quinta-feira, 29 de julho de 2021

Genocídio de Ruanda 1994 Tútsis Hútus




MITO DAS ORIGENS DOS TÚTSIS, HÚTUS E TWAS:

De acordo com o Mito oralmente transmitido de geração em geração, os Hútus (Gahutu), os Tútsis (Gatutsi) e Twas (Gatwa) seriam filhos daquilo que teria sido o primeiro homem, "...irmãos, uma única semente, um único sangue." (página 25)

Ainda segundo o mito, o deus Imana teria colocado esses três irmãos para competirem entre si, sempre acontecendo de Gatutsi se sair melhor nessa competição. Dessa forma, o próprio mito tratou de estabelecer uma diferença hierárquica entre Tútsis (Gatutsi), Hútus e Twas.

A HISTÓRIA REAL SOBRE OS TÚTSIS, HÚTUS E TWAS:

A origem dos Tútsis remonta ao século XV. Eram criadores de gado vindos das terras que hoje constituem a atual Etiópia. Como o gado simbolizava a força e o poder, os Tútsis acabaram por se constituir na aristocracia local. 

"Quase todos os livros sobre Ruanda falam a respeito disto, mas é preciso reiterar: o Rei de Ruanda, Mwami, sempre foi um Tútsi. Alguns estudiosos da cultura afirmam que isso ocorre pelo menos desde a passagem do século XI para o XII, quando Gihanga, o criador do país, e da bovinocultura, estava no trono. Mas a maioria dos historiadores inclina-se à teoria de que os Tútsis vieram para cá das terras da atual Etiópia, pela bacia do Nilo, no século XV. Eles trouxeram as vacas. " (página 26)

Abaixo dos Tútsis, havia os Hútus e os Twas, habitantes originais do que hoje é Ruanda. Os Hútus eram camponeses e os Twas viviam da coleta e do trabalho na terra. 

"O pastor Tútsi era o patrão do Hútu. Dava ao camponês proteção e estabilidade." (página 27)

Apesar essa diferença no status social, Tútsis, Hútus e Twas formavam uma mesma comunidade, que atendia pelo nome de Banyarwanda. 

"Todos falam a mesma língua, creem nas mesmas coisas, comem a mesma comida, constroem da mesma maneira e moram do mesmo jeito. Na mesma terra." (página 25)

A mesma terra, leia-se, a atual Ruanda, no centro da África. 

"Uma comunidade, uma nação. Mas dividida - como talvez disséssemos na Europa - em classes ou estados sociais. Não em grupos étnicos." (página 28)

Talvez ainda Tútsis, Hútus e Twas poderiam ser enquadrados no modelo de castas no estilo existente na Índia.

ÉPOCA DA COLONIZAÇÃO EUROPEIA NA ÁFRICA:

Antes da colonização europeia, não havia conflitos importantes entre Tútsis, Hútus e Twas. 

"Quando era necessário lutar em nome do rei, todos lutavam juntos." (página 34)

Os primeiros colonizadores europeus, onde hoje situa-se o moderno Estado de Ruanda, foram os alemães. Com o final da Primeira Guerra Mundial, os alemães foram substituídos pelos belgas.

E foram os belgas que dividiram os Tútsis, Hútus e Twas em termos raciais. Nesse novo contexto, os Tútsis então seriam, na visão dos colonizadores europeus, os "...inteligentes, delicados, belos, não totalmente brancos, mas também não totalmente negros." (página 36)

Os Tútsis, ouviram dos colonizadores europeus que, ao contrário dos seus vizinhos, os Hútus, não eram macacos e, rapidamente, passaram a acreditar em sua superioridade. Os Tútsis passaram a se ver como uma raça superior. 

Já os Hútus foram rotulados como sendo os negros na acepção do termo, com seus olhos que pareciam com os de um chimpanzé, o nariz achatado, etc. E, por fim, havia o pequeno grupo dos Twas, que era constituído pelos pigmeus, que viviam geralmente na floresta, como coletores.

"O colonizador belga completou esse trabalho no início dos anos 30, quando introduziu os documentos de identidade de Ruanda. Esse fato é considerado o momento da divisão definitiva. Desde aquela época, até o genocídio de 1994, todos os ruandeses tinham sua raça inscrita na carteira de identidade: Tútsi, Hútu ou Twa." (página )

INDEPENDÊNCIA DE RUANDA:

Os Tútsis governavam Ruanda, então uma colônia belga. Quando os Tútsis começaram a declarar o desejo de independência, os belgas se uniram aos Hútus para derrubar o governo Tútsi. 

Com os Hútus no poder, os Tútsis começaram a deixar Ruanda (década de 50 do século XX). Nessa mesma época, os Tútsis que ficaram passaram a ser alvos de perseguição, um embrião do que seria o Genocídio de 1994.

A independência de Ruanda veio em 1962, sob o comando dos Hútus. Mas os Hútus não apenas governavam Ruanda, como brigavam entre si. Em 1973 houve um golpe de estado, com a instauração de um regime de partido único, representado pelo partido Hútu, com a Presidência de Juvénal Habyarimana.

Os Tútsis que tinham se exilado de Ruanda, enquanto isso, criaram a Frente Patriótica Ruandesa - RPF (Rwandan Patriotic Front). "

Entre os líderes da RPF, estava o atual Presidente de Ruanda (quando esse livro foi escrito), Paul Kagame.

O objetivo da RPF era retomar o país. Para isso, empreenderam uma guerrilha, que começou em outubro de 1990. 

CONTAGEM REGRESSIVA PARA O GENOCÍDIO DE 1994:

Em Ruanda, no início dos anos 90 do século XX, os partidários de Juvénal Habyarimana criaram uma atmosfera de medo pela aproximação da RPF da capital do país, Kigali. O medo se estendia para os Tútsis locais, que então passaram a ser vistos como uma espécie de quinta coluna da RPF, esperando pela chegada dos guerrilheiros da RPF. 

Em resposta a essa ameaça, os Hútus, com a ajuda do governo do país, criaram uma milícia, a Interhamwe, que significa Unidade. Era composta por pessoas comuns. Tinha por objetivo eliminar os Tútsis de Ruanda. A iniciativa para a criação da Interhamwe veio do clã do Presidente Juvénal Habyarimana. 

Com o decorrer da guerra, a RPF passou a ocupar uma parte do território de Ruanda, no qual também cometia atrocidades contra os Hútus locais. 

Em 1993, uma iniciativa para pacificar Ruanda, tendo a ONU como intermediária, tentou estabelecer um sistema de convívio pacífico entre o governo Ruandês, governado pelos Hútus, e a guerrilha Tústi representada pela RPF. Na esteira dessa tentativa de pacificar Ruanda, um governo provisório foi criado. O Presidente Juvénal Habyarimana permitiu a participação de partidos de oposição. Mas ao tempo que essas iniciativas eram colocadas em prática, na surdina, o governo Hútu elaborava listas com nomes de Tútsis que deveriam ser eliminados. Dinheiro do governo importou milhares de facões da China que seriam usados no Genocídio de 1994. A Rádio Mil Colinas, enquanto isso, amedrontava a população Hútu, dizendo que os rebeldes da RPF estavam se aproximando da capital do país, Kigali. A Rádio ainda espalhava que os guerrilheiros da RPF iriam estuprar as mulheres dos Hútus e iriam confiscar suas terras.

ESTOPIM DO GENOCÍDIO DE 1994:

Com esse pano de fundo, descrito acima, veio então aquilo que constituiu o estopim que deu início ao Genocídio de 1994. Na noite de 6 de abril de 1994, o avião que trazia a bordo o então Presidente do país, Juvénal Habyarimana, foi derrubado, quando sobrevoava a capital Kigali. Até hoje não se sabe o autor do atentado, mas na época todos culparam os Tútsis.

Então, todo o medo, todo o ódio e preconceitos, represado por anos, foi liberado, com os Hútus saindo à caça dos Tútsis, dando origem ao Genocídio dos Tútsis pelos Hútus  no ano de 1994.

"As crianças, antes de morrer, tinham de olhar suas mães serem estupradas (os netos - suas avós serem estupradas). Os homens olhavam suas esposas serem estupradas (os avós - suas netas). E enfiarem garrafas entre suas pernas. Era assim que com mais frequência matavam as mulheres tútsis: com um golpe na barriga e embaixo. Antes de morrerem assistiam à morte de seus filhos. E de seus pais também."(página 16)

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO "HOJE VAMOS DESENHAR A MORTE", W.L. TOCHMAN, EDITORA ÂYINÉ



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