristóforo baseou-se na figura lendária de São Silvestre.

Conta a lenda que o então Imperador Romano Constantino teria ficado doente, vitimado pela Lepra. Então Constantino teria tido uma visão, na qual lhe foi dito para chamar São Silvestre, que era então o líder dos cristãos em Roma. Pela visão, somente São Silvestre poderia curá-lo. Então São Silvestre foi se encontrar com Constantino, ao qual recomendou que se batizasse. Após ser batizado, como que por um milagre, Constantino curou-se da lepra e, como pagamento, ordenou que Cristo fosse adorado em todo o Império Romano. Ordenou ainda a arrecadação de dízimos para a construção de Igrejas pelo Império e ainda doou o Palácio de Latrão para São Silvestre e para os bispos de Roma que viessem a sucedê-lo. 

"A lenda, embora fantasiosa na atribuição do motivo (cura da lepra de Constantino), não se afasta muito dos pormenores conhecidos do fato - a doação do Palácio de Latrão, a construção de basílicas, a suprema condição religiosa atribuída à Cristandade." (página 22/23)

Mas a narrativa de Cristóforo foi além disso, colocando na boca de Constantino o que ele não disse, buscando assim dizer que Constantino teria transferido a coroa imperial romano para São Silvestre e para os bispos que viriam a sucedê-lo. 

"Cristóforo fez parecer que a Coroa Imperial havia sido realmente dada a São Silvestre, mas que este a recusara por não ser adequada para o detentor do ministério espiritual, e, em vez disso, havia aceitado um simples barrete frígio branco, humilde antecessor da grande tiara tripla. No entanto, o fato de a Coroa Imperial ter sido oferecida implicava que Constantino a viria possuir somente com a permissão do Papa." (página 23)

A Doação de Constantino foi usada a favor do Papado quando a Itália se viu acossada pelas invasões do Lombardos. Paralelamente a isso, o Império Romano do Oriente perdia força na Itália, vendo seus territórios sendo tomados pelos Lombardos. 

Em meio a tudo isso, o Bispo de Roma, o então Papa Estevão, resolver ir pedir ajuda ao reino dos Francos. Dessa forma, no ano de 755 d.C. (século VIII), Papa Estevão atravessou os alpes e foi se encontrar com o rei dos Francos, Pepino. Com sua lábia e com a Doação de Constantino a tiracolo, Papa Estevão conseguiu fazer de Pepino seu aliado contra os Lombardos. Os Francos então invadiram a Itália e derrotaram os Lombardos. Ainda ignoraram o pedido de ajuda dos Bizantinos. Pepino, com efeito, só tinha um aliado na Itália: o Papado. Assim, Pepino, acreditando na narrativa da Doação de Constantino, concedeu ao Papa o que viria a se tornar os Estados Papais, também conhecido como patrimônio de São Pedro. Essa concessão de terras dos Francos para o Papado foi feita com base na falsificação da Doação de Constantino, convertendo o Papa num senhor feudal, conferindo ao seu cargo um valor financeiro. O Papa então passou a possuir não só as chaves do céu como as chaves de várias cidades, que se encontravam  no interior dos Estados Papais. Com todo esse poder financeiro e espiritual nas mãos, o cargo de Papa passou a ser ambicionado pelos poderosos da época. 

Com o novo status adquirido, a posição de Papa passou a ser disputada por meio de lutas que redundaram até em assassinatos. Matava-se e morria-se pelo cargo de Papa.

Luta de vida e morte para se tornar Papa:

Um exemplo dessa luta pode ser encontrada num evento, que passou para a história com o nome de Synod Horrenda

A luta pelo cargo de Papa, como dito acima, se tornou tão disputada, que chegou-se ao cúmulo de se realizar o julgamento de um Papa que já tinha morrido. 

Assim, no ano de 896 (século IX), durante aquilo que se passou a chamar de Synod Horrenda, o então Papa Estevão VII decidiu realizar o julgamento de seu antecessor e inimigo, o Papa Formoso, que já tinha morrido. Estevão VII mandou que o corpo de Formoso fosse desenterrado e trazido para julgamento. Então foi encenado um julgamento, com a presença do cadáver desenterrado de Formoso. O objetivo de Estevão VII, ao vilipendiar a memória de Formoso, era o de atacar os aliados deste, que ainda estavam vivos e ativos e que lhe faziam oposição. Estevão VII e Formoso, com efeito, faziam parte de facções opostos, que se odiavam e que lutavam pelo cargo de Papa. 

E havia mais um benefício para quem se tornava Papa, pois o Papado contava agora com a proteção do monarca germânico. Num primeiro momento, quando ainda era vivo Carlos Magno, então Rei dos Francos, filho de Pepino, no ano de 800 d.C. ele foi Coroado Imperador do Ocidente, pelo então Papa Leão III. A partir do ano 800 havia dois Impérios, um do Ocidente, com sede na cidade alemã de Aachen, e aquele do Oriente, com sede em Constantinopla.

Com a criação do Império do Ocidente, que viria a se tornar no futuro o Sacro Império Romano Germânico, o Imperador e o Papa passaram a ser vistos como os dois vigários de Cristo, o primeiro brandindo a espada temporal, enquanto o segundo brandia a espada espiritual, num Império Sagrado. A relação entre esses dois vigários de cristo iria se mostrar extremamente tumultuada. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "PAPAS PERVERSOS", RUSSEL CHAMBERLIN, A HISTÓRIA COMO ROMANCE, EDITORA EDIÇÕES 70



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