quinta-feira, 11 de julho de 2024

A Morte de Stalin Uma História Soviética Real em Quadrinhos


 

A AGONIA DE STÁLIN:

Era final de fevereiro de 1953. Stálin estava no seu quarto, na sua Datcha, prestes a colocar um disco na vitrola quando teve um derrame.

A primeira pessoa a ver Stálin estirado no chão foi sua empregada, que achou que ele estivesse bêbado. Pediu ajuda a um guarda. O guarda colocou Stálin num sofá e foi embora correndo. Provavelmente ele seria fuzilado se Stálin viesse a se recuperar e soubesse que ele o tinha visto naquele estado deplorável. 

A empregada viu que a coisa era séria e telefonou para o Chefe da Guarda, que por sua vez ligou para Béria. Lavrenti Béria, de 54 anos, Membro do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética e Ministro do Interior. 

Béria

No momento do telefonema, Béria estava estuprando uma de suas funcionárias. Ao ser perguntado pelo Chefe da Guarda se deveria ser chamado um médico, Béria disse que não. Ninguém deveria tocar em nada. Béria, obviamente, não estava preocupado com a vida de Stálin. 

Béria chegou à Datcha de Stálin, sem antes mexer nos documentos do chefe. Eram os dossiês de Stálin. Nenhum médico foi chamado. Béria ligou então para Malienkov, dizendo-lhe que Stálin estava à beira da morte. Geórgi Malienkov, de 51 anos, era membro do Comitê Central do PCUS. Era secretário-geral adjunto. Ao chegar à Datcha de Stálin, Malienkov perguntou sobre os médicos, ao que Béria respondeu: "Não é de minha responsabilidade, de acordo com o último congresso do Partido. É você, Malienkov, o novo Secretário-Geral, que deve chamar os médicos." 

Malienkov, suando frio, afastou de si essa responsabilidade. Disse que seria preciso convocar um comitê para decidir sobre o acionamento de ajuda médica para Stálin. Assim, os outros membros do comitê foram chamados. Aos poucos, eles foram chegando.

O primeiro a chegar foi Nikita Kruschev, de 59 anos, membro do Comitê Central do PCUS. Na sequência, vieram Mikoyan, Kaganovitch e Bulganin. Todos eles se reuniram em torno do corpo de Stálin. Ele ainda estava vivo. Mas nada de um médico. O comitê precisava decidir sobre o óbvio: chamar um médico para tratar de um doente. O comitê então deixou o moribundo Stálin e se reuniu em torno de uma mesa para decidir. O problema é que o próprio Stálin, um pouco antes, tinha mandado prender, matar ou deportar os melhores médicos do Kremlin. Uma médica teria denunciando uma conspiração sionista que tinha como objetivo o assassinato de Stálin, daí o expurgo realizado por ele. 

Todos ali tenham medo de indicar algum médico. Béria então trouxe a solução: "Precisamos fazer uma lista de todos os médicos acima de qualquer suspeita. Cada um de nós deverá assinar a lista. Convocaremos então esses médicos."

A lista foi feita. Agora era procurar os médicos e trazê-los para a Datcha de Stálin. Nesse ínterim, começavam as conspirações em torno de quem iria assumir o lugar de Stálin. Havia dois candidatos: Béria e Kruschev.

Béria disse a Malienkov: "Faz tanto tempo que eu espero por isso. Durante anos suportei todos os caprichos desse velho senil, evitei suas armadilhas, chegou a hora, Georgi, a minha hora."

Os médicos, depois de examinarem Stálin, todos amedrontados, chegaram à conclusão de que ele teria sido vítima de uma hemorragia cerebral, que teria atingido partes vitais de seu cérebro. Seu lado direito estava paralisado. Coração funcionava com dificuldade. E como ele tinha ficado por várias horas sem atendimento médico, os prognósticos eram ruins. 

A filha e o filho de Stálin foram chamados. O filho de Stálin, general Vassíli, estava numa orgia regada a bebida e sexo. 

Ainda naquele dia, mais um membro do comitê do PCUS chegou à Datcha de Stálin, era Molotov, de 63 anos, Ministro das Relações Exteriores, conhecido pelo Pacto Ribbentrop-Molotov, de 23 de agosto de 1939. Esse Pacto causou furor na época, ao unir dois inimigos históricos, Hitler e Stálin. Hitler e Stálin dividiram a Polônia entre si. Stálin ganhou tempo e Hitler viu-se livre para atacar a França. 

Stálin finalmente morreu. Estava dada a largada para ver quem iria sucedê-lo. Béria e Kruschev disputavam a vaga. 

Béria estava confiante: "Tenho 1 milhão de homens sob minhas ordens. Tenho os dossiês de Stálin. Eles são meus. Todos estão em minhas mãos e não sabem disso. Em breve terei o poder."

A SUCESSÃO DE STÁLIN:

A notícia da morte de Stálin espalhou-se pelo mundo todo. 

Em março de 1953, o Comitê do PCUS se reuniu para decidir sobre o futuro da URSS sem Stálin.

Comitê formado por sete pessoas. Todas aquelas que foram chamadas à Datcha de Stálin quando de sua morte. Além delas, estava presente um herói russo, o Marechal Jukov, representando o Exército Vermelho. Muita roupa suja foi lavada durante a reunião. Ameaças foram feitas. Estava em jogo o futuro da URSS. Quem seria o seu novo líder? Mas essa decisão ficou para depois. Naquele momento, foi decidido que Kruschev ficaria responsável pelo funeral de Stálin.

Durante o funeral, houve um contratempo. Muitas pessoas foram à Moscou para ver o funeral. Num determinado local, houve um tumulto, que só foi solucionado pelo uso da força. Pessoas simples acabaram morrendo. 

Marechal Jukov

Enquanto isso, Béria seguia confiante, mas seu adversário, Kruschev, agindo de forma cautelosa e sábia, foi conseguindo aliados, dentre eles, o general Jukov, herói russo na vitória sobre os nazistas, e Molotov, o Ministro do Exterior. Molotov odiava Béria, pois este havia prendido sua esposa, acusando-a falsamente de um crime qualquer. 

Molotov

Houve, por fim, mais uma reunião do Comitê Central do Partido Comunista da URSS. A sorte estava lançada. Kruschev havia preparado uma cilada para Béria. O exército vermelho, sob o comando de Jukuv, iria ajudá-lo. Durante a reunião Béria começou a ser atacado pelos seus colegas. Ele teria traído os interesses da União Soviética em nome dos interesses capitalistas, etc. Essas acusações eram padronizadas, usadas contra qualquer pessoa que já não se prestasse aos interesses do regime. Então, aproveitando-se desse clima de acusação, Kruschev acionou Jukov e seus soldados, que invadiram a sala do comitê e prenderam Béria. A autoridade do Marechal Jukov, herói da URSS na vitória sobre a Alemanha Nazista, era incontestável. Tratava-se de um aliado fortíssimo para Kruschev. 

Ao ser ver aprisionado, Béria pensou consigo mesmo: "Sempre soube que esse dia chegaria. Pensei muito nele. Sobretudo nesses últimos anos, quando Stálin pensava em me descartar. Eu mesmo selei o destino daqueles que me precederam. Não posso me iludir. Sei que amanhã vai sair no Pravda (principal jornal da URSS), esse jornaleco que tantas vezez teceu loas para mim, um comunicado preparado há muito tempo, que vai anunciar que a justa sentença do Tribunal Popular foi aplicada e que o tirano, o assassino, o criminoso, o espião, o agente imperialista - ou seja, todas essas calamidades de nosso belo mundo - Lavrenti Béria foi executado."

Béria, de carrasco passou para vítima. Acabou sendo vítima de seus próprios métodos. Foi fuzilado. 

Stálin foi sucedido por Nikita Kruschev, que recordaria depois: "Todos nós, em torno de Stálin, éramos condenados em liberdade condicional." 

Na corte de Stálin, o medo e a mais abjeta servidão vicejavam por todos os lados. 

ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DA LEITURA DO LIVRO A MORTE DE STÁLIN, DE FABIEN NURY E THIERRY ROBIN, EDITORA TRÊS ESTRELAS. 


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